No dia 5 deste mês de junho foi comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data foi lembrada pelos canais de comunicação, em toda a rede social… e o depois? O relembrar a data trouxe iniciativa a alguém para produzir atividades, projetos para curto, médio e longo prazo nos meses e anos vindouros?

Estes dois últimos anos pandêmicos levaram a população a refletir muito sobre a saúde. Mas a palavra Meio Ambiente nem sempre é associada, sendo que tem tudo a ver. Meio Ambiente não se resume à proteção das florestas, rios, ar… ele forma o todo que vivemos diariamente. A qualidade do meio urbano o qual estamos inseridos é reflexo do meio natural que mexemos, transformamos. Por mais que uns neguem e outros não consigam associar, nossa qualidade de vida depende da base planetária. O setor primário. Por mais que a tecnologia avance e nos afaste daquele ambiente natural, a vida humana no planeta depende dos recursos naturais e como lidamos com ele. E para lidar da forma correta, é preciso conhecer a essência desses recursos, sua dinâmica.

Chegamos então ao ponto primordial: o que o povo, principalmente a nova geração, conhece dessa base que sustenta o todo? A maioria está por dentro da vida do(a) artista que faz sucesso no momento. Do “circo” na política. Das novidades em celular, iPhone, roupas da moda… e já que falamos em moda, quando ouvem falar em meio ambiente, imediatamente vem à mente Amazônia, as imagens daquelas espécies em extinção com o grito “save the planet” ecoando. E, de repente, “é bacana” se enturmar e erguer cartazes com palavras de ordem. Passada a euforia, descarta o lixinho do churrasco ao lado da cachoeira ou atira a bituca pela janela do carro, causando incêndio na mata.

Retornemos ao segundo parágrafo. Meio Ambiente é o conjunto, o todo. Onde estamos, inclusive no centro da cidade. Que adianta termos parques maravilhosos, a população respeitar os parques (que normalmente tem bastante projeção na mídia, inclusive fornece pontos políticos aos gestores) se as praças estão abandonadas e maltratadas pelos próprios munícipes? Em Jundiaí, quando se fala em Meio Ambiente, imediatamente todos se lembram da Serra do Japi. Sim, ela é muito importante, é uma das maiores reservas de Mata Atlântica do interior. Mas existem “os braços” dela. Serra dos Cristais, Mursa, Serra de Botujuru… e em direção ao leste, oeste, norte, existem mais porções de mata; Serra Azul, Nhandjara em Itupeva, região das bacias do Capivari, do Jundiaí Mirim… muito se fala dos periódicos desmatamentos nas bordas da Serra do Japi, mas dificilmente vozes se levantam na fiscalização na região leste, do Caxambu, onde está o rio que abastece nossa cidade. Isto acontece devido a esse “efeito militância” que surgiu nos últimos vinte e tantos anos, de dentro da própria luta pela causa nobre. Quando cai uma vestimenta que causa “status” nos soldados, o foco passa a ser a defesa daquilo que mais reluz. No Brasil, a Amazônia. Em Jundiaí, a Serra do Japi. E onde está a mesma força para defender a região Intervales, no sul do estado? As pequenas porções de matas pelo interior, em meio à extensa região canavieira paulista? E o cerrado? E a caatinga? Todos os biomas são fundamentais para o equilíbrio! E são todos eles que chegam, discretamente, ao nosso habitat urbano. Com as matas ciliares, a fauna própria de cada uma. E é essa fauna e flora que caracterizam as peculiaridades de cada município. Pergunto; quantos jundiaienses sabem o nome das aves da região? Das espécies arbóreas da região? Não precisa pensar muito. Alguns anos atrás fiz uma pesquisa de geografia física com a população e constatei que a maior parte desconhece os nomes dos rios e córregos da cidade, a maioria citou somente (e logicamente) o Rio Jundiaí. O Guapeva foi pouco lembrado. Córregos então… sequer apareceram nas respostas.

Como defender aquilo que não se conhece? É a pergunta que continuará ecoando em nossa sociedade. Poucos sabem onde estão as nascentes. De onde vem a água que bebemos. Se não sabemos onde está a nascente, como fiscalizar? Perguntar às autoridades? Vejo muitos falando dos grandes rios que foram despoluídos. Mas se não estão totalmente despoluídos, é porque estão chegando a eles os efluentes de córregos não despoluídos. Córregos, inclusive, que a própria população joga lixo. “Ah, é um riozinho no meio do mato, ninguém vai notar”.

Este descaso com determinadas partes – menores – desse corpo ambiental é uma prática inerente do ser humano. As pessoas normalmente cuidam mais das partes que ficam mais expostas. Cabelos, músculos, dentes… e não dão tanta atenção àquelas partes menos observadas, como os ouvidos, a língua (sim, quem escova a língua?) E indo além, a agressão ao nosso corpo se dá muito com o que ingerimos. Com aquilo que bebemos e comemos. Há pessoas que não sabem que tem pressão alta. E abusam de determinado alimento. Se tantos desconhecem seu próprio organismo e o agridem com uma alimentação abusiva, inadequada à sua natureza, o que dizer em relação às ações dessa pessoa ao meio externo que ela habita? Como cuidar do corpo do planeta se não tem a devida atenção ao seu próprio corpo?

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A moda reveste nosso corpo. Nosso estilo. Queremos estar na moda. E a tal moda se expande pelas nossas ações sociais, políticas, inclusive dentro das mais nobres causas. Assim vemos um contínuo douramento da pílula. Apreciamos lindas imagens da natureza, que abarrotam a internet. Ficamos seduzidos por imagens de animaizinhos. Enchemos de “likes”. E em outros momentos gritamos ao ver imagens de caça, desmatamento, crueldade contra animais… mas o que estamos, de fato, fazendo para reverter essa situação negativa? Não, não é fácil, como técnico ambiental e palestrante, sei muito bem da imensa dificuldade em lidar com o poder público e principalmente com a população. Mas é preciso insistir, continuar, não desistir e nadar contra a correnteza.

GEORGE ANDRÉ SAVY

Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.

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