Perto de nossa casa havia um parquinho da prefeitura. As crianças podiam frequentar livremente. Tinha professoras, merenda e entretenimento. Não sei qual era a minha idade. Era pequeno. Fui com as outras crianças para lá. Talvez com minha irmã e os amiguinhos da rua. Minha mãe recebeu um recado:
-Não podemos ficar com o seu filho aqui. Teríamos problemas para tomar conta dele.
Meus amigos voltaram no dia seguinte. Eu não…
Naquela tarde minha mãe disse que me levaria ao parquinho que ficava numa praça, desses com escorregador, balanços e gangorra. Ela iria descansar por causa das varizes. Depois do parquinho iríamos na vovó Paula. Eu me deitei com ela, que leu uma historinha. Eu sentia que ela estava muito triste. Queria me proteger.
Fomos ao parquinho. Brinquei e ela continuava triste. Fomos à casa da vovó. Chego a pensar que ela precisava ser protegida por sua mãe da mesma forma que estava me protegendo. Anos depois, frequentei o parque da prefeitura. Fui muito bem acolhido. Creio que a professora era dona Glória.
Não sei como ocorreu a mudança. Eu continuava sendo uma criança cega e a diferença de idade do momento anterior era pequena.
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Quando fui impedido de frequentar o parque com meus amigos, eu e mamãe não falamos no assunto. Ela não chorou. Senti suas lágrimas. Não me lembro se fiquei triste. Creio que só mais tarde entenderia que fui excluído e o significado disto.
Lembro que sofri porque ela estava triste. Eu sabia que ela me levou ao parquinho porque não pude ir com meus amigos. Ela estava triste. Por isso eu estava triste. Ambos envolvidos na tristeza de não poder livrar as pessoas que amamos da dor.(Foto: Cottonbro Studio/Pexels)
JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA
Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. É deficiente visual. WhattsApp: (11) 982190402.
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