Durante as sessões, quando um vereador da chamada ala ‘conservadora’, ligada a evangélicos ou católicos, cita as religiões, invariavelmente deixa de fora a Umbanda. Assim que este parlamentar encerra o discurso, o vereador Paulo Sérgio Martins(PSDB) pede a palavra e faz o seguinte esclarecimento: “a Umbanda é uma religião cristã”. Martins é delegado, maçom e umbandista. Em entrevista ao Jundiaí Agora ele confessa se sentir excluído e discriminado pelos outros políticos. A entrevista:
O senhor é umbandista. Com tantas pregações e leituras da Bíblia, sente-se excluído ou discriminado religiosamente por outros vereadores?
Na maior parte do tempo não me sinto excluído porque Deus é um só, independente do crucifixo ou da Bíblia. Eu me sinto discriminado. Acho tendencioso focar apenas em algumas religiões, até com a presença da Bíblia. O Brasil é um país laico. Ou tem para todo mundo ou não tem para ninguém. Se a Câmara tem a Bíblia, deveria ter também o Livro dos Espíritos, o Alcorão. Ou não deveria ter nada. Em tenho criação católica. Depois fui para o Espiritismo. Hoje estou numa Umbanda que chamo de ‘Umbanda Espírita”. Lá, louvamos Jesus Cristo, que tem o nome de Oxalá.

Para quem assiste as sessões, a exclusão é evidente. Sempre que vereadores citam religiões deixam a Umbanda de fora. E sempre quando isto ocorre, o senhor pede a palavra e enfatiza: “A Umbanda é uma religião cristã”. Por que, na sua opinião, estes vereadores não citam a Umbanda. E qual a reação deles com o seu esclarecimento?
Realmente existem muitas citações durante as sessões: “que Deus te ilumine, que Deus te guarde, que Deus te conserve”. Como umbandista, o meu Deus é igualzinho ao dos outros vereadores. É um ser supremo que coordenada tudo. Não existe o mandamento “não citar o nome de Deus em vão”? Eu obedeço. Percebo que as vezes o uso do nome de Deus é uma coisa chamativa para evidenciar que você é um católico ou um evangélico fervoroso, com todo respeito que tenho pelas duas religiões. Acho que não é necessário ficar batendo nesta tecla. Nestes momentos me sinto excluído por se falar ‘amém’ e não ‘axé’. Eu me sinto excluído por não entenderem que a Umbanda é a única religião brasileira e é cristã. Durante os trabalhos rezamos o Pai Nosso, a Ave Maria. Damos passe, como num centro espírita. Nós acreditamos na reencarnação. Outros, na ressurreição. Algumas pessoas já me questionaram. Perguntaram se acho que estou certo por ser umbandista. Eu respondo: não sei se eu ou você é quem está com a razão. A gente só vai saber quando morrermos. Neste período como vereador, consegui homenagear a Federação Espírita de Jundiaí e a Uniterreiros, que representa a Umbanda na cidade(foto acima). São religiões que só fazem o bem e não cobram nada. Só têm rituais diferentes. E respeitamos os rituais das outras religiões. Acho que falta conhecimento… Eu não critico ninguém porque não tenho conhecimento total das outras religiões. Mas não admito ser criticado. E é aquilo que a gente sempre fala: ninguém acredita mas no final do ano pula sete ondinhas, manda flores para Iemanjá, pede a proteção de Oxalá…
Já houve discussão sobre religiões nos bastidores da Câmara?
Já. Mas não são discussões acaloradas. São discussões causadas pela falta de conhecimento. Não só pela Umbanda, mas também em relação à Maçonaria, da qual também faço parte. Eu brigo pela Umbanda e pelo Espiritismo. Em Jundiaí temos muitos terreiros e centros muito sérios. Sobre a Maçonaria, primeiro conheça e depois critique. Respeito o que é dos outros mas exijo que respeitem o que é meu.
Já que vereadores evangélicos usam a fé nas sessões, o senhor nunca pensou em falar sobre a Umbanda durante os trabalhos?
As vezes eu falo sobre a Umbanda. Mas sem a intenção de entrar num nicho eleitoral. No Dia da Umbanda eu vou à sessão vestindo roupas brancas e usando minhas guias. Faço isto para mostrar que a Umbanda é uma religião cristã, livre, que não tem qualquer tipo de preconceito social, sexual, de cor e raça. Quem tem Cristo no coração aceita o outro como ele é. Faço o mesmo em relação a Maçonaria porque o preconceito me irrita…
O que acha das manifestações religiosas num ambiente destinado a discutir os problemas e o futuro da cidade?
As vezes percebemos que a intenção é a captação de nichos eleitorais. Não falarei da Umbanda durante as sessões para captar para mim os votos dos umbandistas. Quando necessário, falo da minha religião. O mesmo se aplica à Maçonaria. Não estou de olho no voto do umbandista ou do maçom. Acredito que quando se fala sobre religião, desde que não seja uma coisa forçada para captação de nichos, tudo bem. Mas estes discursos devem ser leves, livres, soltos e rápidos. Não adianta citar problemas de interesse de Jundiaí onde a religião não pode dar palpite…
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Não existe uma forma de coibir o discurso, projetos e moções com viés religiosos que evidentemente têm um público-alvo e objetivo evidente: votos?
Não tem como. Se vai um projeto para votação e a maioria aprova, não tem o que discutir. No meu caso, se vejo que há um viés político-religioso tentando alcançar um nicho eleitoral, voto contra. Os vereadores têm que brigar por votos. Mas devem brigar por todo mundo. Não adianta eu brigar só pelos umbandistas ou maçons. O que se vê, contudo, é que a coisa é muito tendenciosa…(Publicada originalmente em dezembro de 2023)
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