Passado o Janeiro Branco, de conscientização sobre a importância da saúde mental, poderíamos propor sua extensão ao longo de todo o ano. O poder público precisa se movimentar, pois saúde mental deve ser um direito universal.
Desde 2014, o primeiro mês do ano foi escolhido como símbolo desta pauta e assim surgiu o Janeiro Branco. É quando as pessoas ficam mais reflexivas, muitas vezes desapontadas com o ano que se passou, ou extremamente ansiosas com o ano que está começando.
Infelizmente, no Brasil temos números preocupantes. Comparado aos demais países, somos recordistas nos transtornos de ansiedade, com cerca de 9,3% da população. A depressão também nos acomete acima da média, a uma taxa de 5,8%. Por aqui, estima-se que uma a cada quatro pessoas refira algum tipo transtorno mental ao longo da vida.
Talvez o maior desafio seja enfrentar o preconceito e a discriminação que as pessoas sofrem, ao procurar um serviço de saúde mental. Na nossa cultura, a pessoa que busca suporte de profissionais da psicologia é percebida como fraca, imatura, alguém que não consegue lidar sozinha com seus problemas. Mas quem consegue?
O cenário se agrava se a situação envolver a necessidade de psiquiatria. Neste caso, a pessoa é associada a algum tipo de loucura. A piada é: “fulano foi ao psiquiatra; deve estar doidinho”. Quanto maior a nossa submissão ao julgamento dos outros, mais nos afastamos de nós mesmos. Isso sim é de enlouquecer.
Nosso preconceito com saúde mental foi uma construção social. A associação direta entre “transtornos mentais” e “loucura” perpetuou uma noção equivocada, de que a pessoa “louca” é doente, portanto perigosa e deve ser internada. Antigamente, era comum que pessoas consideradas loucas convivessem naturalmente em meio à sua comunidade.
A história nos conta que, na passagem do século XVIII para o XIX, os antigos leprosários foram dando origem aos primeiros manicômios, segregando e enclausurando pessoas desviantes. Tudo em nome da razão médica. Esta narrativa, apesar de ser uma construção muito recente, deixou marcas profundas em nossas crenças e valores. De alguma forma, tememos a loucura até hoje. E nos defendemos, negando a nossa própria.
O importante é pensar que saúde mental não se limita à ausência de transtornos mentais. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é “um estado de bem-estar em que o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera, contribuindo para sua comunidade”. Gostou?
Como podemos observar, para além da cura de sintomas, o cuidado com a saúde mental pode oferecer um sentimento de bem-estar, plenitude, de encontro consigo mesma(o), encontrando ou recuperando um propósito de vida. Como sei que isso é possível, o meu desejo é um 2024 todo branco pra você! Estarei neste espaço quinzenalmente. Será um prazer contar com a sua companhia e seus comentários. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

MARCELO LIMÃO
Sociólogo, psicólogo clínico, especialista em “Adolescência” (Unifesp) e “Saúde mental no trabalho” (IPq-USP). Colaborador no “Espaço Transcender – Programa de Atenção à Infância, Adolescência e Diversidade de Gênero”, da Faculdade de Medicina da USP. Instagram: @marcelo.limao/Whatsapp: (11) 99996-7042
VEJA TAMBÉM
PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA
ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES