Tanta coisa para comemorar numa só semana, que algumas passam a ser vistas num plano que não confere a sua dimensão. Por exemplo: o Dia do Professor. Será que todos se lembram de que dia 15 de outubro é denominado o Dia do Professor? Sempre nos lembramos destas figuras que passam pelas nossas Vidas? Ou eles são lembrados esporadicamente e não conferimos o devido valor? Quem foram seus professores? Que lembrança você tem de cada um deles? Qual valor você atribui a cada um, diante de seu status atual? Começaremos assim nossa conversa e saberemos, ao final dela, para quem vai o parabéns hoje…
Venho de uma família onde minhas tias e mãe eram professoras. Daqueles que gostavam do que faziam e eram consideradas boas profissionais, reconhecidas pelos seus pares e alunos. Eram outros tempos, mas não o suficiente para que se descaracterize o profissionalismo e a ética: estes fatores são atemporais. Perenes, direi.
Lembro-me que, em minha casa, a palavra de um professor valia muito. Nunca se colocou e dúvida o que o professor disse e o que eu dizia que ele havia dito. Em casa valia o que o professor disse. Sempre, inclusive quando cursava minha primeira faculdade, e me queixava de alguma coisa, a pergunta era recorrente: o que seu professor disse?
Estas atitudes de meus pais sempre me deram o rumo de que o mestre não erra. Ao mestre reserva-se a última palavra. E ao aluno cabe estudar e analisar e aprender. E, obviamente crescer em sua busca aos outros saberes e informações, para uma formação alicerçada e completa. Entendo que foi assim que aprendi os valores da vida. Ou melhor: os valores. A escola era imaculada, ainda que eu mesmo, como aluno e criança, percebesse alguns detalhes pouco confiáveis ou espaços pouco nítidos, não cabia a mim difamar minha escola. Em reuniões de pais, minha mãe estaria presente e discutiria com quem de direito, sobre aqueles senões.
OUTROS ARTIGOS DE AFONSO MACHADO
A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO E O FANATISMO PELA MODA
SEREMOS FRACO OU NÃO PERCEBEMOS NOSSA EXISTÊNCIA?
POR QUE SERÁ QUE CONSTRUÍMOS MUROS NAS NOSSAS VIDAS
QUAIS OS MUROS QUE EU, VOCÊ E TODOS NÓS VAMOS CONSTRUIR HOJE?
O ARTISTA VAI ONDE O POVO ESTÁ. A DESGRAÇA TAMBÉM
RIR DO QUÊ? IR PARA ONDE? QUE VERGONHA…
EXISTIRÁ UMA RECEITA PARA ACERTAR NA VIDA?
DILEMAS DE UMA MENTE IMPERTINENTE
NÃO SOMOS OBRIGADOS A AGUENTAR TUDO… PACIÊNCIA TEM LIMITE
O CLAMOR DO PAÍS NÃO PODE E NÃO SERÁ IGNORADO
E AFINAL? ESCOLHAS OU CONSEQUÊNCIAS
S ESCOLHAS E TODAS AS SUAS CONSEQUÊNCIAS
Sempre foi assim, até o terceiro colegial. Achava estranho, pois já estava prestes a ingressar no ensino superior e lá ia minha mãe às reuniões de pais e mestres. E eu sempre tinha uma devolutiva sobre aquilo que se tratou de mim: tal professor disse isso, aquele outro disse aquilo, não brinque com sicrano, não vacile com beltrano. Mas nunca a palavra do professor foi posta em dúvida.
Será que isto auxiliou para que eu tivesse a admiração que nutro, ainda hoje, pelos meus velhos mestres? Será que a conduta de meus pais ajudou a construir a imagem significativa que permanece intacta em minha imaginação, quando penso em meus amados professores.
De uma coisa eu sei: não foram ex-professores. Professor é infinito. Professor é para sempre. Professor não deixa de ser professor quando seu aluno se forma. Professor continua a ser professor porque seus ensinamentos não terminam nunca. Disso eu sei. Isso eu vivo.
Fui paraninfo de muitas turmas. Patrono também. Fico feliz, pois entendo que é o reconhecimento que meus alunos têm por mim, mesmo sabendo que depois da cerimonia de formatura tudo se fecha, todo se transforma. Mas sempre penso na responsabilidade de aceitar estes convites, pela seriedade que deles se desprendem: dar seu nome a uma turma. Coisa séria demais.
Quantas não foram as vezes em que as turmas se voltam para um conselho ou uma opinião, diante de uma dúvida profissional ou outra? E, tanto o paraninfo quanto o patrono devem estar lá, esperando e acolhendo. Buscando solução para mais aquela questão. Mente quem disser que o magistério não rejuvenesce: estar na ativa é estar comungando daquelas inquietudes e daqueles tormentos que brotam em jovens em formação.
