Virá uma geração sem VALORES ESPIRITUAIS?

valores espirituais

O mundo mudou totalmente após a chegada da internet. Mas não podemos culpá-la. Ela chegaria alguma hora, inevitavelmente. Eu, particularmente, imaginava, durante minha doce ingenuidade de adolescente, que a humanidade estaria mais preparada culturalmente, em valores educacionais, e espiritualmente, quando o mundo virtual chegasse. Mas não foi isso que aconteceu. Descobrimos que a alienação coletiva foi muito maior do que se imaginava e ela “adaptou” a cultura e tudo aquilo que se considera “crença” a este novo formato virtual. Dessa forma, onde e como ficaram os valores espirituais?

Acompanhando o segmento cultural, por exemplo, descobrimos que as massas não dão mais o devido valor ao trabalho harmonioso com as palavras. As rimas, as composições criativas (e mesmo a qualidade ortográfica) não são importantes e sim o peso das palavras. O choque que as mensagens causam, a ousadia, a coragem para compor letras que provocam sentimentos extremos de prazer ou indignação, essa é a ferramenta para a busca da fama meteórica. Principalmente o show de imagens. No baixo conteúdo de trabalho intelectual, coloca-se doses cavalares de efeitos visuais proporcionados por parafernália eletrônica e os novos artistas investem maciçamente em suas aparências; quanto mais ousada, bizarra e sedutora, mais garantia de sucesso. Lembrando que artistas das outras gerações investiam sim em suas desenvolturas no palco; com trabalho. Técnicas de dança, muito treino. Correspondentes ao mesmo tipo de trabalho intelectual. Havia mensagens subliminares? Havia. Havia danças sensuais? Havia. Mas o mundo imediatista impulsionado pelas massas aderiu aos caminhos mais fáceis graças à alienação coletiva pelos venenos sociais. Assim, o vulgar tomou o lugar do sensual (e vão justificar que gostar do vulgar é questão de escolha e direito de cada um). Alguns talvez até sintam cheiro de discriminação, já que na visão de uma parceladestes novos “agentes culturais”, toda manifestação humana, por mais bizarra que seja, deve ser aceita desde que atenda aos critérios de seus estatutos…

Algo semelhante ocorreu na área religiosa, espiritual. As placas de igrejas continuaram se multiplicando pelo mundo. Mas já dentro de um novo conceito global, que segue por discretos caminhos corporativistas. Depois da entrada de “conceitos de prosperidade”, parte do segmento religioso se tornou um fator de segurança às camadas mais populares. Pertencer a uma certa família de irmãos pode representar emprego e suportes jurídicos. Diria que o conceito de irmandade evoluiu para a realidade do mundo globalizado. “É preciso pertencer a algum grupo se quiser ter uma segurança”. Logo, o apelo e a busca são focados inicialmente no suporte social, vindo depois o espiritual. Os valores espirituais seriam a vestimenta, o adorno. E isto se constata ao estudarmos as bases espirituais de determinadas novas igrejas; adaptam as Escrituras e a espiritualidade ao mundo globalizado e não o inverso, que claramente soaria como utopia. Assim, até “coaches” temos hoje em alguns segmentos religiosos. Os “coaches” talvez sirvam como o maior exemplo das ousadas transformações que tivemos dentro de duas áreas significativas nos últimos vinte e poucos anos; a da Psicologia e do Empreendedorismo. Dificilmente ouvimos os novos falando em estudar Psicologia. Falam em ser “coaches”. Assim como já em determinados segmentos espirituais, vem se destacando a figura de “mentores espirituais”.

Como já tenho em meu currículo cursos de Administração, Marketing e inclusive Psicologia das Relações Humanas, reafirmarei sempre a necessidade da busca do equilíbrio no decorrer das transformações que o mundo vem passando. Alguma adaptação ao moderno não tem como fugir, sempre haverá necessidade de adequar valores do passado ao momento. Nos estudos espirituais, missas, cultos, formas de meditação… pequenas adaptações sempre se farão necessárias. Mas com critério e sem alterar as bases. Cito como exemplo, um ponto bastante negativo na adaptação das igrejas a estes novos tempos. O culto ao barulho, inclusive como forma de divulgação, para “atrair jovens” para a igreja. A ligação ao espiritual se dá no silêncio ou nas orações e músicas em tom baixo, suave. Impossível se conectar com o mundo espiritual em meio ao som alto. Mas isto entraria em conflito com as necessidades trazidas nestes novos tempos, onde o impacto do visual tem peso considerável para atrair público. Quantos jovens não se projetaram como “cantores gospel” graças ao impacto visual e da parafernália eletrônica? Criou-se um conceito de que a força da voz, em altura e palavras repetitivas, “tem poder de transformar vidas”. Embora nunca tenha visto uma pesquisa, imparcial, atestando como essas vidas foram realmente transformadas. Dividir os povos cada qual para as novas irmandades não significa transformação espiritual. Mas parece que desde que a pessoa tenha feito a escolha por aquele caminho, daquela placa, já vale a expressão “vida transformada”.

