O jornalista Euclides de Oliveira, 42, está há 13 anos longe de Jundiaí. Há 10 vive em Niquelândia, Goiás. Lá tem prestígio e credibilidade. Ganhou título de cidadão, foi candidato a vereador e hoje tem um portal de notícias. Mas não abandonou a ideia de voltar. Ele está de olho na movimentação política para as eleições municipais, em 2020. Dependendo do resultado, pode até arrumar as malas e voltar para Jundiaí.
Onde estudou em Jundiaí?
Ainda bem pequeno, no antigo pré-primário, estudei na EMEB Prefeito Manoel Anibal Marcondes, na Rua Coronel Leme da Fonseca/Praça da Bandeira. Em 1983, minha mãe matriculou-me na EMEB Marcos Gasparian, na Rua Anchieta. Mas tive um problema de saúde no começo do ano letivo do antigo “Ciclo Básico”. As matriculas eram muito disputadas e perdi a vaga. Entre 1984 e 1995 estudei na EE Dr. Antenor Soares Gandra, no início da Rua Barão de Jundiaí, perto da Câmara Municipal e da Esplanada do Monte Castelo, o “Escadão”. Formei-me Técnico em Alimentos no Gandra, mas nunca exerci a profissão.
Quais bairros morou?
Nesse período de estudante, minha mãe (adotiva) já era bastante idosa. Então, sempre foi necessário morarmos no Centro, porque ela não dirigia e eu era menor. Quando pequeno, morei na Rua Secundino Veiga, entre a Avenida Paula Penteado e a Rua da Saúde. Depois, mudamos para a Rua Senador Fonseca, naquela ladeira da parte baixa, quase no Vianelo, entre a Conde de Monsanto e a Paula Penteado. Depois, entre 1993 e 1998, morei no Edifício Bandeirantes, na Rua Bernardino de Campos, em cima de uma agência bancária, entre a Rua do Rosário e a Senador Fonseca. Tinha um janela de frente para a Rosário, era bem legal ver o movimento da Rua Barão de Jundiaí e da Praça Governador Pedro de Toledo. Ainda com minha mãe viva, fomos para o início da Rua Rangel Pestana – no Edíficio Martins, quase esquina da Rua Torres Neves com o término da Rua Vigário J.J. Rodrigues, praticamente atravessando a Praça da Matriz e o calçadão da Rua São José. Poucos meses, depois da morte da minha mãe, comprei um apartamento na Rua São Lázaro, no Jardim Morumbi, entre a Rua do Retiro e a Avenida Nove de Julho. Foi o último lugar que morei em Jundiaí. Mas o apartamento é meu até hoje e está alugado.
Por que decidiu ser jornalista?
Lembro-me bem que, desde pequeno, que minha mãe assinava revistas e jornais “de fora” de Jundiaí, como a “Folha de São Paulo” e o “Estado de São Paulo”, além da revista “Veja”. Às 23 horas de sábado, o “Estadão” de domingo chegava em casa, em Jundiaí. Era uma diversão para mim, ainda criança, ler o jornal de domingo um dia antes (risos). Eram umas 300 paginas, acho que 200 só de classificados (mais risos). Depois, principalmente no Gandra, comecei a tirar notas altas naquelas redações/dissertações. Foi aí que decidi ser jornalista, apenas pelo fato de escrever bem, achei que essa seria minha profissão. E não pensei muito: no final de 1995, prestei o vestibular para Jornalismo e ingressei na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) em 1996. Morei em Piracicaba quatro anos e criei o hábito de redigir artigos opinativos para os órgãos da imprensa escrita em Jundiaí. Quando me formei, voltei a morar em Jundiaí. Como eu já tinha um portfólio bem bacana de textos publicados, não foi muito difícil arrumar emprego na área na cidade no final de 1999. O João Carlos Lopes, falecido recentemente, também noticiava em sua coluna social que um jundiaieinse (eu) era estudante de Jornalismo em Piracicaba.
Como foi sua carreira na cidade?
Aliás, foi um desses artigos que me deu visibilidade, quando escrevi uma opinião bastante contundente sobre o então juiz Luiz Beethoven Giffoni Ferreira, sobre a adoção em série de crianças jundiaienses por estrangeiros. Vi no próprio “Jundiaí Agora”, em reportagem que vocês publicaram em janeiro deste ano, que ele se tornou desembargador e que não se arrepende de nada das decisões que tomou, cuja repercussão foi nacional. Na época, o texto que escrevi foi muito parabenizado pelo advogado Marco Antonio Colagrossi, que vivia em duro embate com o magistrado; e pelo empresário Péricles Barranqueiros, o pai, proprietário da Rádio Cidade 730 AM. O Péricles pai e o seu filho, o Júnior Barranqueiros, me receberam na rádio. Conversamos umas duas horas, fiz um teste de locução e virei repórter do “Ação e Informação” na emissora, no Edifício Mariju, na Rua Siqueira de Morais. Uma das minhas primeiras entrevistas, ao vivo, foi com o então prefeito Miguel Haddad, no desfile de 7 de Setembro, de 1999.
