As habilidades atléticas que requerem coordenação complexa, movimentos executados com precisão e concentração intensa podem ser facilmente prejudicadas pela presença de observadores, até mesmo se estiverem bem aprendidas. Isso implica em dizer que nem todos enfrentam a torcida com a mesma disponibilidade e que nem todas as torcidas são iguais. Neste ponto entram as emoções.
Ressaltamos que a torcida, na casa, pode ter diferentes interpretações dependendo do nível do jogo, da temporada, do momento daquele jogo, para a equipe. Desta maneira, ser a favor ou contra, interferem de modo velado, mas comprovadamente exercem suas influências.
A demonstração de qualquer habilidade, uma vez desenvolvida a um alto grau de proficiência deveria ser afetada favoravelmente por uma audiência que desse apoio, que fosse a favor daquele atleta ou equipe. Sem dúvida, o comportamento hábil não deveria ser desestruturado pela presença de espectadores, quer passivos, ativamente encorajadores ou altamente odiosos, mas isso não ocorre. Ocorre, sim, uma avaliação macro do contexto e a partir daí as considerações começam a ser delineadas.
Ressaltamos que desempenhos de atletas hábeis são relativamente estáveis, consistentes e predizíveis. Eles aprenderam como se desempenhar bem sob todos os tipos de condições, favoráveis ou desfavoráveis. É por isto que são chamados “hábeis”. Eles aprendem a responder à competição sob um estado emocional ideal, diante do qual pouquíssima motivação ou superestimulação teriam forças para prejudicar o desempenho.
Assim, de acordo com essa consideração, atleta que possui um alto nível técnico e preparado psicologicamente, dificilmente se deixará influenciar por provocações e insultos de espectadores, e consequentemente, não será atingido pelos seus manifestos.
A influência do espectador repercutirá no atleta de maneira significante, dependendo do nível de aprendizagem em que ele se situa. Aos atletas que estão em estágio inicial de aprendizagem, a influência do espectador poderá repercutir de maneira prejudicial em seu desempenho, visto que eles não estão ainda preparados para depararem-se com grandes públicos, nem a responder acertadamente em grandes eventos.
Por outro lado, os atletas que estão em um estágio intermediário de aprendizagem, podem apresentar um desempenho levemente prejudicial ou ligeiramente favorável, e atletas que já possuem um alto nível de habilidade, terão desempenhos favoráveis ou então sem nenhuma influência significativa, diante das influências dos espectadores.
No entanto, dependendo do contexto vivido, naquela ocasião, pode ocorrer de termos todos fragilizados e debilitados para a participação esportiva, em função de um quadro emocional instável. Dentre as influências interiores podemos citar a motivação ou a desmotivação para o sucesso, o medo da vitória ou da derrota, sua realização pessoal, o reconhecimento, necessidade de manter “status”, a auto-afirmação, a auto-regulação, a concentração.
Várias são as razões pelas quais os atletas atuam nos esportes, assim como seu comportamento e rendimento podem apresentar-se de diferentes maneiras. O atleta que se sente seguro, preparado para enfrentar o adversário, tanto fisicamente quanto psicologicamente, terá mais condições de se confrontar com a vitória ou com a derrota, podendo alcançar sua auto-realização. O público poderá não afetar a performance deste atleta, uma vez que ele se encontra em equilíbrio emocional.
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Em relações motivacionais, o público poderá desmotivar ou motivar, sendo uma torcida adversária ou uma torcida a seu favor, isso é o que menos conta. Muitos atletas preferem atuar com o público criticando e perturbando, melhorando seu desempenho. Por outro lado, temos aqueles que não se sentem motivados quando a torcida o agride, vindo a atuar de maneira inadequada, necessitam do prestígio do público para atingir sua performance. Isto está relacionado com a personalidade de cada atleta e o grau de aceitação da crítica.
É razoável que alguns atletas posam ter uma atuação melhor na presença de público, enquanto para outros isto é indiferente. Tal comportamento pode estar relacionado aos conceitos motivacionais que o atleta considera importante, que faz com que esteja motivado a um melhor desempenho com a presença do público prestigiando-o.
