Não há como dissociar democracia de imprensa livre. Contudo, o jornalismo, no Brasil, vem se tornando uma profissão de risco. De acordo com a ONG Repórteres Sem Fronteira, “ao longo da última década, pelo menos 30 jornalistas foram assassinados no Brasil”, o que faz do país “o segundo país mais letal da região neste período para jornalistas”. Segundo a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, “pelo menos 230 profissionais e veículos de comunicação sofreram algum tipo de ataque em 2021. O número representa um aumento de 21,69% em relação a 2020” .
Como anota o jornalista Carlos Alberto Di Franco, “está surgindo, de forma acelerada, uma nova ‘democracia’ totalitária e ditatorial, que pretende espoliar milhões de cidadãos do direito fundamental de opinar, elemento essencial da democracia”. Porém, como bem adverte, “não podemos sucumbir às pressões dos lobbies direitistas, esquerdistas, de orientação sexual ou racial. O Brasil eliminou a censura. E só há um desvio pior que o controle governamental da informação: a autocensura”.
É isto o que quer o Presidente da República e os papagaios que o adornam. Em não podendo proibir a imprensa livre, tentam constranger a imprensa livre a ficar calada. No debate da Rede Bandeirantes, por exemplo, atacou a jornalista Vera Magalhães com o claro propósito de podar-lhe a fala, dizendo “Vera, não podia esperar outra coisa de você. Eu acho que você dorme pensando em mim, você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como este, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”. Não muito tempo depois, a grosseria se repetiria na fala de um deputado estadual que a atacou com dizeres análogos e propósitos igualmente não republicanos(foto).
Não sem razão, portanto, a ONG Repórteres Sem Fronteiras conclui que “as relações entre o governo e a imprensa se deterioraram significativamente desde a chegada ao poder do presidente Jair Bolsonaro, que ataca regularmente jornalistas e a mídia em seus discursos”. Lamentavelmente, “o assédio e a violência online contra jornalistas, especialmente contra mulheres, continuam a crescer”.
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Mas que o jornalismo brasileiro não esmoreça. Como ressaltou Ruy Barbosa, “a imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa, ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça”.(Foto: Reprodução)

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