Parece que só acontece comigo, mas liguei para uma clínica para agendar um exame e a simpática pessoa que me atendeu perguntou se eu tinha o pedido médico correspondente. Diante da minha confirmação perguntou se poderia enviar o pedido para o WhatsApp da clínica e me passou o número. Como sou insistente perguntei quem responderia o pedido e como isso ia ser feito. Respondeu-me que ela mesma cuidaria do processo e entraria em contato. Desliguei pensando: Se a pessoa com quem estava falando iria fazer o agendamento por que não o fez e só me encaminhou para um aplicativo?
A tendência de substituir pessoas por processos eletrônicos é irreversível. Das portarias de prédios e condomínios aos serviços bancários tudo está digitalizado. Com isso fica cada vez mais difícil viver sem um celular ou um computador. Estamos ficando tão dependentes destes aparelhos que se me levarem o telefone o que menos me importará será o aparelho. Vou perder meus contatos, minhas fotos, minha agenda. Há quem não saiba nem do seu próprio número, pois nunca liga para si mesmo e não há porque armazenar na nossa memória essa informação.
As inteligências artificiais não vão substituir as pessoas, só as que fazem atividades repetitivas, porém a ampliação dos aplicativos mesmo com toda tecnologia em pleno desenvolvimento ainda tem muito de ensaio e erro com o desenvolvedor tentando adivinhar quais as dúvidas dos usuários para pré-elaborar respostas, como acontece quando se usa, ou se é direcionado, para um Whatsapp. Se o que você quer saber não faz parte das adivinhações do programador a conversa termina. Não podemos nos esquecer, nunca, que na visão do programador se um site não atende você ou um aplicativo não funciona a culpa é sempre do usuário.
Liguei de novo para a clínica e fui atendido por outra pessoa, talvez com mais idade que a primeira, que atendeu meu pedido e prontamente agendou o exame. Exatamente como eu achei que seria o mais racional. Quase duas horas depois recebi um Whatsapp da clínica perguntando como poderia me ajudar. Agradeci e respondi que já havia agendado o exame para surpresa de quem quer que estivesse falando comigo. Acredito que alguém tenha vendido um serviço para “modernizar” a clínica e as pessoas ainda não sabem usar adequadamente ou nem sabem muito bem exatamente para que serve. O que deve justificar os desencontros que, invariavelmente, sobram para os pacientes.
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Nossa convivência com o mundo digital, pelas mais diversas razões, será crescente o que não justifica que tenhamos que atender a todas as exigências desse universo que se forma em torno das relações entre as pessoas e os serviços, nem aceitarmos a ideia que “emburrecemos” diante das inúmeras situações que enfrentamos em nossa convivência social quando as mudanças propostas parecem absolutamente ilógicas e disfuncionais. Não sou, em absoluto, contra os avanços da tecnologia, mas absolutamente contra os seus excessos.

FERNANDO LEME DO PRADO
É educador
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