Homens não costumavam cozinhar em minha família de origem. Quem gosta de comer bem, mais cedo ou mais tarde, acaba tendo vontade de cozinhar. Há alguns anos, comecei minhas aventuras. Sabia pouco ou quase nada. Não via as pessoas cozinhando. Contudo sempre fui bom em ouvir conversas. A memória ajuda. Quem sabe eu me torne um chef, no futuro…
Uma colega de trabalho comentou de um tal bolo de arroz. A gula pulsou. Seria a minha primeira viagem culinária. Receita recebida por e-mail e lida no meu celular com leitor de tela que fala o que está escrito. Claudia me ajudou. Organizamos todos os ingredientes na bancada. Ao contrário de um chef de verdade, eu nem imaginava que se quebrava ovos batendo com eles na quina de um pote. Um detalhe que nunca havia percebido como se faz. Misturei as coisas na ordem determinada. Ajeitei na assadeira. Forno quente. Coloquei cuidadosamente o bolo. Claudia teve medo quando fiz isso. Temia que eu me queimasse. Eu ileso, bolo assando. O olfato me avisou:
-Está pronto, José.
Nota de zero a dez? Cinco, se eu for generoso comigo. Ficou aquele doce que a gente come, mas não faz nunca mais.
Fiz feijão duas vezes. Ficaram bons. Meu pai, já com Alzheimer, sempre gostou muito de canudinho recheado com cocada. Resolvi fazer. Comprei o canudinho e fiz a cocada. Claudia na assistência. Fiz isso duas vezes. Ficou maravilhoso. Minha mãe não cozinhava mais, mas me ensinou a fazer seu famoso doce de abóbora em calda. Aquele com casca durinha que se usa cal. Também deu muito certo.
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Ao escrever este artigo, sou forçado a refletir que o que me leva a cozinhar não é a gula como eu julgava no início e sim a afetividade. São os ecos do carinho que recebi pela linguagem do paladar, do olfato. Gosto, cheiro, passado. Muito além das palavras.(Foto: Cottonbro Studio/Pexels)
JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA
Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. É deficiente visual. WhattsApp: (11) 982190402.
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