As dores e alegrias do MÊS DA DIVERSIDADE

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Já estamos em agosto, e daqui posso afirmar que estou a todo vapor para o Mês da Diversidade! É em agosto que nós, profissionais atuantes de Jundiaí, arregaçamos as mangas pois há muito a ser feito. Muitos não sabem, mas durante todo o mês de setembro temos uma programação riquíssima para quem se interessa ou se conecta com a causa LGBTQIAPN+. Agora é o momento em que, nós profissionais LGBTQIAPN+ junto ao Movimento Aliados projetamos eventos das mais diversas áreas para o Mês da Diversidade: temos rodas de conversa para quem quer ouvir e ser ouvide, festas e shows para quem adora se entreter, lançamentos de obras artísticas para entusiastas da arte, projetos sociais para quem se dispõe ao altruísmo, dentre tantas outras atividades e sim, existe uma programação extensa para todos os gostos.

Tive o privilégio de colaborar com este momento anual nos últimos dois anos e atualmente estou animada para o que está por vir no terceiro. Comecei participando da Oficina Drag, iniciativa de Karol Della Lastra e na época dirigida por Divinna Synik e também competindo para o Concurso Drag da Parada de Jundiaí 2022, evento que elege uma nova figura artística regional para representar nossa comunidade drag na Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de Jundiaí.

Olhando para trás percebo que devido a estes eventos minha vida profissional nunca mais foi a mesma e, se não tivesse ido, possivelmente não estaria sequer perto de ter conquistado o que hoje considero as maiores realizações da minha vida até então. Naquele concurso eu conheci as pessoas com quem eu trabalho hoje, afinal o Coletivo Tô de Drag se iniciou sem querer naquele dia! Vimos que queríamos mais daquilo, queríamos colocar a nossa cara no sol mais vezes, e percebemos que não seria tão fácil assim achar outras pessoas tão interessadas em reviver um pouco da cultura drag na região. Assim, o grupo do Whatsapp que no início era dedicado a Oficina Drag e Concurso Drag se tornou ao passar dos meses o grupo do nosso Coletivo, e assim encontramos uma maior força na arte compartilhada.

Embora na época já não fosse iniciante, nunca tinha percebido durante aqueles anos prévios o quanto estava perdendo por não ter esse tipo de colaboração, tanto com uma organização como a Aliados (ONG responsável por todo o lançamento dos eventos e pela Parada do Orgulho Jundiaí) quanto com outras artistas como as do Tô de Drag.

Eu falhei demais ao me fechar, fui excluída demais e dentro destes grupos, colaborando com todos os profissionais deles, eu passei a ver uma luz no fim do túnel. Estudei, projetei, dialoguei muito e atualmente consigo fazer coisas que sempre sonhei em fazer e outras que nem poderia imaginar que conseguiria. Em 2022 colaborei com este mês especial sendo competidora de um evento e frequentando demais, em 2023 produzi junto do meu coletivo o primeiro evento desenvolvido do início ao fim por mim, além apresentar parte da Parada e junto de Natiê Benite  pude colaborar na organização da Oficina Drag e do concurso que no ano anterior venci. Esse ano, estou ainda mais animada e contente por poder fazer minha arte, pois coisas ainda mais grandiosas estão por vir. Estou exausta, ansiosa mas também orgulhosa e cheia de motivação, afinal sei que todas as horas de trabalho e esforço não serão só para mim, são para toda a comunidade diversa da nossa região que merece cultura e momentos de qualidade que as inclua. Talvez seja este o maior ponto do Mês da Diversidade em Jundiaí: unir a comunidade e criar oportunidades.

Por mais que ame tudo o que faço, preciso também expor a realidade além do ideal. Sem querer chorar as pitangas, mas já assim fazendo, preciso enfatizar o quão trabalhoso é não só fazer parte desses projetos, mas também mantê-los. Precisamos tentar o nosso melhor para conseguir fazer eventos de qualidade mesmo com pouquíssimo recurso, precisamos divulgar da nossa própria maneira já que portais de notícias e influenciadores regionais em sua maioria nos boicotam ou não se interessam colaborar, precisamos nos organizar enquanto comunidade para que apoiar os projetos executados, que eles tenham boa adesão, além de diversas questões problemáticas com a própria Câmara dos Vereadores e prefeitura. É um balde de água fria que sou infelizmente obrigada a jogar.

Decidi mencionar as dificuldades após as idealizações e concretizações mencionadas pois é assim que nos sentimos anualmente: temos um marcador de tempo que nos possibilita a agraciar o que fizemos para chegar até aqui, trabalhamos todas as áreas do cérebro para criar bons projetos, mas durante o processo passamos por tantas complicações que sem dúvida alguma nos atravessam simplesmente por sermos pessoas diversas interessadas em ser causadoras de mudança. Certamente já vivenciamos situações que existiram apenas para nos desencorajar, mas não funcionou. Estamos enquanto comunidade fazendo a Parada do Orgulho Jundiaí desde 2006, e o Movimento Aliados já contou nessa longa trajetória com diversos ativistas excepcionais em sua diretoria e presidência. Além disso, muitas colaborações foram feitas com outras organizações que também prezam por fazer de Jundiaí uma cidade que acolha a todos.

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Este projeto, o Mês da Diversidade, criado para celebrar nossas vivências é algo que, se pararmos para pensar, toda a cidade deveria se interessar. Não sei os outros, mas a mim me interessa imensamente aprender sobre novas culturas e modos de viver e se eu puder ter uma nova experiência relacionada a isso na minha própria cidade, melhor ainda pois não preciso viajar ou coisa do tipo. Para celebrar conosco, basta a empatia e a vontade de se inteirar, coisa que não é difícil de se fazer. Para ouvir rap não precisamos ser periféricos, para ir a um terreiro Umbanda não precisamos ser negros e para prestigiar um evento com enfoque em diversidade não precisamos ser LGBTQIAPN+. Para nós, basta o respeito mútuo. Considere prestigiar essa programação este ano, tenho certeza que achará algum evento interessante e sei que sem dúvidas você irá enriquecer seu corpo e mente.(Fotografia – Gabriela Saturno/Artista drag – Gustavo Bittencourt/Parada do Orgulho LGBT+ Jundiaí 2023)

ANNA CLARA BUENO

De nome artístico Anubis Blackwood, é drag queen, artista performática e visual, professora de inglês, palestrante e produtora cultural. É membro do coletivo Tô de Drag, o primeiro de arte drag de Jundiaí e região. Colabora com o ‘Grafia Drag’, da UFRGS. Produz o festival Drag Vibes em colaboração com o coletivo, para democratizar a arte drag, mostrar sua versatilidade e levá-la a espaços e públicos novos por meio de performances plurais e muito diálogo.

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