Vereadores aprovam projeto contra FAKE. E como ficam as deles?

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Os vereadores de Jundiaí votaram e aprovaram, na sessão do dia 22 de novembro do ano passado, o projeto de lei 14.179, do vereador Marcelo Gastaldo, que cria a Campanha de Conscientização e Informação Contra a Disseminação de Notícias Falsas. Gastaldo justifica a criação da campanha – louvável, por sinal – por conta das “desastrosas consequências da divulgação de fake news”. Ele afirma: “na dúvida, cheque antes de compartilhar se informações recebidas em WhatsApp, Facebook ou outras redes sociais são verdadeiras”. A pergunta que fica é: e quando um vereador subir na tribuna ou apresentar projeto com informações falsas? Os exemplos são recorrentes. Em outubro, a vereadora Quézia de Lucca, ao falar sobre os conflitos no Oriente Médio, acusou a esquerda de estar ao lado do Hamas. A declaração, durante a sessão ordinária, repercutiu mal entre os partidos de esquerda. Na semana seguinte, o vereador Faouaz Taha(PSDB), que é muçulmano, pediu respeito às vítimas palestinas, além de estudo da história por parte dos vereadores locais. Ele citou, inclusive, um pastor que usou a tribuna para disseminar uma fake sobre o conflito. Os parlamentares, quando fazem comentários com viés ideológico, não falam apenas com as pessoas que estão no plenário da Câmara. As sessões são transmitidas pelo Youtube e redes sociais.

Durante a votação do projeto de Gastaldo, o vereador Roberto Conde(Republicanos) elogiou a iniciativa e fez um breve discurso sobre fake news. “As igrejas evangélicas por muitos anos foram as maiores vítimas da imprensa marrom. Tem a ‘Rede Esgoto’(referindo-se à Rede Globo), que destruiu muitos lares e tentou fazer a cabeça população. Esta emissora está com dívidas e perdeu a força. Mas, o método que ela usou contra igrejas, usou também contra políticos. Lembro do Brizola, que foi vítima da Rede Globo, que manipulava pesquisa eleitoral, inventava notícias falsas. Naquela época não existia a palavra fake. Era mentira na cara dura para impedir a vitória dele. Na última eleição, contra o ex-presidente Bolsonaro, ocorreram muitas fake de um partido político que agora se cala. Este partido é mestre em fake”. Sorrindo ironicamente, o pastor Conde continuou: “Este partido chegou a dizer que havia 22 milhões de crianças passando fome. Esta fake foi propagada e nenhum veículo de comunicação repercutiu. O povo está acordando. Não é porque notícia é divulgada por emissora de TV, uma rádio, que aquilo é verdade. É preciso ver, apurar, estudar. Cadê as 22 milhões de crianças? Desapareceram? Não existem mais?”, concluiu. Ironicamente, que está sendo investigado pelo STF por divulgar fake news é o ex-presidente Jair Bolsonaro, apoiado por Conde.

O parlamentar não especificou os ataques da emissora às igrejas. Talvez estivesse se referindo à cobertura jornalística do caso do então pastor da igreja Universal, Sérgio Von Helder, que chutou uma imagem de Nossa Senhora, no dia 12 de outubro de 1995. O caso ganhou repercussão nacional e foi divulgado por todos os veículos de comunicação. Conde é pastor da mesma igreja. Em 2017, o site da Universal publicou que o Grupo Globo persegue os evangélicos nos noticiários, séries e novelas. “Não perdem a chance de criticar e ainda ridicularizar aqueles que professam a fé no Evangelho. A minissérie Decadência, por exemplo, exibida na Rede Globo em 1995, mostrou o pastor corrupto Mariel (Edson Celulari), que ficou milionário à custa do dinheiro da igreja. Além disso, ele se envolvia amorosamente com as fiéis”, afirma o texto.

Sobre Brizola, o então governador do Rio de Janeiro entrou com uma ação contra a Rede Globo e ganhou, fato que é comemorado até hoje no site do PDT. Em 1992, Brizola, que vivia às turras com a emissora, concedeu uma entrevista onde condenava, segundo ele, a sabotagem promovida pelo grupo de comunicação carioca à construção do Sambódromo e que, por consequência, o prefeito da cidade, Marcello Alencar, deveria negar que a emissora conquistasse a exclusividade da transmissão do Carnaval. Na época, o jornal O Globo divulgou um editorial com o título “Para Entender a Fúria de Brizola”. No texto, Brizola foi acusado de senilidade, com “declínio da saúde mental”, além de apontamentos infundados sobre suas relações institucionais com o então presidente da República, Fernando Collor. No mesmo dia, o Jornal Nacional reproduziu a publicação. Dois anos depois, a Rede Globo teve de se retratar por ordem da Justiça.

Sobre as fake, existe hoje no STF o Inquérito 4781. Um dia depois dos atos golpistas, a CNN informou que “perfis golpistas no Facebook, Twitter, TikTok e Instagram continuavam ativos apesar da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que obriga a retirada das páginas do ar”. Já o jornal O Globo, em abril último, publicou que “por conta do inquérito mais de 100 perfis nas redes sociais foram bloqueados, quase sempre de figuras alinhadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive parlamentares”.

