Na sequência de dias sombrios e temporadas difíceis, nestes dois últimos anos que vivemos, muito foi adiado e muito foi projetado para o futuro. Quanto de esperança investimos nesse jogo? Como nos comportamos diante disto?Precisamos entender que ter esperança é acreditar que alguma coisa muito desejada vai acontecer. E esta esperança pode ser fundamentada ou baseada em alguma utopia, algo que dificilmente será alcançado. Em sentido figurado, a palavra esperança surge quando diz respeito a alguma pessoa na qual é colocada um elevado grau de expectativa ou em algum fato na eminência ou possibilidade de acontecer.
Interessante que a palavra “esperança” tem sua origem no latim. Ela é derivada de “spes”, que significa “confiança em algo positivo”; mesmo com todas as chances de não dar certo, a esperança alimenta espera por uma virada de mesa surpreendente que altere o rumo desagradável da situação. Influencia positivamente na espera para uma solução favorável, mesmo que diante de muita dificuldade e problemas para ocorrer. Soa credibilidade diante de tantas incertezas.
Estar confiante mesmo diante de problemas e situações difíceis traz a crença por dias melhores, para relações mais amenas, para soluções mais tranquilas, pois é inspiradora, doce, singela e especial, oferecendo um misto de certeza e de magia, que muda o tom da espera, somente por estar repleta de significados e embutida em diferentes realidades, que favorecem o tempo de espera e as estratégias de busca.
A esperança nos permite ter forças e ousadia para tentarmos outra vez, mesmo quando a situação ou a proposta ou ainda o mundo nos disser para desistirmos. Tal coragem nos amplia a possibilidade de criar expectativas positivas e, assim, passamos a acreditar que sempre haverá uma saída; é a proposta que nos leva a entender que não há mal que dure para sempre. Quando estamos esperançosos, sabemos que a qualquer momento coisas boas podem acontecer e que as resoluções tenderão a ser favoráveis.
Confiar que algo de melhor pode acontecer, então, é uma força que nos move para momentos de espera assegurada; confiar nos ensina a ver além daquilo que não se vê, que não se ouve, que não se sente. Uma atitude fundamentada em algo mais espiritual do que afetivo e cognitivo e, ficção à parte, o apelo à esperança está por toda parte:é difícil enxergar os traços menos bom da esperança, porque máximas como “A fé move montanhas”, “quem espera, sempre alcança”, a “esperança é a última que morre” fazem parte da nossa cultura de tradição cristã.
Sempre a tradição cristã. A gênese dessa crença é que a esperança compõe — pareada com a fé e o amor — as três virtudes teologais, o tripé que rege, motiva e é objeto imediato da nossa relação com Deus. Diante da nossa tradição cristã aprendemos que devemos que amar ao próximo, ter esperança na vida depois da morte física e muita fé para manter a certeza desse caminho. E, então, por consequência, essa prática garante-nos o agir bem e a felicidade.
Porém, hoje, com mais idade e maior experiência na Vida, a minha concepção de esperança recebeu outro olhar: passo a perceber que devo, sim ter esperança e que devo cultuá-la de modo a me oferecer espaços e avanços para minha caminhada, mesmo diante do impossível. Vou dar exemplos antes de concluir: espero que a humanidade se conscientize da necessidade da máscara e vacina, espero que o governo enxergue a necessidade da vacinação para todos, espero que a Educação seja melhor concebida e fortaleça o homem no futuro.
Mas estas esperanças sempre soam com um viés de desafio e de incerteza, pois também sei que a humanidade não mudou, que o Homem não fez seu dever de casa, que a pandemia não melhorou ninguém, que os políticos continuam a olhar para seus próprios umbigos e, então, a esperança apresenta um ar de utopia, de fragilidade diante do real social, de esotérico inalcançável, configurando um quadro de quase esquizofrenia. Como fazer para garantir a sanidade, diante disso?
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Está claro que precisamos manter nossos domínios cognitivo e afetivo plugados e antenados diante de tudo, sem perdermos a essência da bondade e da fraternidade, mas é claro também, e por isso mesmo, óbvio, que não podemos acreditar que pedras darão leite, que mula-sem-cabeça existe e que Saci Pererê se aprisiona com peneira: isso seria alucinação. Desta maneira, a esperança será um elemento a mais que nos conduzirá rumo aos nossos objetivos, mas haverá necessidade de discernimento e sabedoria para que não se espere o impossível, nem que se almeje o raro, acreditando que poderes mágicos nos sustentarão e serão suficientes para nos transformar na pessoa mais plena e feliz do Planeta.
A esperança é providencial, mas se for adotada fora da medida, será tão danosa quanto uma dose de veneno. Escolha como pretende viver com esta esperança e faça dela uma alavanca para atingir, com eficácia todos os projetos sonhados. Até os mais impossíveis. Não espere por milagres (isso é do campo da espiritualidade) quando envolver humanos, estes são muito imprevisíveis. Lamentavelmente imprevisíveis. A Esperança nos ajuda a viver com tamanha imprevisibilidade.(Foto: www.tiempodederechos.mx)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport
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