Morando em Nova Iorque há 17 anos, o multiprofissional Thiago Ferragut Passos, de 42 anos, diz que sente falta da Serra do Japi e de jogar futebol. Mas fica aliviado ao ficar longe do que ele chama de a língua da cidade. Aliás, isto seria – na opinião dele – algo que Jundiaí poderia aprender com os americanos: cada um fazer o seu sem se preocupar com o que os outros vão falar. A habilidade de receber negócios interessantes, principalmente na área alimentícia, que não fechem por falta de interesse do público, é outra coisa que caberia bem por aqui, na opinião dele. A entrevista com Thiago:

Em quais áreas você atua nos Estados Unidos?

Sou preparador físico de golfe, empresário e gerente de processos de mídias sociais.

Você é casado? Tem filhos?

Sim. Sou casado com Danielle Nogueira de Sá, modelo jundiaiense que faz muito sucesso em Nova Iorque. Temos dois filhos: Bernardo e Martina.

Onde você morou e estudou em Jundiaí? Chegou a trabalhar por aqui?

Morei na vila Rio Branco, no Mato Dentro, e na rua do Retiro. Estudei no Anchieta, na La Fontaine, e no Leonardo Da Vinci. Fui da equipe que abriu a academia de musculação do Clube Jundiaiense. Também fiz parte da equipe que abriu a academia do Tênis Clube. Era to time do Café Tequila quando foi aberto, trabalhando com o Cuca e Ado Chagas. Trabalhei também como guia de turismo para a Rosa Massoti.

A classe de Thiago na escola La Fontaine, em 1990
Abertura do Café Tequila: Elvis, Thiago, Alexandre Massoti, Augusto Bernardi e a Val Medeiros
Foto que marca a saída de Thiago de Jundiaí: Alexandre Massoti, Alexandre Saraiva, Augusto Bernardi, e Gustavo Parise.

Sua família ainda está morando em Jundiaí?

Sim. Tenho tios e primos aí. Minha avó, Ana Therezinha Azzoni Ferragut, morreu no começo deste ano…

Você sente falta de algo da sua terra natal? E tem algo que você não faz a mínima questão de rever?

Da Serra do Japi e de jogar futebol no Clube Jundiaiense…Não sinto falta da língua de Jundiaí(risos).

Por que decidiu se mudar para a América?

Uma amiga tinha um sofá disponível e me ofereceu para ficar um mês na casa dela… Antes, morei em San Diego, na Califórnia. Foi em 2000. Tabalhei numa fábrica de pranchas de snowboard e como caixa de restaurante fast-food. Estas atividades ajudaram a juntar uma grana pra fazer um crédito de Fisiologia do Exercício na Universidade da Califórnia, o que me ajudou a passar num concurso para uma grande academia de São Paulo. Foi nesta academia que conheci a pessoa que ofereceu o sofá de Nova Iorque. Destino, né?

Morando tanto tempo aí, algo ainda causa impacto em você?

O clima infernal. O tempo que dura o inverno numa cidade cosmopolita. Frio, chuva e vento durante seis meses do ano. Normalmente vem acompanhado com depressão sazonal das pessoas. Pode-se falar que influencia o temperamento das pessoas. Todas, mas especialmente os brasileiros que sentem falta do sol. Ainda mais que agora! Com Facebook e Instagram ficamos vendo todo mundo postar fotos de praias, piscinas, churrascos…

E o que há de bom aí?

Gosto da proximidade de tudo que acontece dentro das artes, cinema, televisão. Gosto do fato de ser o centro do mundo e de ser um mercado extremamente competitivo em todos os campos, o que faz com que você tenha que sempre se superar e correr atrás. E isso passa a ser uma necessidade: se não quer viver a 110%, aqui não é um bom lugar…

Thiago, a esposa e filhos, moradores de Nova Iorque: todos felizes
Jundiaienses em NY: Stella Campaner, Carol Rodrigues, Danielle Nogueira, Anastacia Ninos, André Guerra e Thiago

Pensou em voltar?

Não. O único momento que levantamos essa questão foi logo após o 11 de Setembro de 2001, um mês após minha esposa, então namorada, chegar. Discutimos  se valeria a pena ficar após um atentado. Ficamos. Poucas coisas nos tirariam daqui.

Os americanos levam a sério os brasileiros?

Eles respeitam os brasileiros sérios e que entendem como se comportar numa sociedade com gente de todo o mundo, com culturas e comportamentos diferentes. Mas há sempre uma expectativa que ao redor de brasileiros há grupos interessantes e que gostam de se juntar para celebrar. E as celebrações normalmente são boas!

Dá vergonha dizer que é brasileiro?

Eu não sinto vergonha de ser brasileiro. Sinto orgulho. Mas sinto muita vergonha de muitos brasileiros que não são bons cidadãos, como políticos e alguns empresários que tentam burlar as regras.

O que mais perguntam para você?

Os americanos só querem saber do Rio de Janeiro.

Um dia chegaremos ao nível dos norte-americanos?

Pergunta muito ampla e milhares de direções. Acho que os brasileiros, individualmente, têm tudo pra chegarem onde quiserem em qualquer mercado, é só trabalhar duro e correr atrás. Como sociedade, acho difícil. Não há interesse num país de tanta desigualdade social que todos cresçam como nação, então a estrutura social que temos dificulta em muito essa “mudança de nível”. Temos esta mentalidade de que somos “colonizados”, coisa que é difícil de se mudar. Aqui nos EUA, a entrada dos peregrinos ingleses, que fugiam da perseguição política, fez com que eles viessem para cá com o objetivo de montar um país. Os portugueses vieram pra saquear e levar os nossos tesouros para a Europa. E quem estava no comando sempre teve a tendência de ficar com tesouros para eles próprios. Herança que guardamos até hoje…

 

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