TCHUTCHUCA do Centrão

Tchutchuca

Essa semana, o Presidente Jair Bolsonaro foi chamado de Tchutchuca do Centrão por um cidadão que o abordou nos arredores do Palácio do Planalto. Antes, o jovem o havia questionado sobre temas que lhe eram caros, tais como o ato legislativo, não vetado pela presidência, que esvaziou o instituto da delação premiada.

Como o Presidente Jair Bolsonaro não respondia, o rapaz foi subindo o tom até ser agredido por um segurança, que lhe derrubou. Foi então que chamou o Presidente da República de Tchutchuca do Centrão, além de outros impropérios, dos quais “covarde” foi o que mais chamou atenção – pelo que se seguiria depois.

O Presidente da República, seguro pelos asseclas que o rodeavam, partiu para cima do questionante e tentou tomar o aparelho celular com o qual filmava o imbróglio, numa cena inesperada até para um sujeito incontido. Na sequência, parece ter se arrependido e deu voz ao cidadão, respondendo a seus questionamentos.

Das várias questões que o episódio suscita, chama atenção o fato de que, também essa semana, o Presidente Jair Bolsonaro havia afirmado que “liberdade para nós é algo inegociável”. Aparentemente, no entanto, referiu-se apenas à liberdade de dizerem e fazerem o que lhe convém. A maneira como tentou calar o youtuber demonstra que não tem apreço verdadeiro pelas liberdades humanas, dentre as quais a de manifestar o pensamento, assegurada pelo artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal.

É muito difícil, se não impossível, conceituar o que é “liberdade”. Contudo, é fácil – e até intuitivo – dizer o que ela não é. E evidentemente não está no rol das liberdades tentar calar alguém, muito menos à força – ainda mais porque o cidadão, chamado Wilker Leão, questionava o mandatário de cara limpa e até então educada. Revoltou-se apenas depois de haver sido derrubado por seguranças do Presidente da República – algo que também não está na esfera de direitos de ninguém.

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A verdadeira liberdade pressupõe um Estado plural, no qual opiniões e modos de ser diferentes convivam harmonicamente. É o que está posto no Preâmbulo da Constituição, que pretendeu “instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias”.

Este é um objetivo impossível aos que simpatizam com ideias autoritárias. São pessoas que bradam pela liberdade com uma foice nas mãos. É gente pequena demais para um país grande como o Brasil.(Foto: Reprodução/Internet)

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