Para aqueles que são inimigos mortais e vorazes do BBB, sugiro que uma vez por semana passem pela telinha e assistam um pouco daquilo que parece armação, mas deixa explícito o que é relação humana. Assistir ao jogo da discórdia é fantástico para vermos o que de mais sórdido existe no ser humano que máscara situações no seu cotidiano. Parece que estamos naquelas reuniões de companheiros de uma empresa que buscam violar regras com discursos de frases feitas, mas que, diante de tanta gratidão, apunhalam pelas costas qualquer um que lhes ofereça sombra ou perigo.
Já disse que, atualmente, não sou fã nem assisto com assiduidade a este programa; mas considero-o como um espaço de aprendizagem (e ensino, portanto) para as relações humanas (as boas e as tóxicas). Desta maneira, não deixo de assistir ao dia dos confrontos impregnados de discórdia e muita maldade.
O ritual é o mesmo: alguns têm argumentos e falam bem, outros falam bem mas os argumentos não se sustentam, outros não apresentam nem um nem outro tipo de qualificação, outros apenas “seguem o líder”. Uma demonstração de que o cotidiano se apresenta com perfeição e soberania num jogo de tanto faz. Mesmo sabendo que o tanto faz significa muito dinheiro e notoriedade fugaz.
Sugiro que tenhamos uma boa visão do grupo, para percebermos que a maldade, a dissimulação e a traição estão estampadas, tanto como aqui fora, detonando com as relações pouco sólidas. Ou até com as bem sólidas, visto o fato de plantarem a semente da discórdia e tumultuar o desenvolvimento daquilo que parecia estável. Porém, minha posição se levanta contra à impoluta sordidez, dos que se abraçam e se beijam, mas se posicionam adversários e traidores.
Assistindo a um “reality” fica mais fácil entender a desfaçatez da Vida, uma vez que permeamos este terreno com frequência e convivemos com estes tipinhos de “personagens” vilãs e sujas, que por meio de sua dissimulação conseguem mascarar seu grau de perversidade. É um problema de caráter e deve ser evitado se pensarmos em nos proteger de ataques emocionais e afetivos arquitetados pelos enganadores de plantão. As ciladas são de difícil percepção, uma vez que a falsidade é suprema: carinhos, palavras doces e gestos convenientes…tudo isso é visível no BBB tanto quanto no nosso contexto.
Então, pergunto: será que o BBB é algo tão desprezível assim? Será que não vale conferir para ter mais velocidade de defesa daqueles ataques sórdidos e fingidos que nos envolvem, a cada dia? Aprender com situações possíveis de serem identificadas e antever as ciladas em que caímos é um exercício que traz aprendizado e diminui o perigo de editarmos a situação real e desastrosa.
Em outras paragens, tivemos o inicio da liberação dos “valores a receber” uma iniciativa do Banco Central em devolver ao cidadão o que lhe pertence. Ouvi de muitos e conheci outros muitos que maratonaram para chegar à conta do “e-gov” e, ao final, se surpreenderam com o valor a resgatar: num grupo de mais de 20 pessoas, ninguém tinha mais que 20 centavos para receber. E muitos ainda acreditam em transparência. Feliz por saber que alguns receberão mais de R$ 1 mil e outros alguns ate R$ 10 mil; só espero conhecer algum destes sortudos, que se perdem pela vastidão do país, caso contrário estaremos diante e outra lenda, semelhante aos entrevistados pelo Ibope: nunca se conheceu um sequer.
A polêmica da hora é a máscara: onde e até quando usá-la. Não acredito que tenhamos muito o que discutir, uma vez que aqueles que pretendem manter os cuidados, manterão seu uso. Porém os abusos sempre estiveram presentes, mesmo na época mais crítica da pandemia (que não terminou), quando víamos pessoas andando despreocupadas, sem nenhuma proteção e oferecendo perigo aos que estavam ao seu redor. As festas e as noitadas não cessaram e as praias só estiveram vazias quando os municípios fechavam a orla.
A questão da consciência envolve os três diferentes tópicos que trago nesta crônica. A total e absoluta despreocupação com o outro que forma o contexto que habitamos. Como já disse anteriormente, sempre pensei que depois da pandemia a humanidade se apresentaria mais maleável, mais humanizada e surpreendo-me vendo que nada mudou e até pioramos. Ficamos mais atirados e mais resistentes em relação às dores dos outros. Nunca usamos tanto a palavra empatia e nunca ela foi tão mal empregada e banalizada: não temos empatia por nada. Apenas embarcamos numa onda de nos mostrarmos solidários, preocupados com a dor alheia, mas não fazemos nada de concreto para minimizá-la.
Como diz a música: “no fundo ainda somos os mesmos…” com mais recursos afetivos, mais recursos cognitivos e mais recursos de visão do mundo, que usamos ao nosso bel prazer e sempre intencionando o foco da luz que nos colocará num palco iluminado e de visibilidade para a sociedade. Subiu em nossa cabeça a irritante necessidade de ser mais, de ser famoso e ser notório, ainda que não saibamos, de fato, o que ser notório significa.
Penso, comigo e com meus íntimos mais íntimos que às vezes precisamos fazer uma reunião com nossas personalidades para sabermos o que pretendemos de nós próprios. Talvez, nessa reunião, eu com minhas personalidades e vocês com suas personalidades, consigamos anular o que não é conveniente e deixamos aflorar s ímpetos internos mais nobres: a Verdade, a Coerência, a Sinceridade, a Fraternidade e os demais gigantes da alma. Parece utópico, mas é preciso sonhar para continuar, sem sofrer tanto.
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Juro que estou sofrendo, e sofrendo muito, pelas inconsequências alheias, pelas mentiras e dissimulações e pelos exemplos de pouco caso com que tenho me deparado. Já comentei com meu psiquiatra que, distante da depressão, eu sofro de uma coisa chamada ingratidão. Devo ter passado nessa fila com alguns baldes, em vidas passadas. E ainda não cumpri minha etapa de me livrar disto. Mas não desisto. Enquanto me aperfeiçoo, vou vendo que, também, não sou aquele alecrim dourado, que nasceu perfumado e lindo, sem ser semeado.
Luto bravamente contra meus defeitos, não trapaceio com meus próximos e não me cerco de falsidades nem dissimulações. Mas atraio tudo isso e me machuco, porque acredito nas virtudes, tenho Fé e a manifesto, e prezo por valores, ainda que seja piegas. E de remendo em remendo, vou me refazendo e mantendo a crença de que seguirei da minha maneira, por ruas nunca antes caminhadas. Assim é a Vida.

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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