Foi tudo uma grande novidade para mim pois, do nada, passei a entrevistar personalidades de Jundiaí que eu só conhecia como leitor/espectador. E a Rádio Cidade foi uma grande escola para mim pois me deu visibilidade profissional ainda maior.No processo eleitoral de 2000, quando ainda se discutiam as possíveis pré-candidaturas a prefeito de Jundiaí nas eleições municipais daquele ano, o ex-prefeito Íbis Cruz estava filiado no antigo PFL (atual DEM) e iria disputar a eleição, como disputou. O Íbis era bancado pelo então presidente estadual do PFL, o radialista e deputado Afanásio Jazadji. Porém, o presidente do PFL em Jundiaí era o Ari Castro Nunes Filho. Para a Rádio Cidade, entrevistei o Ari Castro sobre a pré-candidatura do Íbis. E, depois de algumas perguntas, em que Ari Castro teceu várias considerações desfavoráveis ao nome de Ibis, lembro-me que soltei essa pergunta: “Então, o Ibis não é bem visto pelo partido?”. E o Ari Castro, talvez num ato falho, encampou a intenção da minha pergunta e respondeu, na lata: “Sim, ele não é bem visto”. Aí nós, pela Rádio Cidade, entrevistamos o Afanásio sobre a postura do Ari Castro em relação ao Íbis. No ar, ao vivo, de São Paulo, o Afanásio anunciou intervenção no diretório municipal do PFL em Jundiaí. Depois, com toda contundência que lhe era peculiar, o Afanásio esteve em Jundiaí e realmente afastou o Ari Castro. Foi uma das poucas vezes que a Rádio Cidade pautou os dois principais jornais de Jundiaí, na época. E eu acabei sendo contratado por um desses jornais, como repórter de Política, onde cobri as eleições municipais de Jundiaí em 2000, quando o Miguel foi reeleito. Mas o Péricles Júnior, o Mikito, nunca me perdoou por ter saído da sua emissora. Porém, é meu amigo até hoje e sempre falamos desse período. Eu era (e ainda sou) muito intempestivo e deixei o jornal em setembro de 2001, meses depois de ter sido afastado da editoria de Política. Nas férias do então editor Nelson Manzatto, o então deputado federal André Benassi, ex-prefeito de Jundiaí, passou por uma cirurgia de correção em seu problema ortopédico. O Congresso Nacional estava em sessões extraordinárias, para votação de medidas provisórias do governo Fernando Henrique Cardoso. Eu perguntei ao Benassi se ele, por ter faltado às sessões por conta da cirurgia, devolveria o dinheiro das extraordinárias à Câmara Federal. E isso me impôs uma derrocada no jornal, ao ponto de eu ir trabalhar emburrado pela mudança de editoria, pois me senti censurado em função dos interesses econômicos do periódico. Depois, prestei alguns serviços de assessoria de imprensa para os então vereadores Cláudio Miranda; Antonio Carlos Pereira Neto, o Doca, agora falecido (quando foi candidato a deputado estadual em 2002), através do Jorge Haddad, que me tratava superbem e fiquei triste em saber da sua morte. Também fui assessor de imprensa do então deputado estadual Ary Fossen, talvez a figura mais emblemática da política de Jundiaí; e do então vereador Juca Rodrigues (também já falecido) a partir do final de 2003, quando ele pretendia ser candidato a prefeito nas eleições municipais de Jundiaí de 2004.
Onde mora hoje? Como aconteceu esta mudança radical de endereço?
No começo de 2019, completo dez anos ininterruptos residindo em Niquelândia, no Norte de Goiás, cidade distante 1.240 quilômetros de Jundiaí. Já que estou relembrando o passado, o impacto negativo da minha vida profissional em Jundiaí ocorreu justamente nas eleições para prefeito em 2004. Estava eu trabalhando com o Juca, pensando numa campanha dele para o Poder Executivo. Esse era o sonho do Juca, ser prefeito de Jundiaí. Entrei de sola nesse projeto; e até produzi um jornal das atividades dele no mandato como vereador, com 100.000 exemplares, em 2004. Porém, a campanha do Juca não decolava e o Miguel, que era muito próximo dele, o procurou para que fosse candidato a vice-prefeito de Jundiaí, tendo o Ary como cabeça-de-chapa, como candidato a prefeito. O Juca aceitou e foi ser vice do Ary Fossen.
