IMBECILIDADE

imbecilidade

Nesta semana, devido ao concurso do Jundiaí Agora que sorteou três pares de ingressos para o filme ‘Moonfall’, aprendi que tudo que sei sobre a Lua está errado. Ela não é um satélite natural do nosso planeta. Segundo uma pessoa que participava do concurso, a Lua nada mais é que um filamento luminoso, igual aos fiozinhos dentro de lâmpadas. Seria uma espécie de luminária que deixa a Terra mais clara à noite. Como o objetivo do concurso era saber o que os participantes fariam se o roteiro do filme virasse realidade – a Lua sair de órbita e se aproximar da Terra -, falei com o fulano ‘inbox’. Primeiro porque a resposta dele não se enquadrava. Segundo, por ele ter escrito uma mentira. Foi nesta hora que ficou claro o nível de imbecilidade que muitas pessoas podem chegar. “Para mim a Lua é uma luminária e nada mais. Ninguém sabe o tamanho verdadeiro dela. Quem foi pra lá medir e pesá-la? Diz aí?”, questionou o negacionista.

Dei corda. Mesmo sofrendo, queria ver até onde a imbecilidade de um defensor do indefensável poderia chegar. E, depois desta experiência cheguei à conclusão de que se o inferno existe, ele está cheio de negacionistas azucrinando, dia e noite, segundo após segundo, quem acredita no conhecimento acumulado da humanidade. Primeiro passei o tamanho e peso do satélite e disse que se ele não acredita na ciência, que não fosse hipócrita. Teria de parar de usar o celular, redes sociais, dirigir seu automóvel, ver televisão. Também não deveria mais usar cartão de crédito e os banhos deveriam ser frios visto que tudo isto é fruto da ciência. A resposta mostrou como funciona a mente anuviada de quem é assim. “A ciência é uma mentira. Disto eu não tenho dúvida. Tudo o que você disse é fruto do trabalho do homem e não da ciência que só cria coisas para destruir a humanidade como estes vírus malditos. Quem você acha que os criou?”, perguntou.

Para este sujeito(e com certeza muitos outros) é como se a ciência não fosse algo feito por homens e para os homens. Na cabeça dele, é uma entidade à parte que tem vida própria e faz o que bem entende. A ciência golpeia o humanos diariamente, pelas costas, enquanto trabalhamos duro para conseguir tudo o que está aí, nas nossas casas, ruas, espaço ou museus. Somos vítimas dela. A ciência é uma mistura de Bruxa Má do Oeste, Dick Vigarista, dr. Octupus, Thanus e dr. Hannibal Lecter, para ficar só em personagens ficcionais. A ciência sempre quer devorar as nossas ‘pobres alminhas’, como diria D. Jerônimo Taveira, ser detestável do livro “A Muralha”, de Dinah Silveira de Queiroz.

Muita gente deve estar rindo ao imaginar que a Lua, de uma hora para outra, virou um filamento para alumiar nossos caminhos. Chega até ser romântico, mas não é de namoricos que está se tratando aqui. Outros estão lendo e se perguntando: ‘Este cara elaborou uma teoria revolucionária. Ele é um gênio. Como nunca pensei nisso?’. Eu e mais um punhado estamos com as caras embasbacadas com mais uma demonstração de como amassar, rasgar, cuspir e limpar o traseiro com os maiores avanços conseguidos pela humanidade. Mais uma demonstração de imbecilidade tosca e pulverizada através de alguns poucos cliques sem um pingo de pudor.

O cientista – seja lá de qual instituição, seja lá de qual país, seja lá de qual área – leva anos e anos se dedicando, buscando encontrar respostas, achar soluções para tornar nossas vidas mais práticas, confortáveis, seguras, saudáveis. Ele tenta achar respostas para entendermos quem somos, de onde viemos e o que acontecerá conosco. Já os que deveriam buscar o conhecimento que não têm aproveitando-se da própria internet ou visitando uma biblioteca, preferem elaborar teorias idiotas e espalhá-las no mundo virtual.

