Já dizia Marc Bloch: “A história é a ciência dos homens no tempo”. E quando falamos do sertão que é ocupado a partir do que vem a ser Jundiaí, o povoamento dessa região acontece devido às poucas possibilidades e diversas disputas nos campos de Piratininga; um domínio maior da Coroa portuguesa sobre a colônia do Novo Mundo; migração de criminosos perdoados; catequização de nativos considerados “selvagens não civilizados”. Outrora, toda gama de aventuras era praticada em nome da fé e do lucro escravocrata.
A Jundiaí do século XVII, é um povoado em expansão socioeconômica, um “porto seco” que entra em declínio ao ceder territórios (desmembramentos) como Mogi Mirim e Campinas, além da migração para as Minas Gerais. Tal situação modifica-se com a cana-de-açúcar, algodão, cereais, ciclo do café, indústria têxtil, imigração italiana e a ferrovia por fins do século XIX. Restabelecendo na primeira metade do século XX, sua economia por meio de uma forte inclinação industrial, mantendo sua força agronômica e omitindo ainda mais sua grandeza, totalidade e origem ao empurrar para a periferia suas culturas, identidades e memórias africanas e indígenas.
Pensando nisso, poderemos tentar atuar em nosso tempo, analisando as mentalidades de épocas distintas e propondo ideias alternativas por intermédio do coletivo e das culturas, identidades e memórias apagadas. Delimitando, por exemplo, determinado espaço geográfico, não apenas por metragem quadrada, mas sim, como espaço de existência intelectiva, subjetiva, física e de observação; aberto, influente e influenciado por práticas sociais, trajetórias, biografias, tensões e visões dos marginalizados, com foco nas possíveis abordagens dos aspectos envolvidos no núcleo analisado. Há assim, a possibilidade de empoderamento dos agentes históricos de outrora que foram ignorados, dando-lhes voz e permitindo que se faça justiça, trazendo à tona suas capacidades, energia, força e história, transformando velhos paradigmas em prol da dignidade humana. Honrando a herança de todos, para todos e por todos.
Os tais “primeiros” povoadores, bandeirantes e entradistas, segundo Campanhole, Santos e Gicovate (1994), “As entradas eram instituições bélico-escravizadoras. Uma vez que a escravidão indígena era proibida no Brasil por lei portuguesa de 10 de março de 1570”.
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Ou seja, eram criminosos abençoados pelo interesse econômico da Real Coroa Portuguesa, nessa hierarquia religiosa, o primeiro sumo sacerdote era o ouro. E, ainda adentrando tais absurdos foi imposto aos povos indígenas, o nome de “administrados” – para mascarar a escravidão imposta –, com nomes cristãos e sobrenomes genéricos de acordo com o interesse europeu. Posteriormente, foram integrados à sociedade, pois a miscigenação violenta de outrora foi característica marcante da colonização europeia pelo mundo. Continua…(Ilustração: litografia de Jean-Baptiste Debret, 1835)

JOSÉ FELICIO RIBEIRO DE CEZARE
Mestre e doutorando em Ensino e História de Ciências da Terra pelo Instituto de Geociências da Unicamp. Membro da Academia Jundiaiense de Letras. Pesquisador, historiador, professor, filósofo e poeta. Coeditor da Revista literária JLetras. Para saber mais, clique aqui. Redes sociais: @josefelicioribeirodecezare.
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