Lembro-me que, quando Juca contou para mim e sua equipe, da sua decisão em compor com o PSDB em Jundiaí, eu quis desistir de continuar na equipe dele. Sempre fui muito crítico ao PSDB em Jundiaí, porque suas lideranças sempre exerceram grande pressão econômicas sobre a imprensa de Jundiaí, que refletia diretamente no comportamento dos repórteres dos dois principais jornais do município, no tempo que eu trabalhava como jornalista em Jundiaí. Mas enfim, um tanto quanto sem ambiente, participei ativamente da campanha da chapa Ary-Juca. Estive em 74 comícios. Sob a supervisão do Eduardo Palhares, fiz jornais para alguns candidatos a vereadores que apoiavam a coligação. Mas eu, a exemplo de outros jornalistas jundiaienses, tive problemas de relacionamento com o Ary Fossen. Ele foi, sem dúvida alguma, um ótimo político e lutador das causas da cidade e, evidentemente, merecedor do mandato de prefeito que conquistou para o período 2005-2008. Porém, quando não gostava do texto de algum jornalista que havia sido seu assessor de imprensa, fazia bolinhas de papel com o material, esbravejava e atacava em direção da gente. Na minha derradeira briga com o Ary, ele ameaçou atacar um cinzeiro de cristal na minha direção no seu escritório político no Edifício Milão, na Rua do Rosário. Essa história correu nos bastidores da imprensa e da política de Jundiaí, espalhada por mim e também pelo radialista Afonso Pereira, de quem gosto muito. Jornalista, por mais que não queira, tem que ser político. E eu não era muito ‘político’ com quem fazia o mal para mim ou para terceiros, nos bastidores, para dizer à sociedade que era um cara bom. O Ary era um ótimo político, mas péssimo em relações humanas. Ou seja, quando ele virou prefeito, fiquei 10 meses entre idas e vindas à Prefeitura de Jundiaí, sempre no aguardo da minha nomeação para a Assessoria de Imprensa. O Juca nos deu, à época, totais garantias de que as 15 pessoas de sua equipe teriam cargos em comissão no Poder Executivo. O Juca me recebia, mas o dono da caneta era o Ary. Das 15 pessoas do Juca, apenas cinco foram nomeadas pelo Ary. As outras dez, inclusive eu, ficaram de fora das vagas. Com 10 meses sem trabalhar, praticamente quebrei financeiramente e decidi mandar currículos para jornais impressos do Brasil todo. Sem emprego e sem minha mãe, falecida dois anos antes, perdeu o sentido morar por morar em Jundiaí, apenas pelo glamour de permanecer na terra natal. Foi dessa forma que fui chamado pelo Jornal Diário do Norte e aceitei trabalhar e morar em Minaçu, cidade aqui também do Norte de Goiás, distante 1.500 quilômetros de Jundiaí, onde desembarquei em 16 de setembro de 2005. Estar numa cidade longínqua, de 30 mil habitantes, numa região extremamente quente do Centro-Oeste, era algo impensável para mim, que sequer conhecia Goiânia, a capital aqui de Goiás. Depois, arrumei outro emprego em Marabá-PA, onde fiquei apenas um mês. Retornei a Goiás, para o mesmo Diário do Norte, e comandei as sucursais de Porangatu-GO e de Niquelândia-GO, para onde fui transferido em outubro de 2006. No começo de 2008, numa tentativa de voltar a atuar na imprensa de Jundiaí, fui recebido pelo jornalista Sidney Mazzoni, que era editor-chefe do jornal onde trabalhei. Não deu certo e, numa visita à várias redações do interior paulista, acabei sendo contratado pelo Jornal A Cidade, de Ribeirão Preto. Porém, a bolha econômica de 2008 cortou empregos na redação em Ribeirão e fui demitido perto do Natal daquele ano. E aí, dado o bom relacionamento com a direção do Jornal Diário do Norte, fui recontratado pela terceira vez e aceitei voltar aqui para Niquelândia, em janeiro de 2009. Aí decidi realmente ficar em Goiás e aqui na cidade de Niquelândia, de forma mais definitiva, essa coisa de transferir conta bancária, documento do carro de Jundiaí para Niquelândia, prontuário da CNH de SP para GO, etc. E só deixei o jornal em setembro de 2016, já na era da Internet, em que a crise econômica nos meios de comunicações impressos aumentava cada vez mais em regiões como essa aqui, do Centro-Oeste e do interior do País.
