Há muito tempo não participo das festas do mês de junho e, há alguns anos, parei de enfeitar a casa com bandeirinhas. Meus filhos cresceram e agora consideram essa arrumação toda “coisa de criança”. Quando mais nova, gostava de frequentar e brincava de correio elegante, prisão, pregar o rabo do burro, arremessar bola de pano em latas cheias de areia, tentar a sorte nas argolas ou na pesca.

Devo confessar que em qualquer dessas modalidades de brincadeiras juninas era um completo desastre, menos na quadrilha, mas, me esforçava para entreter a mim e aos espectadores. Tempo bom em que a mágica da infância ainda funcionava, embora estivesse crescendo e prestando atenção em outras coisas que não somente as brincadeiras, como por exemplo: garotos. Meu primeiro amor mandava diversos correios elegantes, com uma letra horrenda, a festa toda. Hoje receberia dezenas de whatsapps, o que seria um grande alívio, pois me pouparia de tentar decifrar aqueles garranchos.

Várias das minhas amigas também conheceram seu primeiro amor em alguma festa junina. No mês de junho prestam-se muitas homenagens, são 56 comemorações e, curiosamente, os dias de três santos católicos ocorrem na sequência ao dia dos namorados:

– Dia dos namorados (12/06);

– Dia de Santo Antônio (13/06);

– Dia de São João (24/06);

– Dia de São Pedro, São Paulo e do Papa (29/06).

Indaga-se: há alguma relação entre o mês de junho, namoro e santos católicos? Por que se concentram no mesmo mês? Os encontros amorosos ocorrem mais em junho, ou porque é neste mês que os casais se formam com mais facilidade? Uma típica pergunta Tostines. Como não há resposta que justifique, plenamente, estas perguntas, manifesto minha opinião a este respeito.

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CURIOSIDADES CURIOSAS

O mês de junho leva este nome em homenagem à deusa romana Juno, esposa de Júpiter. Tem 30 dias e, por volta do dia 21, ocorre o fenômeno denominado “solstício”, ou seja, o sol atinge o ponto mais ao norte de sua trajetória. Isto significa que entramos, oficialmente, no inverno no Hemisfério Sul. Dias mais curtos, noites mais longas, e ambos trazendo frio. Esta condição favorece inúmeros seres vivos. Nas plantas é o sinal da natureza para que sua exuberância reprodutiva se manifeste em toda a sua plenitude. Elas produzem flores e sementes para perpetuar sua beleza, pois respondem ao fotoperíodo.

Fotoperíodo é a duração do dia em relação à noite em um tempo de 24 horas. Fotoperiodismo é a resposta fisiológica dos organismos na relação dia/noite, afetando, igualmente os mamíferos, inclusive, o homem. O neurotransmissor, guia dessas mudanças nos animais, é a melatonina, produzida pela pineal, uma glândula localizada no centro do encéfalo humano. Falei bastante sobre ela no primeiro artigo publicado neste periódico.

De forma geral, nos animais, a melatonina regula o relógio biológico, indicando quando é noite ou dia, induzindo ao sono, determinando a estação do ano, se já é hora de reproduzir, mantendo o equilíbrio do sistema imunológico. Quando os dias ficam curtos e as noites longas, a concentração de melatonina aumenta, estimulando o sistema reprodutor de animais com gestações longas, como na reprodução humana. Este fator, somado ao frio que induz as pessoas a se aproximarem, se abraçarem mais, falar de pertinho, estimula a produção da nossa velha conhecida ocitocina, o hormônio do amor.

Pronto! A sopa química favorece as paixões “juninas”, quando comemoramos o dia dos namorados (estamos mais propícios a encontrar um “príncipe” neste período) e, se o amor for fulminante, aproveitamos a sequência de comemorações festivas, para nos aproximar mais, conhecer o alvo e, então, pedir ao cupido que dispare suas flechas.

O dia destinado a cada santo, segundo as minhas pesquisas, não guarda relacionamento com exaltação, são datas comemorativas de suas mortes, com exceção de São João, cujo dia, homenageia seu nascimento.

Comemorar o mês de junho é um hábito antigo em várias partes do mundo. Antes do nascimento de Jesus, os povos pagãos do Hemisfério Norte celebravam o solstício de verão, o dia mais longo e a noite mais curta do ano (para eles) que, neste caso, ocorre em junho. As festas ocorriam para pedir aos deuses a fertilidade da terra e garantir boas colheitas nos meses seguintes.

Com o avanço do Cristianismo, a Igreja incorporou a tradição e, no século VI, os ritos da festa do dia do solstício, em 21 de junho, passaram para o dia do nascimento de São João Batista, em 24 de junho. Mais tarde, no século XIII, foram incluídas no calendário litúrgico as datas comemorativas de Santo Antônio (dia 13) e São Pedro (dia 29). É por isto que esses três santos são os padroeiros das festas juninas.

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Cada um tem uma história diferente e, curiosamente, tem estreita proximidade a relacionamentos. Caso tenha fé nestes santos, veja o que deve fazer:

– Santo Antônio: na hipótese de não ter conseguido um namorado até dia 13/06, apele para ele, parece ter bastante influência neste assunto.

– São João: assim que receber a resposta de Santo Antônio, acione São João, pois, ele protegerá a sua relação.

– São Pedro: tomara que demore em acender uma fogueira para ele, pois, diz a lenda que, além de controlar o clima, os viúvos devem lhe prestar homenagens.

As festas juninas homenageiam esses santos por motivos que não se relacionam com a caça ao namorado (a), mas, que facilitam esses encontros… facilitam! O que realmente influencia no ânimo e disposição para se entregar ao amor é a menor duração dos dias e o conseqüente aumento das noites, afinal, neurotransmissores, jantares à luz de velas, vinho (o álcool tende a destravar a língua e ajuda os enamorados a dizer o que sentem), deixam o nosso parceiro irresistível aos nossos olhos.

Neste raciocínio, a resposta para a pergunta Tostines é: o amor resplandeceu em junho por que junho é o mês do amor, e por que é em junho que floresceu o amor. Simples assim. (Rooswelt Pinheiro/ Agência Brasil)

 

JUNHOELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora