NOSSAS VIDAS são com os que ficam…

nossas vidas

Sempre nos pegamos pensando nos amigos, nos parceiros, naquelas pessoas que circundam nossos ambientes. Preocupamo-nos pois alguns somem com a mesma velocidade com que surgiram e outros apenas passam por nós, sem deixar muitas marcadas, vivencias. Entretanto precisamos observar que nossas vidas são com os que ficam…

E o que seria ficar? Como saberíamos quem fica e quem vai? Como escolhemos entre este e aquele? Trata-se de algo que temos total controle? É possível fazer a escolha por antecipação? Perguntas como estas tomam nossas vidas, diariamente, e da mesma maneira que aquietam nossos sentimentos, deixam-nos em estado de atenção, pelas consequências que advêm deles.

Nem sempre nossas escolhas são as melhores. Isso porque as fazemos em momentos pouco razoáveis: ou em dias de muita euforia ou em dias de muita consternação. Raramente em dias que insistimos de chamar de “normais”. Daí, dependendo do lado da oscilação, a escolha recebe a tendência dela e a coisa se fecha, num circuito de muita euforia ou de muita consternação. E lá se vai mais uma escolha vã. Uma escolha de poucas realizações edificadoras.

Sabemos o que sentimos e sabemos o que significa cada sentimento e a origem dele, entretanto, somos pouco prudentes ao escolhermos parceria em momentos de dificuldades: optamos por pessoas da “vibe” do dia e, então, estaremos desperdiçando oportunidades de crescer e mudar o ritmo da vida; passamos a ter conosco, mais do mesmo. É bem comum que se fique com aqueles que nos parecem ser mais iguais a nós, nesses momentos; não buscamos novidades em situações de crise. Infelizmente.

É por isso que repetimos histórias: namoradas iguais, amigos iguais, parceiros iguais. Sempre sem mudar o lugar comum, sem sair da zona de conforto de nossas vidas. E, então, o crescimento interior não se completa e se estabelece uma roda-viva de repetições que têm inicio em algo que parece promissor, mas torna-se um fardo indigesto e pesado, num circulo que não avança nem se rompe: repete, repete e repete. A monotonia faz com que as coisas se tornem cansativas e doloridas, sem alcançar as esferas profundas do prazer e sem trazer a alegria na convivência. Quase um ritual satânico.

As escolhas eufóricas são cheias de um inovar. De um transbordar, porque a euforia já transborda por si, entretanto é necessário verificar essa transição entre a euforia e a chamada normalidade, uma vez que nessa entressafra podemos ter uma alteração grande de comportamento que nem sempre é ideal ou adequada.

Quando transitamos de uma para outra, o aconselhável é que mantenhamos nosso estado de alerta em segurança, para não vacilarmos e acreditarmos que tudo é belo e saudável: as coisas são aquilo que são, nada mais. Nem nada menos. A realidade as vezes nos prega peças que precisamos estar atentos para a resposta, sem nos julgarmos nem mais nem menos hábeis socialmente, apenas hábeis sociais, o que já é uma boa autoavaliação.

Em momentos de euforia corremos o risco de enxergar apenas o belo, o realizável e o superficial, sem analisarmos com profundidade as raízes da proposta, colocando-nos, enganosamente, em ciladas previsíveis, diante da nova aparição que se nos mostrou fantasiosa e firme, mas que traz em seu interior muita fragilidade e inconsistência, que somente serão percebidas no avançar dos tempos.

Realmente não é fácil escolher quem fica até o final nas nossas vidas. Tarefa das mais árduas e preocupantes, em especial para aqueles que se sentem autônomos e independentes; o distanciamento que assumem de questões de restrições familiares e humanas, torna-os seletivos demais e muito críticos para aceitar coisas fáceis. São determinados e seletivos em seus grupos sociais e suas habilidades sociais beiram à acidez e agressão, ainda que estejam apenas observando o quadro social a sua volta.

Não se contentam com pouco e não querem tudo. Sabem exatamente o que querem e como querem. E encontram pares afetivos a quem amam, dedicam-se, entregam-se, doam-se. São muito felizes. E imensamente infelizes, também. Adoram a solidão, lugar onde conversam com suas lembranças e seus fantasmas mais queridos. Lutam e morrem pela verdade e respeito aos outros, mas brigam se forem desrespeitados e enganados.

O respeito à Vida é algo que não negociam nem postergam: lutam pela possibilidade e de ser imensamente felizes e fazer os outros muito mais felizes; aliás, ver os outros felizes é objetivo de vida, até que chegue o momento da partida. Fazer feliz àqueles a quem ama é uma constante, mesmo que passe a vida toda nesta reformulação e adaptação, pois precisam se repaginar para aceitar: isso é de sua responsabilidade. 

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Viver a vida com os que ficam imprime um sabor de realização. Ainda que engula sapos (mas os vomita com a mesma força com que foram engolidos), ainda que sofra por traições e puxadas de tapetes (que foram sinalizados pela intuição certeira e sábia). Ainda que se coloque em segundo plano em situações simples e corriqueiras, o que vale é viver nossas vidas com os que ficam. E assim, esse grupo de pessoas vive feliz e tem forças suficientes para morrer feliz. Porque entende que a vida é com os que ficam.(Foto: masfe.org)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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