SAUDADES de nós mesmos

saudades de nós mesmos

À medida em que o tempo escoa – e quem percebe isso assimila a noção de que resta pouco a fruir desta aventura -, passa a sofrer mais frequentes e inclementes momentos de melancolia. Tende a transportar-se para o passado, onde parece que tudo já foi mais bonito, mais colorido e mais promissor. Sentimos saudades de nós mesmos.

Esse território inexpugnado é o refúgio tranquilo de quem não se conforma com o retrocesso generalizado, em todos os âmbitos. Inegável que a vida ficou mais feia do que era. Ou de que parecia ser.

Seria recuperável a era gloriosa em que se foi adolescente, idealista e sonhador? O retorno aos cenários primitivos parece convidativo.

A revisita a lugares físicos armazenados afetivamente na memória é frustrante. Se ainda existem, pois a regra corrente é a demolição do belo e sua substituição pelo tosco, eles não parecem agora tão sedutores. A dimensão imaginada é sempre excessiva na comparação com o real. Onde o encanto, o clima envolvente, a sensação de quase levitar?

Compreensível abrigar-se no espaço virtual. Ali, o redesenho é meu. Posso retocar os detalhes, atenuar o desconforto, deter-me naquilo que me afaga. E o afago está sempre no coração.

Amores antigos são hoje cicatrizes que ainda doem. Como é que fomos atraídos por um olhar, um sorriso, ou o que foi que nos seduziu? Poderia ter sido diferente? Soubéssemos o que aconteceria conosco teríamos agido de forma diversa? O que nos levou a tal escolha? Ou, na verdade, como é que fomos escolhidos?

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Os arquivos da lembrança vão se povoando de seres amados. Quase todos já se foram. Não há refil para aqueles entes queridos que vão embora. Impossível deixar de cotejar os padrões dos que se foram com os atuais. A humanidade foi um projeto fracassado? Ou é nostalgia da velhice, a certeza de que já se aproxima “the final courtain”?

Na verdade, somos muitos e sofremos golpes de variada intensidade. A mente racional é um labirinto intrincado, inexplicável até para os profissionais da psicanálise. Somos seres estranhos, capazes de sentirmos saudades de nós mesmos!(Ilustração: somostodosum.com.br)

JOSÉ RENATO NALINI

Desembargador aposentado, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Presidente da Academia Paulista de Letras.

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