Como é esta cidade de Niquelândia?
Niquelândia é uma cidade de 45 mil habitantes, distante 300 quilômetros de Goiânia e 270 quilômetros de Brasília. Apesar da distância daqui com essas duas cidades, Niquelândia é geograficamente bem localizada. Estou também a apenas 150 quilômetros do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso de Goiás. Niquelândia, como o próprio nome diz, sempre ostentou o título de Capital Nacional do Níquel, pela abundância nesse tipo de minério, sempre explorado e beneficiado aqui através das plantas de duas grandes multinacionais, a inglesa Anglo American; e a Votorantim Metais, do Grupo Votorantim, do falecido empresário Antonio Ermírio de Morais.
Quando aqui cheguei, em 2006, Niquelândia era a oitava economia do Estado de Goiás em receita bruta, a ponto do então prefeito ter tido a coragem de contratar um show do Luan Santana – no auge dele, em 2010 – por absurdos R$ 300 mil. Apesar da riqueza da cidade de Niquelândia, naquele período, os investimentos em infraestrutura foram aquém do necessário. Por conta desse boom econômico de Niquelândia, que ocorreu bem antes de eu morar aqui, a cidade realizou diversos concursos públicos para contratar professores e outros servidores. Tudo ia bem até que a Votorantim Metais anunciou, em janeiro de 2016, a paralisação da planta de extração de minério de níquel, pela queda absurda do valor da tonelada do níquel no mercado internacional. Cerca de 800 pessoas perderam o emprego direto na empresa; e mais de 1.000 que trabalhavam em terceirizadas-prestadoras de serviço à mineradora, também foram demitidos. Com a redução na arrecadação, e com cerca de 1.700 funcionários efetivos, a Prefeitura de Niquelândia hoje consome 82,25% do Orçamento com pessoal. Éramos a oitava economia de Goiás, hoje é a pior cidade por esse aspecto de arrecadação versus folha entre os 246 municípios daqui do Estado. É uma situação desesperadora. As pessoas, ao passo que são muito simples, são também muito hospitaleiras e muito religiosas. Niquelândia possui a segunda maior Romaria Mariana de Goiás – de Nossa Senhora da Abadia de Muquém, cujo feriado aqui é 15 de agosto, tal como é em Jundiaí com Nossa Senhora do Desterro. É uma data que sempre lembro de Jundiaí, também. Existe bairrismo com forasteiros como eu, é claro, mas essa coisa de andar no comércio e ser chamado pelo nome aqui em Niquelândia – como era na Jundiaí de antigamente – é algo muito gratificante.
Desde 2015, por decisão do Poder Legislativo, possuo o título de “Cidadão Niquelandense” pelos serviços prestados como jornalista. Em 2010, eu e outros 47 jornalistas goianos fomos agraciados com a Medalha do Mérito Legislativo Pedro Ludovico Teixeira, pela Assembleia Legislativa de Goiás, em Goiânia. Isso também me ajudou a me fixar cada vez mais por aqui. Inclusive, até pelo fato de ter um afilhado de nove anos, um garoto para quem eu sou ídolo, que me adora por aqui.
No início você fazia comparações entre Jundiaí e a cidade onde mora agora?
As comparações são inevitáveis e as faço até hoje. Porém, ao pé da letra, não podemos comparar uma cidade altamente industrializada e progressista como Jundiaí com o município de Niquelândia, onde resido agora. As comparações que faço, normalmente, são pela dificuldade de acesso a alguns produtos (alimentícios etc) que só encontro nos grandes centros, como Goiânia e Brasília, onde vou passar e resolver problemas particulares, a cada dois meses. Aliás, uma das coisas boas de ter vindo morar em Niquelândia foi justamente a oportunidade de conhecer Brasília, e toda aquela estrutura do Congresso Nacional, dos ministérios, do Palácio do Planalto, onde estive a trabalho algumas vezes acompanhando audiências dos prefeitos daqui do Norte Goiano. Também conheço Goiânia razoavelmente bem e isso me acrescentou bastante, no plano pessoal e profissional, em relação ao tempo que eu morava em Jundiaí. Poder estar constantemente em duas metrópoles, como Goiânia e Brasilia, é algo bem bacana.
Há outros jundiaienses por aí?