A discussão sobre a fome no Brasil começou em meados do ano passado. Jair Bolsonaro, que tentava a reeleição, chegou a dizer que “não havia fome pra valer no país ou que não se via ninguém nas portas das padarias pedindo pão”, conforme divulgaram a revista Carta Capital e o UOL, respectivamente em agosto e outubro de 2022. O Senado – que apoiava Bolsonaro – divulgou matéria jornalística sobre o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19. O relatório apontou que 33,1 milhões de brasileiros não tinham o que comer – o que representa 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome. Conforme o estudo, mais da metade (58,7%) da população brasileira convivia com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave”. Em maio deste ano, a CNN publicou: “ao menos 32 milhões de meninas e meninos vivem na pobreza no Brasil, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o que corresponde a 63% do total. Além disso, os números mostram que o percentual de crianças e adolescentes que viviam em famílias com renda abaixo da linha de pobreza extrema (menos de 1,9 dólar por dia) alcançou em 2021 o maior nível dos últimos cinco anos: 16,1%. Já o número de crianças e adolescentes privados uma alimentação adequada passou de 9,8 milhões para 13,7 milhões, entre 2020 e 2021. Um aumento de 3,9 milhões”.

Veja as falas de Roberto Conde(aos 49 minutos) e de Quézia de Lucca(1h23)

Argentina – Também na sessão do dia 22 de novembro, Quézia elogiou projeto que cria o Programa Mulher Cidadã e aproveitou para alfinetar: “Como é bom a gente ver a esquerda perder, em particular essa esquerda peronista que deixou 1/3 da população na miséria, com inflação superior a 100% ao ano. Ver um libertório(na verdade, ela quis dizer ‘libertário’), chegando a presidente é um avanço não só para a Argentina mas para todo o mundo. Espero que sirva de exemplo para os demais países que sofrem nas mãos de comunistas. Parabéns Javier Milei e povo argentino”, disse ela. Fernándes, atual presidente da Argentina, foi eleito por uma coalização de esquerda. É tido como um político moderado. Milei se considera um ultraliberal.

Em entrevista à BBC Brasil, em agosto do ano passado, Lea Ypi, professora de teoria política da London School of Economics, explicou que o socialismo é o estágio que antecederia o comunismo. “Já a sociedade comunista é a utopia na visão de Karl Marx(um dos responsáveis pela teoria comunista). É o fim da sociedade de classes, é o fim da política enquanto conflito”. O filosófo Paulo Ghiraldelli foi mais fundo. Ao site Sul21, ele escreveu: “para existir o comunismo em um determinado país, é necessário que tal país elimine a propriedade privada dos meios de produção. Ou seja, o governo deve nacionalizar (como os americanos dizem) ou estatizar (como os europeus e nós dizemos) as fábricas, fazendas, grandes empresas etc. Quem insiste em falar em comunismo na Venezuela atual não sabe de nada. Fugiu da escola e talvez até da vida. Não há lá nenhuma nacionalização desse tipo. Aliás, no mundo todo, esse modelo já não conquista ninguém faz tempo. São pouquíssimas pessoas que acreditam que a abolição de uma sociedade de mercado é melhor do que a sociedade de mercado que temos, ainda que se possa e se deva, claro, criticá-la”.

Em agosto de 2019, o historiador Gustavo Nicolás Contreras, disse ao jornal O Estado de Minas, que “o peronismo é um movimento que nunca foi unitário, tendo como princípios a soberania política, independência econômica e a justiça social, fazendo-se reconhecer na população, burguesia industrial e até no Exército. Já o analista político Rosendo Fraga afirma que desde o fundador, Perón, o movimento era indefinido ideologicamente, podendo ir para da esquerda para a direita sem perder o objetivo de alcançar, reter ou recuperar o poder”. Matheus de Oliveira Pereira, doutor em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dants(Puc-SP, Unesp e Unicamp), afirmou ao Estadão no dia 20 de outubro último que “o peronismo é uma cultura política”. O texto do jornal explica: “o viés populista mostra como o peronismo é mais uma forma de fazer política, do que uma ideologia já que ao longo de oito décadas eles assumiram diferentes nomes, partidos e programas.

“Na Ciência Política da Argentina não se estudam bases ideológicas de esquerda e direita, mas sim as bases de peronismo e anti-peronismo, que vem desde 1945”, disse ao IG, no último dia 29, Paola Zuban, cientista política, mestre em Comunicação Política, co-fundadora, sócia e diretora de pesquisa na consultoria Zuban Córdoba y Asociados. Ariel Palácios, correspondente da Globo News, divulgou no último dia 19 nas redes sociais: “O peronismo é uma salada ideológica que mistura centro, esquerda e direita ao mesmo tempo….e que até se infiltrou nos governos não-peronistas. É o partido que recebeu criminosos nazistas de braços abertos, teve uma guerrilha de esquerda cristã, uma milícia de extrema-direita…é o mesmo partido que foi alvo de massacres por parte da ditadura militar…mas que meses antes da volta à democracia, para tentar voltar ao poder, fez um pacto de anistia com os militares, que acabou fracassando. É o partido que foi amigo de ditadores de direita, fascistas declarados, inclusive, e de ditadores de esquerda”.(Publicado originalmente em novembro de 2023)

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