O médico e professor adjunto da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ), Ivan Aprahamian (foto acima) está despontando na área da Geriatria. O trabalho dele vem ganhando projeção nacional. Para os que costumam dizer que a velhice é a melhor fase da vida, o especialista é enfático: “isto é mentira”. No mês passado, Aprahamian ministrou palestra no Congresso Brasileiro de Neuropsiquiatria Geriátrica e World Congress on Brain, Behavior and Emotions, em Porto Alegre.
A palestra intitulada de “Tomada de Decisão”, abordou as funções cognitivas (processo mental de percepção, memória, juízo e raciocínio) no envelhecimento. Segundo o professor, a testagem desta função é promissora na detecção precoce da Doença de Alzheimer em estágio bem iniciais e pode ser capaz de detectar efeitos de antidepressivos em idosos com Depressão Maior.
Aprahamian também foi aprovado para inscrição da Livre Docência da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e nomeado editor da Revista Perspectivas Médicas junto com o professor dr. José Fernando Meletti.
Para o Jundiaí Agora – JA – Ivan Aprahamian falou sobre o envelhecimento e suas consequências:
A partir de qual idade as pessoas devem começar a se preocupar com a velhice?
O processo de nos cuidarmos idealmente deveria começar muito cedo. Temos alterações fisiológicas do envelhecimento a partir dos 30 anos. Algumas doenças como a aterosclerose têm início aos 40 anos. A prevenção deveria começar na terceira década de vida.
A Terceira Idade é chamada de ‘Melhor Idade’. Com todos os problemas que ela traz, acha este termo correto?
O termo é infeliz. Costumo brincar com meus pacientes que o Banco Real foi vendido após adotar esse slogan como principal tema de campanha. O envelhecimento traz uma série de preocupações. Dizer que é a melhor fase da vida é uma mentira.
A impressão que se tem é que existem mais idosos sofrendo de doenças como Alzheimer hoje do que há 10 anos. Isto é fato? Se sim, por quê?
Não, na verdade temos dois pontos principais importantes:
1. Epidemiologia: é uma questão de envelhecimento populacional – a doença dobra a cada 5 anos após os 60 anos, se temos mais idosos, teremos mais diagnósticos.
2. Diagnóstico precoce: antes falávamos que um idoso era “esclerosado” é isso era “normal”. Hoje estamos preocupados com a doença e fazemos muito mais diagnósticos até por termos mais recursos.
Como os familiares podem detectar os primeiros sinais da doença para daí procurar um médico? Um simples esquecimento precisa ser considerado? A partir de qual frequência os parentes precisam se preocupar?
As famílias devem se preocupar com esquecimentos mais frequentes e que costumam atrapalhar realmente a rotina da pessoa. Esquecer um nome em um dado momento e lembrar três horas depois é normal. Os parentes de primeiro grau tem um pouco mais de risco, mas a conduta preventiva não muda para quem tem ou não um pai ou irmão com a doença. Todos devemos ter uma vida saudável é essa é a nossa maior defesa.
Se não há cura para o Alzheimer, qual a vantagem da detecção precoce?
Puramente tentar reduzir a velocidade do processo e planejar muito melhor sua vida, preparar a família e tentar ter uma qualidade de vida razoável.
Existe uma porcentagem de quantos idosos terão esta doença?
No Brasil há variações regionais, mas algo em torno de 7,5% dos idosos é um número muito razoável por trabalhos científicos.
É comum idosos tomarem antidepressivo?
Infelizmente é comum e há certo abuso nessa prescrição. Em estudos que conduzi nos ambulatórios da Faculdade de Medicina de Jundiaí e no Hospital das Clínicas da USP vimos uma prevalência de 30 a 40% de usuários de antidepressivos.
Quais os motivos da depressão do idoso?
Depressão não é sinônimo de envelhecimento. Passamos por muitas dificuldades quando idosos: aposentadoria, perdas afetivas, incapacidades, finitude. No entanto o papel das doenças clínicas (como diabetes, infarto, derrame, câncer, entre outras) tem um papel importante.
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