Não, nesta região não. Porém, na rota inversa da sua pergunta, nesse período que aqui estou, tive notícia de uma família de Porangatu, Goiás, que morou em Jundiaí desde 1981, cujo patriarca foi enterrado aí. Eles queriam trazer os restos mortais dele para cá, mas perdi o contato com eles e não sei se isso foi concretizado. Também conheci uma moça numa cidade vizinha, Barro Alto, também Goiás, que morou em Jundiaí e em Jarinu. Em Niquelândia, o máximo que vi foram alguns carros com placa de Jundiaí, de moradores daqui, que ainda não tinham feito a transferência do documento para cá.
O povo daí tinha ouvido falar de Jundiaí antes da sua chegada?
Olha, aqui em Niquelândia, não. Em relação ao interior de São Paulo, o povo de Niquelândia conhece mais Campinas e Ribeirão Preto. No começo, as pessoas perguntavam muito para mim aqui “como era viver lá em São Paulo?”. E eu sempre fiz questão de dizer que morava em Jundiaí, cidade de tantos mil habitantes, entre São Paulo em Campinas, Terra da Uva e do Morango, etc (rs). De tanta propaganda positiva que fiz de Jundiaí aqui em Niquelândia, muitos niquelandense sabem que sou de Jundiaí. Para mim, isso é motivo de muito orgulho pois, embora eu tenha acostumado a viver longe de tudo, ser profissionalmente reconhecido aqui foi uma conquista trilhada por mais de uma década, de 2005 para cá. Uma curiosidade sobre Jundiaí aqui em Goiás é o fato do nome da nossa terra natal ser o nome de um bairro de alto padrão em Anápolis, o Bairro Jundiaí, também por conta do peixe “Jundiá” originário do tupi yundi’á.
Continua atuando como jornalista?
Sim, continuo atuando como jornalista aqui em Niquelândia. Porém, não com o mesmo ímpeto e disposição na comparação com o tempo que atuava em Jundiaí. Como eu disse, deixei o Jornal Diário do Norte no final de 2016 e resolvi dar um tempo na profissão em 2017, até porque trabalhei 11 anos no esquema home-office. Ano passado, administrei redes sociais (Facebook) de empresas particulares da área de Saúde aqui em Niquelândia. Esse ano, com algum dinheiro que eu tinha guardado, decidi empreender aqui em Niquelândia e abri o Portal Excelência Notícias (www.excelencianoticias.com.br). A boa aceitação que eu tive aqui em Niquelândia me deu visibilidade nas redes sociais e hoje tenho quase 2.000 seguidores no meu Facebook pessoal. O meu site é a única proposta genuinamente niquelandense de um site de notícias, embora eu não seja nascido aqui. Economicamente, ainda está engatinhando, mas já consegui recuperar boa parte do investimento inicial. Com a perspectiva de que a Votorantim Metais retome sua produção de minério aqui em Niquelândia, o comércio local se recuperará e poderei ser favorecido por esse aspecto.
Existe o mito de que jornalistas não são bem vistos no interior do país. É verdade? Como é o relacionamento com políticos?
Olha, depende muito de cada ponto de vista. O meu histórico de atuação como repórter na imprensa de Jundiaí atesta que jornalistas não são bem vistos sobretudo quando querem expor a verdade e o devido esclarecimento a seus leitores, sobre o comportamento da classe política. Em Jundiaí, o então secretário de Finanças do Miguel, o Wilson Engholm, ficava nitidamente vermelho de raiva com algumas perguntas que eu fazia sobre o orçamento da Prefeitura de Jundiaí. Tanto isso foi verdade que, através dos proprietários do jornal em que trabalhei aí, o Engholm mandou-me recado para dizer que eu era “a pedra no sapato dele” da imprensa local. O bom jornalista, o que tem valor de fato para a sociedade, é aquele que não vira ‘chaveirinho’ na mão dos políticos. Mas, de um modo geral, eu vejo que essas ações de retaliação política nos bastidores, contra a imprensa, são mais sutis em Jundiaí do que aqui em Niquelândia. O então prefeito de Niquelândia, Luiz Teixeira, o vice-prefeito e um assessor direto, me processaram em 2014 por uma postagem no Facebook, alegando calúnia, injúria e difamação. O jornal que eu trabalhava manteve-me na empresa aqui em Niquelândia, mas somente afastou-me de algumas coberturas diretamente com esses três lideranças até que a poeira baixasse. Aí em Jundiaí, como existem jornalistas sobrando, talvez eu não tivesse a mesma sorte que aqui em Niquelândia. Mas foi justamente nesse caso que, ao contrário do que possa parecer, tive interferência política favorável. O presidente estadual do PSD em Goiás, Vilmar Rocha, que foi candidato ao Senado aqui em 2014, é nascido em Niquelândia; e interveio para que o prefeito, o vice-prefeito e o assessor retirassem o processo contra mim. Foi uma ordem. Eles tiveram que acatar. Depois desse episódio, tive de me tornar mais ‘político’ para continuar atuando como jornalista aqui em Niquelândia. Em 2016, porém, um vereador me ameaçou por telefone por conta de um comentário meu no Facebook. Só que eu gravei a chamada e distribui o áudio para a cidade toda. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Goiás entrou no circuito para me defender, emitiu uma nota de repúdio em desfavor do político; e levou o caso ao governador do Estado, pedindo-me proteção. A ação por crime de ameaça tramita na Justiça, mas deve prescrever sem a segunda audiência, em março de 2019. O comentário que fiz falava em ‘voto etílico’ porque o então vereador era conhecido por pagar rodadas de cerveja a seus eleitores. Com a difusão do áudio, a expressão “voto etílico” entrou para o folclore da política aqui de Niquelândia.
