LONGAS-METRAGENS brasileiros misturam ficção e realidade

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Se a 72ª  Edição do Festival de Cinema de Berlim encerrou no último domingo para os filmes que estrearam nele a história apenas começou. Este é o caso dos três longas-metragens brasileiros “Fogaréu”, “Mato em Chamas” e “Três Tigres Tristes”.

Fogaréu participou na seção Panorama e foi escolhido o terceiro melhor pelo público. Tendo como cenário a cidade de Goiânia, onde a cineasta Flávia Neves nasceu, usou recursos da fantasia para criar metáforas de histórias reais com temas como política, agronegócio, machismo, tráfico de drogas, trabalho escravo, ameaça a natureza e povos indígenas, incesto, abuso sexual….

Fernanda, vivida por Bárbara Colen(que atualmente também está na novela global “Quanto Mais Vida Melhor”/foto ao lado), volta para Goiás com intuito de esclarecer questões sobre sua origem, trazendo na bagagem as cinzas da mãe e muita coragem para enfrentar preconceitos e diferenças de ideias entre ela e sua família.

O tio está em plena campanha eleitoral para conseguir o segundo mandato de prefeito, defende os interesses dos latifundiários, já que também possui várias cabeças de gado, e vive em conflito com os povos indígenas da região. Além disso, mantém duas mulheres como “filhas adotivas” que na realidade trabalham como se fossem escravas para a família. Ambas tem ainda problemas de fala e certa deficiência mental. “Essas histórias de estupro, incesto e escravizados existem na região há mais de 100 anos e já foram abordadas em tese de doutorado”, conta a diretora Flávia, revelando que sua mãe também foi adotada. “São histórias que precisam ser faladas, algumas pessoas se calam mas muitas querem muito conversar sobre isso”.

Durante 100 minutos, a produção intercala os problemas e reflexões, usando também a figura de um super-herói que é um mágico que sabe de tudo. “Adaptei alguns personagens também aos atores conforme fui escolhendo o elenco”, diz a diretora. Para a protagonista Bárbara, o filme é de extrema importância já que retrata várias famílias brasileiras parecidas com esta. “Ficar por lá um tempo me ajudou a me colocar no lugar destas mulheres que foram violentadas a vida toda, precisamos contar estas histórias escondidas por tantos anos”. A atriz comenta ter sido fundamental a confiança no time, principalmente na diretora. “É um filme muito sensível, a Flávia escreveu sua história e pude ajudar a dar uma voz a ela”.

A diretora observa ainda que a natureza no local está praticamente destruída. “O lugar que se chama Mato Grosso praticamente não tem mais mato nenhum, é triste demais, assustador”. Sobre como o filme será recebido no Brasil, a diretora diz não ter certeza. “Querem que a gente pare de falar, parece que a arte tem incomodado muito”.

No longa “Três Tigres Tristes”, Gustavo Vinagre(foto principal) expõe por meio de três personagens principais diversas temáticas como doenças (Covid, HIV, Câncer…), sexualidade, trabalho, desemprego, música, política, etc e abusa de efeitos visuais e humor para dinamizar os oitenta e seis minutos do longa. Filmado na capital paulista em meio a pandemia, ironiza a constante mudança de regras ou mesmo o fato de alguns brasileiros ignorá-las. “Tentamos no entanto manter as máscaras durante a filmagem mesmo estando vacinados para proteger melhor os atores”. A ironia chega inclusive ao Rio Tietê que aparece no filme como uma “prainha” ou mesmo nos lapsos de memória dos personagens. “Temos a clássica frase de que o brasileiro não tem memória, quis enfatizar isso”. Gustavo contou ainda com algumas composições musicais feitas especialmente para o filme.

Voltando ao Centro-Oeste o filme “Mato Seco em Chamas” tem 156 minutos mas consegue prender a atenção mesmo somando quase duas horas e meia. Novamente a ficção se mistura com a dura realidade de uma comunidade na Ceilândia, Distrito Federal, na qual um grupo de mulheres dominam a cena do crime negociando ilegalmente drogas e petróleo.

Os diretores Adirley Queirós e Joana Pimenta(na foto acima com o roteirista João Matos) contam principalmente a vida de Chitara e Léa, que lideram um grupo de criminosas que se denominam “gasolineiras”. Elas tem o mesmo pai e são temidas na região.

Não só os “esquemas” montados por elas fazem parte das cenas mas seus desejos, relações amorosas, familiares e os confrontos com a polícia já que Léa é uma das presidiárias do longa. A política também é tema em diversos momentos, ironizada ou mesmo documentada com cenas da televisão brasileira, em alguns dizeres e gestos, ou ainda na tentativa da fundação do partido PPP, Partido do Povo Preso.

Tanto “Mato Seco em Chamas” quanto “Três Tigres Tristes” estrearam agora em fevereiro em Berlim na seção Fórum. Agora fica para os envolvidos nas produções conseguir divulgar e exibir ao máximo possível as mesmas pelo mundo. E aqui em Berlim a expectativa de novos trabalhos brasileiros sendo feitos para serem exibidos então no Festival na edição de 2023.

SANDRA MEZZALIRA GOMES

Jornalista jundiaiense em cobertura especial para o Jundiaí Agora. Mora na Alemanha há duas décadas

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