Quando eu era bem pequena… lá pelos quatro anos, em minhas percepções inocentes, tinha a ilusão de que Jesus nascia no Natal e morria meses depois, na Semana Santa (época respeitada com rigores antigos em casa)… e por isso era eternamente chamado de Menino Jesus.
Lembro também que minha mãe brincava, dizendo na véspera do ano novo:
– O velhinho está morrendo e o menino está chegando…
E eu, nascida e criada em Nárnia, com intercâmbios no País das Maravilhas, fantasiava que Esse Menino que estava chegando pouco depois do Natal, viveria mais que o próprio Menino Jesus.
Grande injustiça, afinal Jesus (me diziam), era filho Daquele poderoso Homem barbado, bravo com o dedo apontado pro alto, do quadro da sala de casa.
Então o Homem estava bravo com razão… seu Filho morreu menino…
Um dia, num raro momento de atenção durante a missa da Sexta-Feira Santa, ouvi que Aquele Menino havia morrido para pagar meus pecados.
Pronto… nunca mais passei de olhos abertos diante do quadro da sala… e tentava imaginar por que minha mãe enfeitava a casa com a foto do Pai do Menino que morreu por minha causa. Mas nem me atrevia a perguntar.
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Então vinha aquele domingo em que o almoço era mais caprichado, eu ganhava ovos de chocolate, trazidos por um coelho para comemorar a volta do Filho do Homem do quadro e Ele (me diziam), havia saído vivo de dentro do túmulo. E eu pensava:
-Por minha causa enterraram Esse Menino vivo, Ele se virou sozinho e conseguiu sair de dentro do túmulo.
Pronto… ele deve estar por aí atrás de quem conheça seu Pai… cuja fotografia se encontra na minha sala…
É o fim. Quando Ele aqui chegar, vai ser um estrago e eu espero que minha mãe esteja trabalhando, afinal ela sabe do meu pecado (eu costumava encher as mãozinhas com amendoins do saco da venda do Seu Arthuro Loschiavo e comia escondido), e foi por este pecado que o Menino morreu.
…
Eu cresci. Parei de furtar amendoins. Eu me encontrei com o Homem do quadro e quer saber? Ele riu das minhas histórias e mesmo depois de tantas tentativas de me mostrar que Ele e o Menino são o mesmo, nunca se cansou de mim.
E o Menino, que nunca morrerá, continua nascendo… todos os dias, o tempo todo em todos os lugares!!! Feliz Páscoa!

ROSITA VERAS
É escritora, ghostwriter e articulista.(Ilustração: Pinterest)
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