Se você deseja fazer um menor infrator, não se preocupe pois o Brasil possui um excelente caldo de cultura para isto. À miséria e à violência basta adicionar alguns ingredientes. Tome nota:
- Aposte na desestruturação da família. Nada melhor à criminalidade que uma criança largada no mundo. Troque o convívio familiar por um bom boteco e deixe seu filho em casa sozinho – fora da escola, de preferência, para que ele não tenha bons referenciais. Este primeiro ingrediente deverá fazer boa parte do trabalho.
- Garanta que seu filho não arque com as consequências de seus atos. Mostre que você sempre dará um jeito nas coisas, de modo que ele se sinta à vontade para cometer transgressões. Ajude-o a esconder deslizes, a fim de que não crie senso de responsabilidade. Mostre que a impunidade é possível.
- Encoraje-o a ganhar dinheiro fácil, pois melhor que trabalho árduo é “dar um jeitinho”. Desde pequeno, desestimule o estudo e nem pense em dar valor para o esporte. Lembre-se: nada que dê trabalho. Ele não pode se esforçar para alcançar os próprios objetivos.
- Tire a autoridade de professores. Se a criança for repreendida, fique ao lado dela e ridicularize o que a escola tiver a dizer. Se necessário, grite com os professores na frente de outros pais e quando chegar em casa diga: “o pai nunca deixará que briguem com você”.
- Aposte na intolerância e cultue maus exemplos. Contudo, não se preocupe muito com este ingrediente. O Brasil atual já está cheio de gente importante para fazer isto por você.
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Seguindo direitinho a receita, você terá um menor infrator. No entanto, para garantir, não se esqueça de ser você mesmo um mau exemplo! Não pague impostos, jogue lixo na rua e desrespeite os mais velhos. Depois, vá a uma passeata clamando por políticos honestos – afinal, a hipocrisia pode trazer bons frutos. Para finalizar, jogue a culpa nas más amizades. Assim como seu infrator, você foge das responsabilidades e merece o sono dos justos.
FILIPE LEVADA
É juiz de Direito
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