Em tempos que presenciamos toda a população rendida ao conforto e aos prazeres trazidos pela tecnologia, inclusive defendendo a modernização em seus bairros, em suas cidades, chega a ser surpreendente para muitos se deparar nos canais virtuais com manifestações em favor da preservação de edificações e outros elementos da paisagem urbana. Todo mundo frequenta shoppings, se admira com os modernos arranha-céus, faz questão de fazer registros das cidades aparecendo os prédios e as novas avenidas… mas boa parte dessas mesmas pessoas, de repente, aparece mostrando orgulhosamente uma edificação centenária da cidade. Ou até mesmo alguma edificação em ruína, junto a clamores coletivos de restauração. Que sentimento é esse, que guardamos muitas vezes com certo receio de demonstrar, para não parecermos antiquados, saudosistas? Sim, por mais que nos adaptemos e nos entreguemos aos encantos e facilidades do mundo moderno, continuamos ligados às nossas raízes, à nossa história e à história do lugar onde nascemos, crescemos, moramos… e esse saudosismo vêm a muitos à flor da pele!
No mês de agosto postei, num grupo relacionado à história de Jundiaí, a foto que ilustra este texto. Trata-se da caixa d’água do velório municipal, visível de vários pontos da cidade devido a sua altura. Inclusive, quem vem pela Rodovia Constâncio Cintra, ao chegar às curvas ao lado do morro do Marco Leite, a imagem dela sinaliza a região da Vila Municipal, do cemitério, a subida da Avenida Henrique Andrés. A caixa d’água, que está original, inclusive na cor. Tudo ao redor foi restaurado, recebeu outras cores, ou passou por uma remodelação total, como no caso o próprio velório na fachada da Avenida Professor Luiz Rosa. Sendo ela a “sobrevivente” em sua característica original, cogitei junto à foto no grupo a ideia de restaurá-la, preservando totalmente suas características, recebendo apenas uma iluminação noturna, destacando-a naquela região, e mais que isso, eliminando o aspecto lúgubre, de abandono. A própria arquitetura do novo prédio do velório eliminou a sensação taciturna de outrora. Por que não a caixa d’água? A sugestão da restauração envolveu nada menos que 700 internautas, que marcaram nomes de vereadores, solicitando apoio para que a restauração seja atendida pelo poder público, independentemente de haver, inclusive, parcerias do setor privado, que serão bem-vindas.
Este envolvimento expressivo de internautas, mais uma vez, demonstra o quanto os munícipes comungam, equilibradamente, o incentivo ao progresso e também à preservação de determinadas edificações e monumentos históricos da cidade. O Solar do Barão e o Teatro Polytheama, restaurados há anos, recebem um bom público anualmente. A restauração da Ponte Torta “deu vida” ao local, antes tomado pelo mato e insetos. Jovens e adolescentes frequentam a praça que nasceu ao lado dela. O Complexo Fepasa agora é o foco do jundiaiense, que incentiva a continuidade das reformas necessárias ao local, fazendo jus a uma das raízes do progresso de Jundiaí, que é a ferrovia. Quantas famílias tiveram pais, avós, bisavós, tios… que trabalharam em algum segmento ferroviário? Muito mais que saudosismo à flor da pele, trata-se do resgate do currículo de trabalho desta, daquela família. Pessoas que deram contribuições valiosas à cidade. Mas… e a caixa d´água? O que ela representa naquele ponto central de Jundiaí? Eis o mistério. Que pode ser resgatado com sua restauração, recebendo uma placa sobre sua construção, sua função, a contribuição que deu para a cidade no passado. Alguns poderão questionar: “mas é apenas uma simples caixa d’água, como tantas outras em todas as cidades…” Sim, tantas iguais, ociosas, sem função, deterioradas… eis o motivo de cuidar, criar o diferencial. Lembremo-nos da teoria das janelas quebradas. Locais descuidados estimulam mais descuidos e trazem o vandalismo, além dos efeitos depressivos no psicológico. O passado, ao mesmo tempo que pode trazer saudade, consequente da alegria vivida, pode gerar tristeza no confrontar com o momento que estamos atravessando. Então vem a necessidade de permitir nova vida a algo que está imortalizado na história local e fez e continua fazendo parte também da história de nossas vidas… por mais simples que seja o foco; uma construção de valor ou mesmo pouco valor histórico, mas que possui forte significado para muitas famílias, como se constatou no envolvimento coletivo de centenas de internautas na ideia da restauração da caixa d’água. Árvores centenárias também merecem a mesma atenção. Os devidos cuidados. Antigas indústrias, que também alavancaram a riqueza da cidade, e muitos jundiaienses construíram suas vidas nelas; Argos e Cica são os exemplos mais claros de preservação. Ambas com novas funções ao município. Mas com suas estruturas preservadas.
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Encerro com o exemplo que vi em Lisboa, Portugal. Uma cidade que comunga perfeitamente o moderno com a história. A população encontra toda a praticidade do mundo atual com sua tecnologia. E ganha com o turismo trazido pela conservação de seu patrimônio histórico; edificações comerciais, residenciais, igrejas… falando em igrejas, na cidade do Porto, a torre da Igreja dos Clérigos recebe anualmente milhares de turistas. Turismo que rende milhões de dólares ao caixa municipal e à própria preservação do patrimônio local, igrejas e setor privado. Em Jundiaí, até agora, as torres que tentei visitar estão inacessíveis por questão de segurança. Não fornecem segurança às pessoas! Pergunto… até quando perderemos tempo e recursos com o “não fazer?”

GEORGE ANDRÉ SAVY
Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.
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