Fábrica de CRETINOS DIGITAIS

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Quem acompanha minhas colunas, sabe que escrevi o penúltimo texto sobre os malefícios do uso excessivo de telas em crianças e adolescentes e, no último, escrevi sobre os prejuízos deste excesso em pessoas adultas e idosas. Neste terceiro texto da série, quero chamar a atenção para um dado alarmante: estamos diante da primeira geração que apresenta níveis de QI inferior ao dos pais, uma inversão não observada em nenhum tempo histórico. O livro A fábrica de Cretinos Digitais: Os Perigos das Telas para Nossas Crianças(foto), do neurocientista e escritor francês Michel Desmurget, faz esta denúncia, em que o abuso e a falta de critérios no seu uso está no centro do fenômeno.

Os avanços tecnológicos sempre foram criticados em suas épocas. Na antiguidade, Sócrates temia que a escrita acometeria nossa capacidade de memória. Na Idade Média, a Igreja Católica temia que a invenção da prensa de Gutemberg acabaria com a autoridade dos sacerdotes, pois os fiéis poderiam ler diretamente os textos, sagrados ou apócrifos. Com o cinema, por sua vez, havia uma ameaça clara às expressões teatrais. Nada disso se confirmou. Nossa memória foi aprimorada com a escrita, os livros não eliminaram a fé e o teatro não sucumbiu ao cinema. Mas e com as telas digitais? Estaríamos, novamente, diante de um pânico moral sem fundamento? Desmurget argumenta que, dessa vez, a ameaça é real.

O livro A Fábrica de Cretinos Digitais reúne estudos e pesquisas científicas que corroboram a noção de que o uso excessivo de meios digitais pode causar sérios danos à saúde física, emocional, mental e intelectual. Na dimensão física, pode levar a obesidade e problemas cardiovasculares. Na esfera emocional, gera depressão, ansiedade, agressividade e comportamentos de risco. Em termos cognitivos, pode causar dificuldade de concentração, memória e empobrecimento da linguagem. Intelectualmente, isso pode afetar o rendimento escolar dos jovens, com consequências graves no desenvolvimento neural de crianças e adolescentes. Com tantos prejuízos reunidos, certamente o desempenho escolar não sairia ileso.

O diretor do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), que afere como está o desempenho de estudantes na faixa dos 15 anos, destaca que não se trata apenas do uso de telas como recreação. Mesmo ao considerar a inclusão de tecnologias digitais na educação formal, disse recentemente: “se algum efeito tiver, é o de piorar as coisas”.

Com isso, alguns países estão atuando de maneira drástica, a fim de coibir o uso abusivo de telas em crianças e adolescentes, apesar dos pais permitirem. Há leis que ameaçam os pais com multas ou visitas do serviço social, caso entendam que essas famílias não estejam preservando suas crianças.

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Outro sinal inequívoco de que o uso de telas corrobora sobremaneira para esse empobrecimento psicoemocional e rebaixamento de QI: vocês sabiam que os grandes empresários do Vale do Silício estão preocupados em proteger sua prole das mesmas ferramentas digitais que comercializam? Pois é. Lucram com as muitas famílias que não conseguem coibir, ao mesmo tempo que afastam suas próprias crianças. Sobre isso, Guillaume Erner, jornalista francês e doutor em sociologia, explica a moral da história: “deem telas a seus filhos, os fabricantes de telas continuarão dando livros aos deles”.

Por fim, Desmurget argumenta que o livro A Fábrica de Cretinos Digitais não é tecnófobo. Seu propósito não é demonizar as tecnologias digitais. As contribuições tecnológicas para o campo da saúde, agricultura, mobilidade urbana, telecomunicações, entre tantos outros, são incontestáveis. Entretanto, essas benesses não podem ocultar os efeitos maléficos que estão causando no desenvolvimento das novas gerações, principalmente a partir do uso dito recreativo.(Foto: Amazon)

MARCELO LIMÃO

Sociólogo, psicólogo clínico, especialista em “Adolescência” (Unifesp) e “Saúde mental no trabalho” (IPq-USP). Colaborador no “Espaço Transcender – Programa de Atenção à Infância, Adolescência e Diversidade de Gênero”, da Faculdade de Medicina da USP.  Instagram: @marcelo.limao/Whatsapp: (11) 99996-7042

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