Para além deste aspecto da formação e do desenvolvimento humano, está o desenvolvimento técnico: a informação, que urge ser precisa, adequada e contundente, para que não sobre dúvidas sobre a trajetória a ser seguida. Estar no magistério possibilita este exercício, continuamente. Não vejo distinção entre os níveis de ensino, afinal, trata-se apenas de uma nova ferramenta e outro uniforme, visto que os fins são os mesmos.
Tenho, em meu exercício, que preciso estar atualizado e veloz, se quiser continuar a trabalhar; não seria diferente o tratamento dado num ensino básico de um doutorado ou pós-doutorado: todos focam o ser humano em desenvolvimento, inclusive o professor que o administra. E sempre será. Por isso que professor é para sempre.
Mudam as complexidades, as preocupações, mas o zelo pelo homem será sempre o mesmo; preocupação que me atormenta é saber se estou contextualizado com meus alunos, uma vez que não há nada pior do que professor fora da casinha. No entanto, acredito que ainda esteja dando conta do meu dever. E terei coragem de dizer: isso eu não sei…como já o fiz por várias vezes. E saí atrás daquele conteúdo para trazer em seguida.
É a minha contribuição para o desenvolvimento daqueles que confiam em mim.
Falar de meus professores não se faz necessário, porque vivo falando deles. Converso com cada um deles, todos os dias, em cada perrengue que me vejo metido. De repente o Paulo Vieira me chama a atenção para a mesóclise. Outra vez a Annette Guyot me lembra de uma geometria plano. Por vezes Newton Balzan me adverte para olhar com mais atenção para aquele ponto perdido no gráfico, quando não o Beni Marques me sacode para que eu atente à fala de Diadorin; Sonia Carletti, Salvador Bruno, Yolanda Bastos (Ah….dona Yolanda Bastos, quanta saudade….), Nassir, Cidú, Jurema, todos desfilam pela minha Vida diária. Cada um deles tem um significado especial, para aquele momento.
Entretanto, qual deles estudou no período em que eu fiz minha primeira faculdade? Qual deles levava lanche para eu comer, no Caprioli, porque vinha direto de aulas, que substituía para ajudar em casa e, assim, não conseguia comer nada antes das aulas? Quem muitas vezes me emprestava agasalho para as voltas geladas da PUCCamp?
Quem?
Minha professora de Ciências. Sim, ela mesma. Ela fazia uma complementação em Artes, para atuar em mais uma área. Ela, a Betty Nascimento Dutra. Que se tornou em minha grande amiga, quando comecei a lecionar no Bispo e que me ajudou, durante toda a trajetória de minha mãe. Betty ligava para mim toda segunda e sexta feira, impreterivelmente; e sua fala sempre começava com um: ola, filho….você está bom? E eu estava bom. Estava mau. Estava feliz. Estava triste. Conversávamos, riamos, chorávamos, desabafávamos nossos nós. Éramos amigos desde sempre.
VEJA TAMBÉM
SEGUIMOS PROCURANDO VALORES…MAS QUAIS VALORES EXATAMENTE?
HISTÓRIAS SEM MORAL: EU JURO QUE VI E OUVI
AFINAL, ONDE TERMINA O CAOS E ONDE COMEÇA A ORDEM?
SÁBIAS E IMPERTINENTES CONTRADIÇÕES
LEGADOS…LEGADOS…QUE LEGADOS SÃO ESSES? CADÊ ELES?
A MÍDIA ESPORTIVA: ENTRE A QUE TEMOS E A QUE QUEREMOS
LEGADOS…LEGADOS…QUE LEGADOS SÃO ESSES? CADÊ ELES?
UMA FORMA DE PRECONCEITO: A INVISIBILIDADE
AH, ESSA COISA DO POLITICAMENTE CORRETO
Neste final de semana eu estava em São Paulo. Cheguei a perguntar sobre a gravata, antes de viajar. Mas, quando retornei com as fotos para ela ver, não tive tempo. Ela precisou partir e não quis me preocupar. Não me avisou. Não deixou recados.
Sabe, Betty, tenho um orgulho enorme de ser seu amigo, professora amada. Com você, também, aprendi a ser guerreiro e a dobrar-me sem me quebrar. Você sabe como foi para que eu me formasse. Você e Marta Garcia, minha irmã amada. Você sabe por que eu tinha pressa. E você conhecia minhas angústias. Mas respeito: não deu tempo de me esperar.
Professora Betty, respeito seu tempo. Games over. Mas não vou abrir mão de uma conversa bem divertida em nosso encontro, seja o dia que for. Você me ensinou a superar obstáculos, assim eu o farei. Só me promete que você está, ai em cima, feliz por tantos jovens que você encaminhou e fez deles pessoas melhores.
Sabe, Betty, sem frescuras: eu te amo muito. Do meu jeito, mas te amo. Por isso e por muito mais, receba meu beijo de feliz Dia dos Professores.
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.