Já pensou em se tornar político?
Acreditei eu, de maneira completamente errônea, que a aceitação do meu trabalho como jornalista aqui em Niquelândia, pela popularidade das minhas redes sociais, pelas causas que defendi, e pelos políticos que enfrentei aqui, que esses requisitos me credenciariam a uma vaga de vereador na Câmara Municipal de Niquelândia. Era para ter disputado em 2012, mas adiei para 2016. Entre 2013 e 2014, fiz um programa de rádio aos domingos, das 12 às 14 horas, aqui em Niquelândia, onde fiz perguntas que jamais foram feitas aos políticos daqui da cidade, pois fugi completamente do estereótipo das “perguntas prontas, previamente formuladas” para endeusar o entrevistado. A audiência foi lá em cima. E muitos deles recusaram em participar. Em 2015, fui o proponente de uma Ação Cível Pública (ACP) no Ministério Público (MP) de Goiás em Niquelândia para a suspensão de contas de energia elétrica emitidas com valor altíssimo, pois a cidade ficou quatro meses sem leituristas dos medidores. O Judiciário deu ganho de causa e suspendeu o pagamento, após eu levar um dossiê com 122 contas de energia e um abaixo-assinado. Abri as portas do jornal que eu trabalhava sozinho, com anuência do patrão, para fazer esse trabalho.
Em 2016, me candidatei para vereador, com esse mote, da “defesa do consumidor, do interesse público”. Tive apenas 30 votos, um verdadeiro vexame. Descobri, na prática, que o eleitor de Niquelândia – sobretudo as pessoas mais simples – vota em amigos, em parentes e também pelo o que se conhece aqui como “serviços prestados” como conseguir guia de internação nas UTIsde hospitais públicos em Anápolis ou Goiânia; por sacos de cimento; telha, tijolos, enfim tudo o que o dinheiro podia comprar, dinheiro que eu não tinha e cuja prática ilícita era e ainda é contra meus princípios. Hoje estou sem partido e não penso em me candidatar de novo em 2020. Niquelândia está na UTI economicamente, mas o cidadão local ainda pensa muito no próprio umbigo e menos no bem-coletivo, a exemplo dos políticos locais. Ninguém pede nada para a rua em que mora, para vocês terem uma ideia. Nível zero de consciência cidadã. Este ano, em 2018, a cidade teve eleições suplementares para prefeito. O vereador que me ameaçou em 2016 tornou-se evangélico e me pediu perdão, em maio. Como cristão, o perdoei. Mas, politicamente falando, me posicionei contra ele e gravei vários vídeos defendendo o atual prefeito, que foi eleito com 72% dos votos, também com minha ajuda. O áudio das ameaças de 2016 pipocou em todos os grupos do WhatsApp aqui. E o meu potencial algoz teve só 17% dos votos. Meu posicionamento político – embora eu devesse ficar neutro, como se espera na minha profissão – foi inevitável porque eu não poderia permitir que um político desse naipe se tornasse prefeito aqui de Niquelândia para perseguir outras pessoas que não tivessem como se defender, como eu tive, através do sindicato dos jornalistas.
Aliás, existem muitos jornalistas profissionais por aí?