Da mesma maneira que uma equipe poderá sentir-se mais motivada após uma vitória, procurando cada vez mais a obtenção de sucesso, com uma derrota poderá perder o estímulo afetando em seus desempenhos posteriores. Os esforços de atletas para obterem performance, tornarem-se mais habilidosos tecnicamente, e desta maneira subirem na escala social, são comportamentos motivados, parcialmente, pelo desejo de prestígio concretizado pela aceitação da torcida, que pode vir a acontecer a qualquer momento, em qualquer lugar e com qualquer atleta.
O atleta poderá aumentar as expectativas depois de vitórias ou as diminuirá após derrotas, poderá alcançar, através da vitória, o seu lugar na equipe titular, ser aceito diante do grupo e técnico, após ter atuado de maneira aplausível em uma partida considerada difícil por todos. Como poderá perder seu posto, diminuir seu rendimento de treinamento e, aos poucos, rever sua posição e subir vertiginosamente; não existe uma regra para essas situações.
Cabe inclusive lembrar que o atleta pode “criar” um agravamento qualquer de saúde para se ver livre de ter que tomar decisões e buscar soluções para os problemas da equipe; isso não é fácil de resolver e não se constitui problemas psíquicos. A maneira como se comportam algumas pessoas, em determinadas situações, depende muito das condições especiais deste contexto, indiscutivelmente.
As diferenças individuais não são causais, mostrando uma certa estabilidade no sentido histórico da vida; para cada situação concreta não existe um motivo próprio, estabelecido ou preparado. Os motivos são, mais do que nada, disposições valorativas altamente generalizadas por situações básicas individuais, que se fundamentam na forma da conservação da existência, conforme algumas condições vitais.
Ao avaliarmos a influência das tensões no desempenho do atleta, consideramos os seguintes fatores: 1) deve-se avaliar o estado de excitação emocional do indivíduo juntamente com suas aptidões físicas necessidades psicológicas. 2) É interessante obter informações acerca da natureza objetiva da tensão.
Neste quadro temos ainda mais fatores: 3) O mais importante: a interpretação que o indivíduo dá sobre a tensão e seus sentimentos a respeito devem ser avaliados diretamente ou indiretamente, visto que não se tem total conhecimento sobre o adversário; 4) Podem-se empregar diversas medidas fisiológicas para cansaço e 5) Os requisitos para o desempenho, considerando as prováveis flutuações do desempenho.
Desta maneira, sinais de nervoso no comportamento (úlcera, aumento de pressão arterial, tremor muscular) e outros sinais do sistema nervoso autônomo (insônia, problemas alimentares) podem sugerir que o atleta esteja estressado. Esse cansaço pode estar relacionado aos estados de tensões, como competições importantes, exercícios difíceis, pressões provenientes de torcedores, amigos, técnicos, família, objetivos impostos, problemas financeiros e profissionais, e também pelas flutuações no desempenho, aumentando ou diminuindo seu desempenho, variação frequente de “sucessos” e “fracassos”.
Existem muitos comentários e ensaios sobre aauto regulação. Entretanto, auto regulação refere-se a sentir-se bem e pronto. Envolve ambos os pontos que compõem a mente para sentir-se bem para a competição tão bem quanto ter sensações corporais de que está tudo bem. Portanto, é muito importante que o atleta tenha o domínio de si mesmo, que consiga trabalhar com o sentimento de vitória e sentir-se bem para que possa concentrar na atividade realizada, mantendo um controle de seu pensamento positivo e controle de sua energia interna para uma utilização máxima.
Entretanto, a concentração, algumas vezes, é muito difícil de ser atingida e mantida. Existem muitos aspectos diferentes envolvidos na perda de concentração, e é necessário identificar quais aspectos são importantes. Algumas vezes, esta é perdida porque a atenção é desviada por outros fatos. Alguns atletas, por exemplo, têm sua atenção tomada por várias coisas acontecendo em volta deles: eles observam as atitudes e o barulho do público e, às vezes, até gostariam de saber o que está acontecendo; ouvem os técnicos, prestam atenção aos diversos atletas, e acham difícil se concentrar na preparação de sua própria ação, até prestam atenção ás palavras do técnico adversário.
