Festa de padroeiro em cidade de interior é de importância colossal.
Vem gente de todo lado, as casas recebem parentes e amigos; pousadas abarrotadas de hóspedes e até bancos de praças no final das noites servem de repouso para descansar corpos abatidos pelo eflúvio da cachaça e do irresistível arrasta pé.
Tudo isso, claro, com anuência concedida pelo santo, após as demoradas missas em sua homenagem.
É diversão garantida.
Deu-se o caso numa cidadezinha do interior do interior do interior (entendeu que era bem pequena e longe?) do Nordeste.
Dona fulana, noiva prometida desde pequena ao filho de um roceiro, gostava de festa; diferente do noivo, arredio, sisudo, e de poucos amigos.
Local e época em que a macheza reinava e a submissão feminal era de rigores surreais.
A comemoração era do santo padroeiro do povoado vizinho, um lugarejo ainda mais recôndito.
O noivo nem se deu ao trabalho de proibi-la, já que ele não ia, era certo em suas caraminholas másculas e provincianas, que dona fulana também não cogitaria ir.
Ocorre que ela, que gostava mais de festa do que do noivo, era devota e achava desaforo ao santo ir à missa sem depois comemorar.
As primas e amigas tanto fizeram (mas nem tanto precisava)… que na hora da missa lá estavam, sentadas e comportadas no banco da igrejinha do lugarejo, cuja fama era dispor dos homens mais bonitos e festeiros da região.
E era mesmo.
Final da missa e procissão corrida, a festa no eirado da igreja, com tudo paramentado para os cantadores, violeiros e sanfoneiros que vinham de todos os arredores.
As meninas, agora com o aval do santo, de saias encolhidas, salientes e com o vigor da juventude em brasa, espichavam olhares à procura de pretendentes, acreditando que em ocasiões de novenas, os namoros eram promissores.
Dona fulana encontrou entre os olhares, aquele que tinha o brilho do matuto mais romântico e a ginga que movimentaria sua vida, dando-lhe outro significado.
Dançaram a noite toda.
Apaixonaram-se.
OUTROS TEXTOS DE ROSITA VERAS
AS FRENÉTICAS, EU E O VENDEDOR DE COCO
Amanheceram o dia na igreja onde, após a primeira missa, o padre não teve outro jeito senão casá-los.
Foi simples… ainda com a roupa da festa… ela de chita florida e laço nos cabelos; ele todo prosa e feliz, dizia que dali em diante não perderiam uma festa e mesmo que ele não fosse, ela iria, para comemorar eternamente a desobediência que os uniu.
A resenha, rápida feito rastilho de pólvora, chegou ao povoado dela e quando deram fé, ela, que saiu noiva de um, chegou casada com outro.
Diz que o noivo chiou, mas o casamento se deu com a graça do santo padroeiro, então ele nada pode fazer.(Foto: barbalha.ce.gov.br)

ROSITA VERAS
É escritora, ghostwriter e articulista. Rositaveras.blogspot.com
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