Com curso superior em Jornalismo e em plena atuação, apenas eu, em Niquelândia. Conheço três pessoas daqui que são formadas em Jornalismo: duas não tiveram sorte na área. Um terceiro, filho de uma padeira e de um servidor braçal da prefeitura, formou-se em Brasília e hoje é repórter do Metro News em Santiago, no Chile. Em Porangatu-GO, onde morei, existem quatro jornalistas formados: uma delas é minha amiga pessoal e graduou-se em Ribeirão Preto. Eu continuo sendo um ferrenho defensor do diploma em Jornalismo/Comunicação Social. É evidente que não foi o banco da faculdade que me fez gostar de escrever e de saber escrever, mas sim as leituras de jornais e revistas que fiz quando criança. Porém, desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a obrigatoriedade do diploma em 2009, a profissão degradou-se muito em qualidade e em conteúdo. Hoje, com um celular na mão e através das lives no Facebook, qualquer pessoa gera conteúdo facilmente, posta e solta pelo WhatsApp, rapidamente. A falta do diploma não é o principal problema em si, mas a falta de ética de muitos que geram conteúdo, sobretudo aqui em Niquelândia, por motivações políticas futuras e não com o viés de fazer jornalismo como deveria ser, com cuidado nas apurações e naquilo que se afirma. Em Niquelândia, de repente, os radialistas-locutores passaram a gerar conteúdo nas redes sociais. Vira e mexe, são chamados de jornalistas. Eu já entrei em embates públicos com eles por conta dessa situação, mas hoje procuro estar mais calmo e conviver com isso, mas sem gravar lives ao vivo. Gosto mesmo é de escrever.
Quais seus principais triunfos aí?
Diante do que lhe respondi sobre a forma como se exerce o jornalismo – ou o pseudo-jornalismo – em Niquelândia, talvez o meu maior triunfo seja a credibilidade conquistada junto à população do município. Temos situações de notícias publicadas aqui sem que o seu “redator”, por assim dizer, deu a notícia sem ouvir a palavra do delegado; ou sem ter acesso ao boletim de ocorrência; e ter que se retratar depois. Eu não publico nada sem ter certeza e o meu nome aqui, profissionalmente falando, é bastante respeitado em Niquelândia. Digamos que eu me dou ao luxo de não ser o primeiro a dar determinada notícia pois, quando alguém publica antes que eu, muita gente me aciona pelo WhatsApp diretamente para saber a procedência ou não dos detalhes ora relatados. Num viés mais amplo, eu diria ao Jundiaí Agora que superei os desafios de não conhecer nada da política e dos costumes de Goiás e hoje ter a facilidade para entrevistar, por exemplo, o senador e governador eleito Ronaldo Caiado(acima) tanto no seu gabinete no Senado em Brasília, em Goiânia e aqui mesmo em Niquelândia.
Em 2014, tive a oportunidade de uma entrevista exclusiva em Niquelândia com o então governador Marconi Perillo, do PSDB(acima), conhecido aqui em Goiás pela dificuldade de relacionamento com a imprensa. De tijolinho em tijolinho, fui sendo bem-sucedido aqui.
Quais seus projetos?
Olha, a atuação como jornalista do Diário do Norte por longos 11 anos me tornou uma figura conhecida em pelo menos 20 municípios do Norte de Goiás que eu percorria, como empregado. Essa credibilidade encorajou-me a fundar meu site de notícias aqui em Niquelândia. Porém, o maior desafio é tornar o Excelência Notícias(foto principal) mais conhecido aqui na região. Os problemas aqui são as distâncias entre as cidades, pois a densidade populacional é muito baixa. Enquanto em Jundiaí você pega a Via Anhanguera e passa por uma dezena de cidades num trecho de 90 quilômetros até Limeira, aqui eu rodo 90 quilômetros para chegar apenas numa cidade (Uruaçu, de 40 mil habitantes, às margens da perigosa BR-153) e outros 90 quilômetros para outra cidade (Colinas do Sul, de 4 mil habitantes, sendo que 22 quilômetros ainda são sem asfalto. Então, potencializar economicamente o meu projeto jornalístico nessa região depende de investimentos, sobretudo em combustível, para visitar as cidades que eu atendia quando empregado do jornal que deixei em 2016. E, mesmo se a minha empresa crescer, terei dificuldade para contratar um jornalista de Goiânia para vir para o interior de Goiás. Eles preferem o conforto da capital e os baixos salários do que exercerem o papel de desbravador que aceitei em 2005, quando vim de Jundiaí para Minaçu/Porangatu/Niquelândia. Um sonho distante é ser eleito prefeito de Niquelândia, para colocar em prática a mesma visão desenvolvimentista que houve em Jundiaí. Mas, pelo bairrismo que mencionei, é pouco provável que eu consiga me candidatar ao Poder Executivo aqui.
Vem sempre para Jundiaí?
