Juliana Eva celebra seu corpo e as histórias que ele carrega em Festejo. Abordando a dualidade entre revelar-se para o mundo e redescobrir a individualidade, a faixa marca sua estreia na música e estabelece uma poderosa metáfora para o seu diagnóstico de fibromialgia. Com produção musical de Donatinho, o trabalho chegou às plataformas de streaming no último dia 3. Festejo surgiu há três anos, durante um período de redescobertas pessoais. Composta por Juliana, a letra da canção retrata a experiência íntima e introspectiva da artista diante de sua própria nudez, que é tida como uma forma de oração para o autoconhecimento, enquanto seu corpo é apresentado como uma casa selvagem, destacando as memórias e cicatrizes que florescem nele.
Juliana Eva é uma cantora e compositora natural de Jundiaí. Sua relação com a música começou ainda na infância, através das cantigas de roda ensinadas por sua mãe, e evoluiu para uma trajetória artística diversificada que incluiu experiências como cantar em vagões de trem e junto de uma trupe circense, até participar da criação do Manas em Roda, o primeiro grupo de samba exclusivamente feminino de sua cidade natal. Após ser diagnosticada com fibromialgia, ela encontrou no canto o caminho para continuar se movimentando, mesmo quando seu corpo não podia mais dançar. Seu nome de batismo é Juliana de Deus, mas foi através do nome artístico “Eva” que sua persona se firmou, refletindo não apenas uma homenagem à mítica figura rebelde e buscadora de prazer, mas também simbolizando uma artista determinada a desafiar convenções e abrir novos caminhos na música brasileira. Atualmente, ela se prepara para lançar seu primeiro disco.
O músico e produtor Donatinho, assina os arranjos e produção musical da faixa, que mescla elementos do pop e da MPB ao incorporar bases eletrônicas e instrumentos orgânicos à voz marcante de Juliana Eva, apresentando ao público sua pluralidade de influências e sua versatilidade na música. Ao fundo da música também é possível ouvir um realejo, instrumento tradicionalmente tocado por artistas nômades e circenses, ajudando a compor o espírito lúdico e celebrativo que o título da faixa sugere. “É curioso porque Donatinho criou a base da música enquanto estava internado em um hospital, um ambiente que simboliza o oposto de tudo isso”, revela Juliana.
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Ainda no período de reconexão, foi ao ver o trabalho da artista visual Dani Ventura que a ideia para o clipe surgiu. No vídeo dirigido pela multiartista Anná, Juliana Eva aparece com adornos de entranhas e um coração quase maior que seu corpo e dança entre cômodos de uma casa e, posteriormente, na rua, indo de encontro ao mundo exterior. Os adereços foram confeccionados por Ventura. Dentre as inspirações imagéticas temos muita latinidade: elas vão do cineasta espanhol Pedro Almodóvar a artista mexicana Frida Kahlo, passando também por obras da fotógrafa argentina Delfina Carmona. “Frida fez da cama seu espaço de mergulho criativo. E eu costumo passar muito tempo na cama por conta da fibromialgia”, diz. Esse simbolismo é visto em cenas que remetem à obras como “As Duas Fridas” e “A Coluna Partida”, sendo a segunda a inspiração para uma das imagens mais tocantes do clipe, onde fotos 3×4 de mulheres da família de Juliana estão dispostas sobre sua coluna.
Tal obra desperta em nós, ouvintes, curiosidade e muita vontade de dançar. Por esse motivo precisamos saber um pouco mais sobre o que está por vir, como pretende impactar a realidade de quem consumir sua música e Juliana, como boa jundiaiense receptiva aceitou ter uma pequena conversa comigo:
Quais spoilers ligados a shows e turnê você pode dar para nós?
Por enquanto estou focada em finalizar a produção do meu álbum, mas muito em breve vai rolar show de pré-lançamento com repertório inédito!
A sua condição médica desempenhou grande importância na execução da obra e imagino que não foi fácil. Qual conselho daria para pessoas que assim como você, são diagnosticadas cedo com fibromialgia?
O conselho que eu daria pra essas pessoas é que elas compreendam o corpo como um grande oráculo. A fibromialgia é uma doença que nos convida (muitas vezes de formas nada gentis) a olhar para os nossos limites e ter noção dos nossos limites é poder, pois só à partir do reconhecimento deles é que pode existir um ponto de encontro consigo e com o outro. E um outro conselho a essas pessoas é que estejam sempre em busca de ferramentas, práticas, hábitos que lembrem o corpo que ele também é um território de beleza e prazer, e não só de dor.
O que você espera causar aos ouvidos e olhos de quem for consumir sua mais nova obra?
Espero que as pessoas possam ver um pouco da beleza que sempre instigou meus olhos dentro do meu cotidiano e possam se relacionar de forma íntima e sensível com minhas palavras, meu corpo, minha voz. E, sendo portadoras de fibromialgia ou não, possam encontrar pontos de consonância com as histórias que meu corpo conta em Festejo.
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ANNA CLARA BUENO
De nome artístico Anubis Blackwood, é drag queen, artista performática e visual, professora de inglês, palestrante e produtora cultural. É membro do coletivo Tô de Drag, o primeiro de arte drag de Jundiaí e região. Colabora com o ‘Grafia Drag’, da UFRGS. Produz o festival Drag Vibes em colaboração com o coletivo, para democratizar a arte drag, mostrar sua versatilidade e levá-la a espaços e públicos novos por meio de performances plurais e muito diálogo.
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