Pegue-se, por exemplo, a identidade religiosa de tantos “modinhas” de hoje. Baladeiros de plantão, adeptos do excesso no álcool e outros itens, defensores do barulho, dos pancadões e escapamentos adulterados. Aqueles que escrevem nas redes sociais “se você quer silêncio, vá morar no cemitério ou no meio do mato”. Muitos desses frequentam alguma igreja. Frequentam. Mas não possuem valores espirituais. Usam a placa da igreja apenas para se colocarem dentro da sociedade, terem irmãos a lhes defender e um tipo de “status”. Estaria aqui nascendo “a geração da aparência”? Possível. Embalada no imediatismo e na busca por um deus que atenda aos seus interesses, exatamente o inverso do que a espiritualidade-base sempre nos ensinou, que é atendermos aos ensinamentos daquele que tudo criou para que se permita a vida em sua plenitude, isto é, com qualidade de vida a todos, o que não é possível existir quando se impõe, no caso aqui citado, a cultura do barulho. E desta pseudocultura do barulho, seguem-se as demais. A pseudocultura que impõe a aceitação de composições artísticas sem qualidade, apelativas, vulgares… importante citar que é preciso identificar que nos núcleos periféricos, como no mundo dos rappers, dos artistas das periferias, existe também um trabalho artístico de alta qualidade. Desde os anos 90 analiso letras de rap. Existem artistas que merecem reconhecimento e aplauso. Mas nem tudo que vem do rap e principalmente do funk atual pode ser classificado como trabalho artístico. Houve uma distorção gigantesca dentro do mundo artístico brasileiro, em vários gêneros musicais, e este aspecto deve ser muito bem analisado. Façamos o mesmo nos novos caminhos espirituais que foram construídos principalmente nos últimos vinte anos. De conceitos conservadores extremistas, como da submissão total da mulher, levada ao pé da letra e um deus carrasco, punitivo e cheio de ira a condenar os pecadores aos abismos infernais, a um outro extremo, de um deus camarada, legalzinho, que se torna nosso aliado em tudo que fazemos porque compreende nossas fraquezas, manias e (olhem só!) nosso ego. Nosso orgulho de sermos o que somos ou que queremos ser, ainda que isto represente não aceitação daquilo que na essência somos e da compreensão de uma missão que temos no mundo… e não aceitamos! Nosso deus interior “cria” um deus externo, que usamos como escudo nos momentos que o mundo à nossa volta nos questiona. E assim nasceu essa nova geração de semideuses, de pessoas que nos tentam impor suas verdades, que devemos aceitar suas “modernidades”, seus excessos, seus barulhos, sua libertinagem e suas agressões, embora sejam as primeiras a gritar que estão sendo agredidas quando entendem que sofreram “um golpe” em um trauma passado que carregam.

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Erros do passado não podem justificar erros no presente. Não podem alimentar revanches e agressões. Religiões também tiveram suas falhas, erros, a história atesta. Nem por isso religiões devem ser apedrejadas, apontadas como atraso do mundo ou alienação coletiva. A alienação coletiva está presente e de forma implacável nos canais virtuais através do velho sensacionalismo com roupagem nova e extremamente atrativa. Nessa ferramenta que hoje todos nós dependemos para nossa própria sobrevivência. Ferramenta que penetrou pelos próprios locais espirituais e hoje é mais um mecanismo que vem afastando as pessoas dos valores espirituais. Temos duvidosos e polêmicos mentores espirituais pelos canais virtuais. Gurus exóticos. Mestres disso, mestres daquilo… que passam a ser reverenciados por seus pupilos quando estes têm seus olhos abertos para as artimanhas dentro da guerra social; dar rasteira nos outros, manipular idosos com chantagens emocionais para conquistar privilégios, enfim… levar vantagens em tudo. Esse é o retrato que presenciamos em nossa sociedade hoje, em diversas faixas etárias. Dos diplomas rápidos, de conquistar coisas com o mínimo esforço possível, da religião água com açúcar, onde o primor está no “empreendedorismo” que arrebanha pessoas. Difícil é entender como esses “novos” possuem segurança espiritual já que tudo para eles é ter a segurança do “money” a qualquer custo. Sim, precisamos da segurança dele. Mas ele deve estar alicerçado numa firme base espiritual. Que é desconhecida até nos seus conceitos mais simples, como o valor do silêncio. Se desconhecem até isto, o valor do silêncio, o que entenderão dos aspectos mais profundos? Pobre geração perdida, ausente de valores espirituais! Reflitam sobre este fato. Um dia muitos se lembrarão e verão que é tarde demais para tentar consertar o que vem sendo destruído.(Foto: Depositphotos)

GEORGE ANDRÉ SAVY

Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.

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