Entre 2005 e 2008, mesmo morando aqui em Goiás, deixei o apartamento mobiliado no Jardim Morumbi, pagando condomínio, pois pensava em voltar. Então, fui todos os anos. Quando saí de Niquelândia a primeira vez, para tentar voltar a SP, e fui morar em Ribeirão, não tive dinheiro para manter a estrutura em Jundiaí. Vendi a mobília e aluguei o apartamento, que jamais penso em vender. Até 2012 fui todos os anos, fiquei na casa de amigos, sendo sempre muito bem tratado. Entre 2012 e 2016, fiquei 4 anos sem ir a Jundiaí porque queria ser candidato a vereador aqui em Niquelândia na eleição passada e precisava guardar dinheiro. A última vez que estive em Jundiaí fiquei 10 dias em novembro de 2016 no apartamento de um amigo no Jardim Ana Maria, na Rua Barão de Teffé. A cada vez que vou aí, gosto de andar pelo Calçadão da Rua Barão de Jundiaí e também pela Rua do Rosário, para lembrar os comércios que existiam nesses lugares, quando eu morava aí. Isso me dá muita nostalgia. E dor no coração quando chega a hora de voltar para Goiás.
Como avalia Jundiaí hoje?
A cada vez que vou aí, percebo uma evolução grande em Jundiaí. Você, que é jornalista como eu, tantas vezes noticiou acidentes nas “estradas velhas” de Itu e de Itatiba. Tanta gente morreu nessas pistas, que não eram duplicadas. Quando eu saí de Jundiaí, a cidade tinha 270.000 habitantes. Hoje, são mais de 400.000. Um novo shopping, de uma grande rede empresarial, novas avenidas, lojas que só existiam em Campinas e em São Paulo, hoje estão em Jundiaí. Aqui, em Niquelândia, eu assisto a TV Gazeta de SP e, naqueles programas de venda de imóveis, Jundiaí sempre aparece pela quantidade de famílias que deixaram São Paulo para morar aí. Porém, ao que me consta, isso também elevou muito o custo de vida em Jundiaí. Recentemente, uma pessoa aqui de Niquelândia, que era funcionária de uma operadora de TV a cabo ai em Jundiaí, voltou para esta região. Não aguentou o baque dos gastos ai. Porém, seja com 400 mil habitantes, em Jundiaí, ou com 46 mil habitantes, aqui em Niquelândia, ainda vejo a imprensa da Terra da Uva como muito subserviente ao Poder Público. Nesse campo, pelas notícias que recebo daí, a imprensa de Jundiaí estagnou-se ou andou para trás, em relação ao tempo que eu morava ai.
Pensa em voltar a morar aqui?
Se eu pudesse decidir apenas pelo lado afetivo, teria voltado no final de 2016, quando havia deixado o emprego formal de jornalista aqui em Niquelândia. Mas, pelo lado financeiro, as coisas não são assim tão fáceis. Da última vez que estive em Jundiaí, agendei e fui recebido pelo deputado federal Miguel Haddad, em seu escritório político na Rua Bela Vista. A conversa foi muito agradável, mas eu precisava rememorar ao Miguel a eleição municipal de 2004, e o exílio político que sofri após a eleição do Ary Fossen, o que me fez abandonar Jundiaí em 2005, com uma mão na frente e outra atrás. Pedi ao Miguel, de forma textual, que conversasse com o Luiz Fernando Machado – prefeito eleito na ocasião, após barrar a reeleição do Pedro Bigardi – para que o futuro prefeito me nomeasse para um cargo na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Jundiaí. Depois de alguns dias, a assessoria do Miguel me ligou dizendo que não seria possível atender ao meu pedido. Eu só conversei com o prefeito Luiz Fernando uma única vez, quando presidente do Legislativo; e portanto, nada tenho do que me queixar dele. Com as mortes do Juca e do Ary, penso que o Miguel tem uma dívida moral comigo, pois a ida do Juca ao cargo de vice-prefeito me prejudicou demais, naquela ocasião, pelo espírito vingativo do Ary. Vou estar atento ao processo eleitoral em 2020 em Jundiaí para decidir uma nova investida para eventual retorno. Por ora, seguirei tocando meu site de notícias aqui em Niquelândia. A única certeza que tenho é que a minha última morada será ao lado da minha mãe, no Cemitério Nossa Senhora do Desterro, em Jundiaí: em 2012, registrei formalmente essa vontade em cartório aqui em Niquelândia e as pessoas próximas de mim aqui na cidade é que terão a missão de executar esse meu desejo.
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