O mundo caminha em um sentido na questão da mobilidade urbana e o Brasil insiste em seguir em uma direção completamente diferente. Não de agora. Há tempos. Não de responsabilidade do partido A, B, C ou D. Ou melhor, sim, de todos. E a Jundiaí do futuro nada mais é do que um exemplo claro e retrógrado desse pensamento. São pensamentos do passado.

A valorização do carro em detrimento aos outros meios de transporte é algo tão importante quanto respirar e tomar água para a maioria dos brasileiros. Aqui, igualmente. Quem pratica esportes outdoor, como a corrida de rua e o ciclismo por aqui sente bem isso na pele.
Nos últimos 15 dias, por duas vezes, tive de “saltar” e desviar de carros em cima da calçada (isso mesmo, da calçada) na avenida Nove de Julho. Preocupação com o pedestre? O que seria isso? Sai da frente pois eu mando, com meu possante carro!

Estou até já cansado (e anestesiado) de sair correndo pela cidade durante o treinamento e carros acelerarem em cruzamentos para não dar passagem, outros motoristas educados jogarem o veículo tirando fina de você e rindo, outros xingando…

O que foi feito na cidade de prático nos últimos 20/30 anos na questão das ciclovias? Da mobilidade urbana por bicicletas, por exemplo? Não estou falando das ciclofaixas de lazer ou dentro de parques. Para quem tem dúvida da diferença, essa é uma definição básica de ciclovia:

“Espaço separado fisicamente para o tráfego de bicicletas.É o modo mais seguro, porque há um isolamento impedindo o contato com os demais veículos. Essa separação pode ser através de meio fio, grade, muretas, blocos de concreto ou outros tipos de isolamento fixo. Esse tipo de segregação é encontrado em avenidas e vias expressas pois protege o ciclista do rápido e intenso trânsito.”

Lembro que na campanha de 2012 para a prefeitura, houve a promessa de ao menos 30 quilômetros de ciclovias… Então, me diga, você está usando esses espaços como transporte? O que acha deles? Atualmente, não vejo qualquer discussão nesse sentido.
Para não criticar tudo e todos, há exemplos positivos no Brasil, como em Santos. Tenho amigos e parentes que moram por lá e estão vendendo (ou já venderam) os carros e comprando (ou já compraram) uma bicicleta para cada integrante da família. As ciclovias estão espalhadas pela cidade. Pode-se ir à padaria, ao supermercado, à academia, ao clube, ao banco, à escola/faculdade, ao médico/dentista, ao bar/restaurante/shopping… E ainda não ter de pensar em que dia desta semana vence o IPVA e sobre a renovação do seguro do veículo!

Jundiaí pode não ser plana como Santos, mas imagine ciclovias ligando as avenidas Nove de Julho, Luiz Latorre, Ferroviários, Ozanam nos dois sentidos, em direção à Várzea Paulista ou do lado da Unip (onde há um pequeno exemplo do que poderia ter por toda a cidade, bom ressaltar), rodovia Geraldo Dias até Louveira (por que não?). Diversos bairros seriam interligados por bicicletas, com segurança, facilidades… e olhe que os pontos que citei seriam praticamente planos, ou seja, de fácil deslocamento para todos, de crianças a idosos. Sem falar que ao chegar à estação de trem, também seria possível embarcar com a bike para São Paulo e se deslocar pelo metrô ou de bike até o trabalho (ou deixá-la nos estacionamentos existentes para a hora do retorno).

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Não adianta viajar, assistir a um filme ou ler uma reportagem para então elogiar que na Bélgica, Dinamarca, Suécia, Canadá, Noruega, Espanha, Japão, entre outros locais, é assim, se estamos sempre repetindo o discurso de ser o país ou a cidade do futuro, mas não conseguimos pensar do presente para frente, estamos sempre acorrentados a um modo de agir que no mundo ficou no passado. (foto acima: www.brasileiros.com)


savazoniANDRÉ SAVAZONI
Jornalista, corredor amador e estudante de Educação Física.