CODARIN: “Jundiaí é projetada para os ricos”

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O professor Higor Codarin é o pré-candidato a prefeito pelo PSOL, que forma federação com a Rede Sustentabilidade. Ele e o historiador Felipe Pinheiro disputam a preferência dos partidos. Se Codarin for o escolhido, mostrará que a cidade tem muitos problemas, diferentemente do que o marketing do Executivo retrata, segundo ele próprio. Para o professor, a cidade é projetada para ricos. O objetivo da pré-campanha dele é mostrar que os moradores podem ter dignidade e acessar serviços públicos eficientes e de qualidade. Leia a entrevista de Higor Codarin:

Por que você quer ser prefeito de Jundiaí?

Desde que acompanho a política, especialmente desde minha adolescência, vejo as mesmas figuras, famílias e grupos políticos protagonizando a cena política municipal. Mas mais do que isso, embora essas figuras, famílias e grupos pareçam diferentes entre si, todos estão vinculados a um mesmo projeto de cidade. Projeto voltado para a população mais rica. Sendo assim, aceitei o convite do meu partido para ser pré-candidato à prefeitura por crer que uma outra Jundiaí é possível. Por acreditar em uma Jundiaí efetivamente democrática, inclusiva e justa. Por acreditar em uma Jundiaí em que não tenhamos 900 famílias a espera de uma vaga nas creches municipais. Por acreditar em um Jundiaí em que não haja 6 mil moradores na extrema pobreza e mais de 17 mil famílias inscritas no Cadúnico. Por acreditar em uma Jundiaí em que não se pague R$ 5,50 na utilização de um transporte público de baixa qualidade e que impeça, pelo valor altíssimo, que as pessoas acessem serviços públicos essenciais como saúde, cultura e lazer. Em outras palavras, por acreditar em uma cidade com acesso universal à educação, saúde, moradia, mobilidade, lazer e cultura.

Você é jundiaiense, Codarin?

Sim, sou nascido e criado em Jundiaí. Natural do bairro de Jundiaí-Mirim. Filho de uma professora da rede municipal e de um comerciante da Vila Hortolândia. Posteriormente, fiz graduação em História na Universidade Estadual de Campinas, onde também fiz o mestrado em Sociologia. Ano passado finalizei meu doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense. Desde 2019, atuo como professor na cidade de Jundiaí.

Por quais partidos passou até chegar ao PSOL?

Nenhum. Meu primeiro e único partido é o PSOL, ao qual sou filiado desde 2019.

Por que decidiu pelo PSOL?

A principal característica do meu partido, que completa 20 anos este ano, é a coerência com seus valores. Surgimos como uma ruptura à esquerda dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) e, até hoje, mantemos essa perspectiva. O PSOL é um partido construído, sobretudo, pelo poder de mobilização de sua militância, vinculada a construção de um projeto de esquerda para a cidade e, no limite, para o país. As bancadas parlamentares mais combativas atualmente são compostas pelos parlamentares vinculados ao PSOL. Estamos sempre defendendo os interesses dos trabalhadores, dos oprimidos, e das classes mais desfavorecidas do país. Bom exemplo disso são as nossas pré-candidaturas à vereança, como a Bancada Educadora; o Movimento Cardume e TransFormar Jundiaí. É por isso que este é o meu partido, pois estamos na mesma trincheira por uma sociedade mais justa.

Se seu nome for referendado como candidato da federação formada pela Rede Sustentabilidade e PSOL, expoentes como Luiza Erundina, poderão participar efetivamente de sua campanha? Ela virá para Jundiaí?

Sim. Nos próximos meses realizaremos atividades com a deputada federal Sâmia Bonfim e a deputada estadual Mônica Seixas. Além delas, outras contribuições à campanha estão sendo debatidas. Especificamente sobre Luiza Erundina, acredito que seja difícil, tendo em vista os problemas de saúde recentes pelos quais nossa deputada passou e, também, pelo conflito de agendas. Mas se houver uma brecha, com toda a certeza gostaríamos de estar ao lado dela, uma das mais combativas mulheres da política nacional.

Qual é o diferencial do pré-candidato Higor Codarin?

O diferencial da nossa pré-candidatura é defender a construção coletiva de um projeto de cidade que seja, efetivamente, democrático, justo e igualitário. E essa construção só é possível a partir de um diagnóstico concreto e completo da cidade. A partir do marketing realizado pela Prefeitura, parece que vivemos em um paraíso terreno. A realidade da maioria dos jundiaienses prova que a ficção produzida pelo marketing da Prefeitura não é real. E nosso diferencial está justamente nisso. Queremos pensar políticas públicas que, efetivamente, promovam a melhoria na vida das pessoas. Pensar moradia digna, distribuição de riqueza, mobilidade, educação e saúde como formas de devolver Jundiaí a todos os jundiaienses. Somos a única pré-candidatura que defende um projeto de esquerda para a cidade. E é bom que se diga que este projeto está fundado na constatação de que, atualmente, essa cidade é projetada unicamente para os mais ricos. Esta não é a cidade que queremos. Esta não é a cidade que eu quero. Como professor, utilizador do transporte público da cidade e inquilino, quero construir uma cidade em que consigamos morar com dignidade e acessar serviços públicos eficientes e de qualidade.

Felipe Pinheiro, da Rede, vem dizendo que não há a mínima possibilidade de apoiar Bocalon. Você pensa da mesma forma, Codarin?

