Em 2019 elaborei um texto sobre os “fantasmas do passado”. Três anos se passaram e volto a falar sobre fantasmas, sombras, delírios e “coisas” que no meio popular se aplica com a expressão “pessoas bitoladas”. O que é impressionante, já que os fatos estão aí, acessíveis a todos. Temos fartura de canais de informação, vídeos, livros continuam sendo publicados… mas por que as tais sombras do passado persistem e parecem ganhar ainda mais força?
Antes da queda do muro de Berlim, durante a chamada “guerra fria”, não ouvia tanto a palavra “comunismo” em minhas rodas de amizade. Nós, então jovens, estávamos concentrados nos estudos, nos livros e nos filmes, mesmo naqueles típicos de Hollywood, de espionagens ou guerras espaciais. A ideia de um inimigo sempre à espreita bastava. Quem não tem adversários ou inimigos? A luta por poder e domínio existe desde que o mundo é mundo. E os “sistemas ideológicos” no decorrer da década de 70 se desgastando. De alguma forma aqueles ideais seriam superados, algo novo e forte estava por vir. E veio. Muitos apontam o “fim da União Soviética”, a queda do muro, o fim da “guerra fria”. Mas o pilar da mudança foi a internet. O mundo conectado. Quando isto ocorreu, imaginei que as massas fossem alavancar o conhecimento, a sabedoria, a busca pelas fontes de águas puras, cristalinas. Não… não foi bem isto que ocorreu. As águas poluídas estão sendo mais atraentes e consumidas!
Estamos em 2022. Todo mundo escreve e filma. Se 50 anos atrás havia censura e “livros proibidos”, e até 20 anos atrás havia “lugares proibidos”, hoje tudo isso foi superado. Quem imaginava turistas filmando na Coreia do Norte? Sim, há muitos vídeos naquele que continua tentando se manter fechado ao mundo. Assim como há fartura de vídeos dos chamados “bairros proibidos”, as favelas (ou comunidades), onde os próprios residentes expõem seu cotidiano. Tudo está acessível a todos. E os fatos estão visíveis. A realidade nua e crua desmascarou ideologias, maquiagens feitas por “sistemas políticos”, sejam do lado de cá ou do lado de lá. Mas ainda assim, com tudo na cara, muita gente continua romantizando, maquiando ideias e ideais… principalmente em nosso país, onde a polarização política ressuscitou uma visão que no final da década de 70, como expressei no início deste artigo, já estava sendo superada. Regredimos à visão política dos anos 60! De um lado, a imagem daquela multidão com calças boca de sino e cartazes com os dizeres “marcha da família com Deus (ou melhor, deus) pela propriedade”, a palavra “comunismo” era tão temida como Satanás. Do outro lado, os utópicos, acreditando ser possível alcançar a economia planificada e igualdade social. Detalhe, hoje estes acrescentam ser possível a igualdade com liberdade de expressão e religiosa.
Novamente… os fatos estão acessíveis em milhares de vídeos, experiências filmadas, descritas. Sim, produtos também com cargas tendenciosas. Doutrinadores mostrarão somente o lado que lhes interessa. Os douradores das pílulas. Daí a necessidade de filtrar, para encontrar a essência verdadeira. Não basta assistir vídeos, filmes, ler livros… é fundamental dissecá-los! Enxergar além. E aí vamos constatando a deficiência de interpretação de muitos e a teimosia de outros em maquiar, negar fatos. Peguemos, por exemplo, o dragão chamado China. A partir de 2003, com o então líder Hu Jintao e agora com o Xi Jinping, não existe mais resquício algum daquela nação fechada, que tentava se manter autossustentável, sem relações internacionais. A China hoje é a mais presente nas relações internacionais. Capitalismo de estado. A bandeira continua vermelha. O controle do estado sobre a vida das pessoas (principalmente sobre a comunicação) continua implacável. Mas o consumismo, marca registrada do capitalismo, vai de vento em popa. O que não se presencia na Coreia do Norte, onde é possível visualizar a imagem parcial de um tal perfeccionismo na capital, a vitrine do regime. E isto só é possível devido ao seu tamanho, a área do país. Para a China, é interessante dar um sustento a um pequeno país que leva ao extremo um idealismo que não corresponde à “nova era”, à globalização (ou ao “globalismo” se assim queiram afirmar). Chineses só observam por quanto tempo o ditador conseguirá manter aquele país fechado. Enquanto isso, a China fatura bilhões com a exploração do cobalto nas terras de um país no centro da África. Fatura e avança tecnologicamente, o que o Brasil aplaudia na época de ouro de Hollywood… inclusive aplaudia “ingenuamente” o desbravamento da África selvagem, paraíso da fauna, da caça e dos tesouros que precisavam “cair nas mãos certas”. Não me esqueço de uma história no gibi do Tio Patinhas, o pato rico e sovina tentando alcançar um tesouro em terras africanas, enfrentando figuras “humanas” com aspecto primitivo. Ah, ideologias… (risos…) Com a China na República Democrática do Congo, defensores de um lado focarão no investimento feito pela China naquele país, a abertura de rodovias por exemplo, a infraestrutura na capital (sim, a capital, sempre as vitrines para o mundo). Já os defensores do outro lado focarão na mão de obra barata, na exploração do ser humano, que afirmam continuamente ser a principal característica do país do dragão. E assim, raramente vemos um posicionamento imparcial, coerente, usando as ferramentas da internet para abrir os olhos de milhões que vivem apregoando teorias das sombras do passado. Alimentando uma visão que não corresponde ao caminho que hoje países do lado de lá e de cá do Hemisfério Norte percorrem.
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Nunca houve e não há santos do lado de cá nem do lado de lá. Tudo se resume a uma contínua queda de braço pelo poder, cujas cores das bandeiras não passam de ilustrações para causar temor, submissão e ilusão aos povos. A bandeira da paz é branca, cor neutra, porém uma cor que é a junção de todas as cores, o que nos leva a raciocinar e admitir que o mundo e a espécie humana tenham em sua composição um pouco de tudo. Inclusive aquilo também que negamos, que não nos agrada ou vai contra nossos interesses. O mundo é multi. As diferenças sempre existirão, coexistirão, e o desafio contínuo é manter o equilíbrio, o que não alcançamos quando alimentamos polarizações, extremismos, ganância e ilusões de um mundo regido pela figura de um “herói” nos moldes dos filmes de Hollywood. Até quando assistiremos as massas alimentando essas sombras do passado? Enquanto discutimos e brigamos amarrados a essas sombras, deixamos de ter os pés no chão e vigiar os passos dados pelas potências mundiais, para entendermos os fatos e planejarmos como conduzir nossas políticas públicas no equilíbrio… o que exige principalmente autocrítica e revisão de conceitos em seus berços, o que não fazem!(Ilustração: Depositphotos)
GEORGE ANDRÉ SAVY
Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.
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