Darci e Hélio Iscaro são do tempo que casamento era coisa séria. Eles completaram bodas de ouro há três anos. O casal que gerou três filhos não se larga. Hélio tem 82 anos. É comerciante há 57. Ela tem 78 anos e é dona de casa. E apesar de tanto tempo, continuam se considerando namorados. A união deles é coisa de outra época, bem mais romântica e menos pragmática. Época recheada de palavras que estão caindo em desuso quando o tema é relacionamento: amor, compromisso, paciência, cuidado, respeito, fé. Do alto dos mais de 19 mil dias que estão juntos, Darci e Hélio ensinam, nesta entrevista, a como manter um casamento firme e forte sem perder a ternura do namoro…
Dona Darci, quando e onde vocês se conheceram?
Eu tinha 14 anos quando eu vi o Hélio pela primeira vez. Estava indo trabalhar numa fábrica quando vi um pracinha(soldado). Ele estava de bicicleta e ia para o quartel. Este foi o primeiro ‘tchan’. Para mim é como se hoje ainda fosse aquele dia. Depois, passamos a flertar(paquerar). Só fomos namorar quando eu fiz 23 anos. Namoramos e noivamos por dois anos. Daí, casamos…
E quais são as lembranças do senhor?
Fui trabalhar num bar, passava de ônibus e via minha futura esposa. E ela olhava para mim. Eu pensava: um dia vou conversar com ela. Isto aconteceu numa quermesse do clube Jabaquara. A Darci deixou a festa com uma amiga e fui atrás. Eu a chamei, ela parou e me esperou. Finalmente conversamos.
Considera isto amor à primeira vista, dona Darci?
Sim! Do dia em que eu vi o Hélio vestido de pracinha, na bicicleta, até o namoro, passaram-se oito anos. Eu tive outros namorados neste período. Mas os namoros daquela época não eram iguais aos de hoje. E o meu namoro com ele dura até agora!
E para o senhor?
Também acho que foi amor a primeira vista. Eu tinha amizade com os irmãos dela. A família da Darci frequentava a igreja. Eu pensei: quando começar será para valer! Mas, naquela época namoro era ir à quermesse, passear a pé. Poucas pessoas tinham carro…
Dona Darci, quando e onde se casaram?
No Santuário Nossa Senhora Aparecida, na vila Rami. O padre Antônio de Pádua Ferraz foi quem celebrou o casamento. Nesta igreja fiz a primeira eucaristia e crisma. Lá nos casamos, comemoramos bodas de prata e de ouro. Acredito que foi Nossa Senhora quem nos abençoou.

Brigaram muito durante estes 53 anos de união, dona Darci?
As vezes, por causa de filhos, a gente se desentendeu. Mas nós tínhamos um combinado: poderíamos até brigar. Mas dormir separados, nunca. A não ser por doença… Honramos o sacramento que recebemos, aquilo que foi prometido no casamento: um ser fiel para o outro, na alegria, na tristeza, na doença. Sempre tivemos uma religião. Isto nos ajudou muito.
E qual é o seu ponto de vista sobre as brigas, senhor Hélio?
Quando se casa é preciso ter respeito. Pelo casal e pela família. A vida a dois é assim: se um está nervoso e fala um monte de coisas, o outro deve ficar em silêncio. Depois, quando o clima acalmar se tenta o diálogo. Se um fala e o outro rebate, aí acontece a briga. Muitos casais de hoje separam assim. Um tem de ouvir o outro e falar quando todos estiverem calmos.
Como conseguem ser namorados apesar de tantos anos juntos?
Uai? Depois de 53 anos de casamento, como é que agora, com a nossas idades, quando mais um precisa do outro, não seríamos namorados? Vamos jogar fora tudo o que construímos? É claro que existem momentos que ficamos tristes ou chateados. Mas é preciso ter muita compreensão, muita paciência. E sempre ter Deus. A gente prometeu!
O senhor concorda?
É isso aí. Depois dos 50 aparece uma dorzinha aqui, uma dorzinha lá. Mas seguimos em frente juntos…

O senhor ainda consegue enxergar sua esposa como ela era a 50 anos atrás?
Consigo. Ela está sempre se preocupando comigo. Aliás, se preocupa mais comigo do que com ela própria. Eu estaria como um elefante de tão gordo se eu fosse comer tudo o que ela quer.
E a senhora?
Com certeza. Eu o vejo como ele era. A única coisa que ele não tem mais é o cabelo. O resto é igual. Eu cuido dele como cuido dos meus filhos.
Como vocês veem tantos casamentos que duram poucos anos ou até mesmo meses, senhor Hélio?
O casamento tem que durar. Eu, por exemplo, gosto de pescar e jogar futebol. Mas sei que tenho de sair com a minha esposa também. Ela gosta de igreja e eu vou junto.
Qual a opinião da senhora?
Casamento que não dura é porque falou compromisso e fé. Casamento precisa de cumplicidade. Marido e mulher precisam estar juntos e pensar que devem fazer um ao outro felizes. Também é preciso compreensão e paciência. Se não tiver Deus ajudando…
Existe um segredo para se estar junto há tantos anos, dona Darci?
Se o casal se ama de verdade é preciso saber que vai casar para fazer o outro feliz e vice-versa. Casamento sem amor não dá certo. E quando os filhos vierem é preciso mais amor ainda para não se chegar numa separação. Numa situação assim, as crianças sofrem muito. Pelos filhos é preciso cumprir o compromisso assumido…
O que o senhor pensa disto?
Acho que o segredo para continuar sendo um casal de namorados mesmo depois de 53 anos é sempre um dos dois calar na hora de uma discussão. Também é preciso lembrar o sofrimento dos filhos por causa de uma separação. Se as crianças ficarem doentes, só a mãe vai cuidar deles? O pai precisa estar junto. Não sei como existem pais que conseguem ficar sossegados sabendo que os filhos estão sendo cuidados apenas pelas mães…(Fotos: Álbum de família)
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