Veja, nosso partido tentou, até o último momento, compor uma frente ampla de esquerda para disputar o executivo municipal. Acreditávamos que isso era o mais importante para as eleições. No entanto, para que essa frente existisse, era necessário que houvesse uma construção coletiva de um diagnóstico da cidade para, assim, dar início à construção de um projeto, também coletivo, de esquerda para ser apresentado à população. A candidatura de Bocalon não representa nenhuma dessas necessidades. Ao contrário. Imposta de cima para baixo, sem diálogo com os setores progressistas da cidade, acaba por não demonstrar o que pensa e o que quer para o futuro de Jundiaí. As pessoas que pensaram e concretizaram essa candidatura não estão em contato frequente com os problemas da cidade. Sendo assim, não houve nem unidade no diagnóstico a respeito da cidade e, tampouco, no projeto apresentado. Ainda hoje é muito difícil conseguir vislumbrar qual é o projeto desta candidatura ao executivo. O candidato, embora se diga oposição, tem tido uma postura em muito semelhante aos candidatos da situação.

E se Bocalon for para o segundo turno? Mesmo assim não o apoiaria?

Ainda há muito tempo para pensarmos em segundo turno. O que posso dizer agora é que eu espero contar com o apoio da candidatura de Bocalon, caso eu vá para o segundo turno.

Quando o PSOL e a Rede definirão quem será o candidato?



Na convenção, a ser realizada em algumas semanas.

A maioria do eleitorado de Jundiaí é de direita e apoia o ex-presidente Bolsonaro (conforme os resultados das duas eleições presidenciais). O candidato da situação é do PL, partido de Bolsonaro. Como pretende se mostrar como uma opção viável durante a campanha, caso seja referendado?

Demonstrando que nosso projeto e nossas propostas para a cidade tendem a atacar os problemas concretos dos jundiaienses, sempre tendo como norte fundamental a redução das desigualdades sociais. Temos uma cidade  com custo de vida dos mais altos do país. O projeto político representado pelo candidato da situação não se importa com isso. O projeto político representado pela situação não é sensível à falta de vagas nas creches, à falta de professores de apoio pedagógico às crianças com autismo, ao problema crescente da segurança pública, ao valor do transporte público, ao aumento exponencial da pobreza e de pessoas em situação de rua, às áreas com riscos de inundações e à proteção ao meio ambiente. Eles não se importam pois não entendem o Estado como uma instituição social que tem o dever de garantir vida digna e justa para todos. Nós, ao contrário, nos importamos. Nos importamos pois sentimos na pele. O que vamos defender é uma Prefeitura ativa no combate às desigualdades sociais, especialmente a partir das questões centrais da vida dos jundiaienses, como moradia, mobilidade, saúde e educação e meio ambiente. Vamos demonstrar a importância e a viabilidade de políticas públicas que promovam mudanças concretas nas vidas dos moradores. 

A direita tem dois candidatos fortíssimos: Parimoschi e Martinelli. Eles representam o mesmo projeto, Codarin?

Sim. No Segundo Reinado, existiam apenas dois partidos: Liberal e Conservador. Como os dois partidos tinham representantes da mesma elite econômica e política do país, tornou-se lugar comum dizer que “nada é mais liberal que um conservador no poder. Nada é mais conservador que um liberal no poder”. No contexto jundiaiense, falando desses dois candidatos, vale essa máxima: “Nada é mais Martinelli que Parimoschi no poder. E nada é mais Parimoschi que Martinelli no poder”; Ambos representam o mesmo projeto excludente e elitista que descrevi acima.

Como superar estes dois nomes?

Demonstrando que a Jundiaí das campanhas publicitárias da Prefeitura não corresponde à cidade em que vivemos todos os dias.

Codarin, como está sendo a pré-campanha?

A pré-campanha está focada em realizar um diagnóstico detalhado da cidade, em diálogo com pessoas reais, que vivem diariamente o cotidiano da cidade. Dessa forma coletiva, conseguiremos construir um plano de governo que, efetivamente, atende às necessidades do povo jundiaiense.

Já está preparando um plano de governo? Quais são os principais tópicos?

Temos iniciado as conversas para construir os grupos de trabalho responsáveis pela construção do projeto de governo. Além disso, temos analisado experiências bem sucedidas de outras cidades para incorporar como sugestões ao plano. Um exemplo disso é a tarifa zero no transporte público, política já implementada em mais de 100 cidades brasileiras e que é viável política e economicamente. Os principais tópicos giram em torno de Direitos Humanos e Assistência Social; Educação; Saúde; Mobilidade; Trabalho; Meio Ambiente; Cultura; Esportes e Lazer.

Quando seu nome será referendado?


Na convenção.


FELIPE PINHEIRO: NÃO HÁ DIFERENÇAS ENTRE PARIMOSCHI E MARTINELLI

MARTINELLI: SEM RESSENTIMENTOS E COM ORGULHO DA ATUAL ADMINISTRAÇÃO

PARIMOSCHI: GRANDES PROJETOS PRECISAM TER CONTINUIDADE

Quando será definido o vice?

Também na convenção. A figura do vice é fundamental para construção de um mandato harmonioso. É necessário que seja uma pessoa de nossa confiança, para que trabalhemos juntos rumo ao mesmo objetivo.

Codarin, Jundiaí não tem representante na Alesp e na Câmara dos Deputados. Os parlamentares raramente fazem projetos para a cidade. