E quem consegue manter as coisas numa constante harmonia, levante a mão? Não vejo uma pessoa que esteja dando conta das coisas e resolvendo tudo com a mais perfeita adequação, mesmo que minta e diga que a Vida está maravilhosa. Percebo, sim, que estamos vivendo de adequações e readequações que nos movem de um lado para o outro, sem ao menos nos pedir licença. Mas é a situação do contexto em que nos inserimos e representa nossas escolhas, inclusive.
Sem pensar em muitas teorias e sem querer transformar a Vida numa vitrine de escolhas e consequências (apesar de ser isso mesmo), num único momento temos um conjunto de atalhos e caminhos que nos conduzem para um espaço sem definição, que pode atender aos nossos desejos do momento ou pode criar uma nova perspectiva a ser tentada: este está sendo o desafio diário, das pessoas que se entendem donos das suas histórias de Vida, porque os outros deixam a Vida à deriva e culpam o destino.
Não há determinismo quando pensamos em desenvolvimento humano: há adequações e incertezas que nos conduzem por trilhas, atalhos, trechos, pedaços, momentos. Porém estes podem ser alterados à medida que eu retomar as rédeas e conduzir conforme meus planos, minhas vontades, minhas necessidades. Aí está a ciência de ser senhor da Minha Vida: minhas escolhas são as minhas consequências. Jamais devo lamentar pelas minhas escolhas!!!
Nesta situação cabe a mim lembrar dos passos do bêbado, que cambaleante segue seu rumo, conforme sua bússola interna. Pode até tropeçar, cair, ajoelhar, mas levanta e segue conforme sua orientação. Por vezes vai cambaleando, por vezes vai cruzando as pernas, outras segue firme, inflexível, o certo é que segue em frente, de uma maneira ou outra. O caminhar do bêbado mostra-nos a virtuose do mundo caótico, tão e muito mais fascinante que o mundo uniforme.
Ah, mais é muito mais difícil caminhar sinuosamente. É muito estranho andar em contrapassos. É incomodo andar interrompendo velocidade e direção. Sim para todas as afirmativas acima, mas pense na proposta rica e inusitada de não ter certeza de nada e chegar onde sempre se quis? Tal magia só é possível acontecer se traçarmos nossas Vida e soubermos que estamos num movimento caótico, inexplicável e repleto de tomadas de decisões que somente cabem a mim toma-las. Serei, sim, o senhor da minha História.
Como diria Paulo Freire e, atualmente, diz Mlodinov, não estamos preparados para lidar com o aleatório, mas a imprevisibilidade é a grande liberdade que o Homem tem. O que torna nossa Vida instigante é poder seguir adiante, derrubando certezas e questões absolutas justamente porque tudo se transforma em frações de segundos: assim e a Vida.
E como a Vida não é uma novela – nem precisa ter um final orquestradamente feliz – vamos tecendo suas etapas, com doses de otimismo e de pessimismo, conforme nosso estado de humor, mas sem acreditar que as verdades sejam absolutas e incontestáveis: elas apenas respondem àquele momento e contexto. Sempre.
Nesta direção, temos ainda a possibilidade de entendermos mais sobre nossa caminhada e nossos objetivos, que tanto nos preocupam e nos fazem sofrer. Por vezes traçamos metas tão altas, que por mais habilidosos que sejamos e por mais parcerias que tracemos, não os atingiremos na plenitude. E, então, carregaremos nossas mágoas e rancores para onde formos, modificando nossos comportamentos e nossas relações com tudo e todos que nos rodear, transformando a Vida num Inferno capaz de dar inveja à Lúcifer.
Caso tivéssemos atentado para a imprevisibilidade da Vida e pelo movimento caótico das circunstâncias, perceberíamos que o caminho seria esse e que o final, também, seria algo inusitado. Porém, não podemos ficar sem controlar tudo que nos cerca, em especial a nossa própria Vida além, é óbvio, a dos que nos cercam. Diante disto, vamos acumulando desgaste e desgosto, além de acumularmos frustrações e aborrecimentos adquiridos na discussão das relações humanas. Caótico.
O fato de não termos sido criados para conviver com a imprevisibilidade faz com que nos tornemos resistentes e inflexíveis apesar de ser ela quem comanda o espetáculo. É o imprevisível quem rouba a cena e se apossa do leme que nos conduz para cá, para lá e para acolá, inclusive; sem dar satisfação para nada e nem ninguém: avançamos mediados pelos espaços caóticos que surgem pela nossa frente, de modo incondicional, sem atender aos nossos anseios nem às nossas dores ou alegrias. Surgem e pronto: vivamos com ele, com nossos próprios recursos intelectuais, afetivos e de fé; então, tentamos o equilíbrio para acelerar os passos.
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Acredito que a grande alegria da Vida seja perceber que superamos cada etapa, das mais simples à mais espinhuda, cercados de nossa coragem e nossa Fé. Porque sabedoria para escolher, não temos, visto que tudo sempre é novo, quer seja pela companhia, quer seja pelo momento da Vida, ou pelas implicações que advirão; assim, resta-nos a coragem para o enfrentamento e a Fé para nos manter vivos e valentes.
As parcerias? Hum, estas também são inesperadas. Talvez convenientes. Ou, ainda, de ocasião, mas nem sempre constantes e firmes. Creio que as parcerias sejam nossa consciência e vontade de seguir adiante, mesmo que tudo esteja caótico e imprevisível (que é o mesmo) mas nossa teimosia nos impele a avançar, como Don Quixote, que atacava moinhos e acreditava haver destruído os monstros. Oxalá tenhamos a mesma persistência e sigamos lutando. Esta é a busca pela perfeita adequação. Ou não é?(Foto: Denise Jans/Unsplash)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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