SAUDADE legítima

Dos quarentões pra cima, eu aposto que essa imagem traz uma saudade dolorida. Tudo junto e misturado, compartilhando a mesma tela, num cenário de simplicidade, cumplicidade e amizade.

Não existe mais isso? Ou hoje a entrega não é completa? A gente oferece a semipresença da semi-ausência. Sim, porque a maioria de nós vive (por questões legítimas de trabalho, compromissos familiares e afins) paralelamente uma realidade virtual, com o celular na mão o tempo todo. Do outro lado da tela, tem-se a semi-ausência da semipresença… física… porque  também estamos lá de alguma forma… e já é possível de forma visível, fora da tela, com nossos “avatares”, hologramas… estamos em dois lugares, ou mais, ao mesmo tempo…  somos, desde sempre, os gatinhos de Schrödinger, trazidos agora, do ficcional experimento da mecânica quântica para o metaverso. 

Os tempos mudaram. Sempre mudam… e a tecnologia nos permite, quase nos obriga, a viver assim.

E tudo bem.

Eu tento me policiar quanto ao uso de telas. Gosto de um bom papo… olho no olho… mas outro dia, tomando um café na padaria, com uma amiga, só me dei conta de que estávamos ausentes na nossa presença, quando as baterias de nossos celulares acabaram ao mesmo tempo. Então nos olhamos e dissemos “a gente vai ter que  conversar…”. Rimos, mas nada tinha de engraçado naquilo. Tive a péssima sensação de pertencimento ao descaso.

A tecnologia nos permite encontrar pessoas distantes, manter contato, enviar fotos, vídeos e tantas outras vantagens. Não deixa de ser uma forma de matar a saudade. Mas o abraço, o cheiro, o olhar, o captar sentimentos e emoções tão necessários… isso ela não permite. Penso que nem o enésimo G permitirá.

Um dia eu estarei longe dessa amiga e ficarão os momentos que passamos juntas, o som do sorriso, a vibração da voz, o brilho do olho. É disso que eu, ou ela, sentiremos falta, sentiremos saudade.

Ok… buscaremos  no celular ou qualquer mecanismo do momento, nossas imagens e vozes, mas a essência não, pois esta é captada por um sentido antagônico aos mais avançados artifícios virtuais. 

Vou além…

Pode parecer nostálgico e retrógrado, mas da geração que hoje se emociona com a imagem acima, alguns acreditam que os súbitos avanços da Inteligência Artificial nos distancia da emocional. 

Fato.

Mas sempre foi e será porque a vida é cíclica. Mudar ou aceitar mudanças dói.

Lá no início do século 20, Euclides da Cunha escreveu em Os Sertões:  “Viver é adaptar-se”… imagine como foi, naquela época, a adaptação das pessoas à Revolução Industrial. Houve distanciamento entre as famílias? Sim… muito providencial e próspero, aliás. 

Segundo Darwin, a espécie mais forte não é a que sobrevive, mas a que melhor se adapta.

E a gente tem total capacidade de adaptação… a nós mesmos, ao metaverso e, com a força que nos move, podemos mudar resgatando valores morais, como respeito, tolerância, simplicidade, humildade.

Ah… mas os valores eram outros…

Sócrates dizia, 400 anos a.C. sobre os jovens:

“Os jovens de hoje gostam do luxo.

São mal comportados,

desprezam a autoridade.

Não têm respeito pelos mais velhos

e passam o tempo a falar em vez de trabalhar.

Não se levantam quando um adulto chega.

Contradizem os pais,

apresentam-se em sociedade com enfeitos estranhos.

Apressam-se a ir para a mesa e comem os acepipes,

cruzam as pernas

e tiranizam os seus mestres”.

Mas hein… Era um Sócrates nostálgico, pouco empático… relutante em adaptar-se.

E esse discurso se estende através do tempo. Quantos de nós já o repetimos em outras palavras?!

Eu quero seguir aprendendo, me adaptando às engenhocas cibernéticas, não me mostrar blasé em relação aos avanços da tecnologia, ao contrário, quero acreditar que é o ser humano e não ela, a  tecnologia, quem causa o distanciamento. 

OUTROS TEXTOS DE ROSITA VERAS

‘LEMÃO’ E O SAGRADO FEMININO

É CARNAVAL…

@NARCINSTA.COM

E assim, procurar estar bem com as pessoas do meu convívio, como essa turma da foto, cujo calor humano, nem essa janela e ventilador eram capazes de dissipar.

Que a gente sempre traga pro mundo real, as maravilhosas possibilidades que nos traz o mundo virtual… como o reencontro (real) com pessoas queridas…

Que tal?

ROSITA VERAS

É escritora, ghostwriter e articulista.(Ilustração: Pinterest)

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