E OS PACIENTES?

pacientes

As vezes me perguntam sobre a relação com meus pacientes por ser cego. Na faculdade eu pensava nisso. Naquele tempo, não havia desenvolvido ainda a necessária confiança. Não tinha a convicção de que sou eu quem determino a forma que a vida irá me tratar.

Já pensava assim, mas ainda a insegurança me afligia. Pensava:

– Se eu tiver dó de mim, o dó que algumas pessoas sentem me dominará. Se me sentir capaz, muitos poderão negar minha capacidade, mas pouco ou nem um efeito isso terá sobre mim.

Construímos nossas relações com o mundo de dentro para fora. Não serei hipócrita em negar que alguns ataques que sofro devido minha deficiência não me afetam. Contudo, afirmo que a frequência tem sido cada vez menor. Estou progredindo e também reconheço que muito já foi feito.

Andando de bengala na rua, alguém pegou meu braço dizendo:

-Eu levo você para casa.

Não fui.

… Numa ocasião fui fazer uma visita hospitalar a um de meus pacientes. Um médico conhecido meu perguntou tomado de surpresa

-O que você está fazendo aqui?

Respondi que iria visitar um paciente e segui meu trabalho. Vieram os pacientes… Eu os colocava na sala. Começava a atendê-los. Constatei que estavam ali para livrar-se de suas dores. Não se importavam com a minha cegueira.

E acontece a mesma coisa em meus atendimentos na Prefeitura ou no consultório.

A visão não faz falta nem para eles nem para mim. Eu os percebo pela voz. Pela respiração. Até mesmo movimentos na poltrona não me escapam. De forma direta ou indireta, os pacientes comunicam ao psicólogo aquilo que querem.

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Lembro-me de uma paciente que disse:

-Cortei o cabelo. Quer ver?

Ela se aproximou para que eu tocasse. Isso tem se repetido em minha vida profissional. Vez ou outra conheço novos cortes de cabelos…(Foto: Thirdman/Pexels)

JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA

Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. É deficiente visual. WhattsApp: (11) 982190402.

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