Que fique claro que não ter conhecimento não é vergonha nenhuma. Vergonha é ver alguém da espécie homo sapiens, que quer dizer ‘homem que sabe’, carregar a ignorância com o orgulho de quem carrega o estandarte com as cores de sua nação. Uma coisa é não ter podido aprender. Outra é desdenhar do que a ciência fez, faz e fará.

E como vergonha pouca é bobagem é preciso compartilhá-la com os que comungam da mesma forma de pensar(?). Estas pessoas, unidas, ganham força usando as redes sociais em seus celulares(que contradição!) para espalhar a imbecilidade, o lixo da Idade Média, que carregam em seus cérebros obtusos. Eles acham!!! E seu fulano acha, logo ele existe! O achismo deles tem o dom de transformar suas crendices em verdades incontestáveis, credenciando-os a achincalhar com o que nos trouxe até aqui, a ciência. É a pedra filosofal da ignorância. Onde toca vira cocô. Já aquilo que os cientistas levaram séculos tentando compreender vai para o lixo porque o grupelho zurra pelas redes sociais. Eles dizem ‘eu acho’ e Einstein, Copérnico, Galileu, Darwin, Leonardo Da Vinci, Stephen Hawking, Carl Sagan, Marie Curie, Tesla e tantos outros, devem pegar seus escritos, colocar embaixo dos braços, enfiar os rabinhos no meio das pernas e sair em desabalada carreira. Afinal, o que é mais comprobatório do que um sonoro ‘eu acho’ copiado e colado à exaustão numa rede social???

Aliás, sobre a invasão da imbecilidade no Facebook, Whatsapp, Instagram e tantas outras, lembrei ao homem da luminária pendurada no céu a frase do filósofo e escritor Umberto Eco publicada no jornal Il Messagero: “As redes sociais deram o direito à palavra para legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho e não causavam nenhum mal para a coletividade. Nós os fazíamos calar imediatamente, enquanto hoje eles têm o mesmo direito de palavra que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis”. Aí, ele ficou bravo. Disse que acredita no que quiser, o que de fato é direito dele. E afirmou também que não creio no achismo dele porque sou ‘gado’.

Seres ditos humanos de todas as épocas foram capazes de tudo: jogar mulheres na fogueira sob a acusação de bruxaria; queimar livros; escravizar, matar por causa da raça, religião ou orientação sexual do outro; criar formas de extermínio eficientes, usar a bomba atômica. A semana que acaba foi marcada pela defesa da criação de um partido nazista no Brasil durante um podcast. Também teve um sujeito fazendo suposta saudação de Hitler numa emissora de televisão. Daí, depois de tantas e tantas demonstrações despudoradas de ignorância e de defesa intransigente dela, ficam as perguntas: O que aconteceu conosco? Estaríamos emburrecendo e regredindo ao invés de evoluir? A que nível pode chegar a imbecilidade de alguns? Até quando um zé ruela qualquer dará pitaco sobre algo que afeta e coloca em risco a vida dos outros alegando que é seu direito de expressão? O que será de nós? Viveremos num debate eterno entre a ciência e o achismo?

OUTRO ARTIGO DE MARCO ANTÔNIO SAPIA

O INCISIVO CENTRAL

Talvez o duelo entre luz e trevas, conhecimento e imbecilidade, deverá continuar acirrado por muitos e muitos anos. Mas há esperanças. O brasileiro Miro Latansio Tsai, de apenas cinco anos, foi reconhecido como a pessoa mais jovem do mundo a identificar um asteroide. O garotinho, com certeza, sabe que a descoberta dele não é uma bolinha de luz feita para deixar o céu mais bonito, animadinho, ou que serve para fazermos pedidos ao avistá-la. E também sabe que a Lua é um satélite da Terra. Tomara que existam milhares de meninos e meninas assim. Eles terão uma trabalheira danada para acabar com a Idade Média que muitos querem que vivamos atolados porque é muito mais fácil e cômodo não pensar. PS: a resposta do boçal afirmando que a Lua é um filamento luminoso foi deletada do concurso.(Foto: Cena do filme Debi & Loide)

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MARCO ANTÔNIO SAPIA

É jornalista responsável pelo Jundiaí Agora

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