Por uma questão de sistematização, ao relacionar as várias premissas importantes a respeito da atenção e do desempenho atlético, levantou-sehipóteses de que há um melhor desempenho quando a atenção requerida por determinada tarefa coincide com o tipo e direção da atenção despendida naquela tarefa pelo atleta e de que as qualidades de atenção necessárias ao atleta podem ser classificadas em duas escalas: (a)uma que descreve se o atleta está prestando atenção principalmente a si mesmo, uma escala de interna-externa; (b)uma escala descrevendo a amplitude da atenção que o atleta estará experimentando no momento, ou, a quantidade de estímulos aos quais o atleta pode responder. Estas posições ajudam-nos a entender o estado atencional de nossos alunos e atletas, mas não nos possibilita organizarmos suas atenções ou desempenhos.
Para Schmidt, a atenção está relacionada às capacidades de processamento de informação que colocam limites sobre o desempenho humano habilidoso.O atleta pode desviar sua atenção para os manifestos do público (favorável ou não), desde que esteja ciente de que esta pode influenciar em sua atuação, e que ele conseguirá atuar ajustando o seu nível de excitação com os manifestos recebidos.
Desta forma, quando as condições mudam,podemos esperar que a presença de pressão mude de acordo com a situação, os seus níveis de ansiedade também mudarão. Assim, temos que o nível tanto de ansiedade de estado como o de ansiedade de traço dos atletas deverão produzir efeitos razoavelmente predizíveis em seu desempenho esportivo, dependendo da natureza da atividade, onde ela está sendo desenvolvida e em que condições se desenvolvem.
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A sensibilidade do técnico ao temperamento emocional do atleta e natureza (complexidade) das atividades a serem desenvolvidas serão válidas em termos de estratégias motivacionais. As técnicas motivacionais são geralmente, aplicáveis a todos os tipos de atletas, inclusive em função das torcidas que se apresentarão. Assim, o esporte é um campo de ação onde surgem, frequentemente, fortes emoções e onde os processos emocionais desempenham papel relevante. Os sentimentos provocados pelas competições são vivenciadas não só pelos participantes diretos como também por numerosos observadores e espectadores.
Ao considerarmos as expressões da emoção, mencionamos que distingem-se três formas diferentes de sentimentos de emoções:A forma de vivência emocional: o atleta vivencia a alegria da vitória ou a decepção da derrota; A forma do comportamento emocional: o atleta comete uma agressão ao adversário ou abraça o companheiro por ter obtido êxito em uma jogada ou lance e A forma de transformação fisiológica no corpo: o atleta treme de medo da prova difícil ou das conseqüências do fracasso.
Diante destes impasses, vale aindaressaltar, que ao lado destas três formas que expressam processos emocionais, podemos distinguir quatro dimensões dos efeitos da ação e vivência da emoção que nos possibilita melhor entender a potencialidade com que nossos atletas estão se empenhando, em quadra: a Intensidade: o atleta está satisfeito com o resultado esperado (pouca intensidade), ou está extremamente contente pelo sucesso inesperado (bastante intensidade).
A Tensão: quando o resultado da ação desportiva do desempenho, no movimento ou na ação iniciada é incalculável, a tensão e o conseqüente impulso para a ação ficam especialmente grandes. Temos aNuança de prazer ou desprazer: sentimentos de alegria, orgulho, satisfação, etc., têm a nuança do prazer, enquanto que os sentimentos de medo, vergonha, raiva, dor, etc. têm nuanças de desprazer.
E, para finalizar, a Complexidade: nas situações desportivas raramente predomina apenas uma excitação emocional. Geralmente, o quadro do estado emocional é determinado pelo desenrolar dinâmico de diversos estados de sentimento, que se sobrepõem uns aos outros, se alternam ou se anulam reciprocamente. Temos o exemplo da alegria pelo gol obtido que pode ser sobreposta pela preocupação e o medo de uma derrota ameaçadora, quando a diferença de pontos é grande demais e o jogo está próximo do fim.
Vale sempre a máxima: sentir e pensar ajudam a traçar o caminho para a Vitória. Ai está um ambiente adequado para a Psicologia do Esporte se fazer presente. (foto acima: Agência Brasil)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do PPG- Desenvolvimento Humano e Tecnologias da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia.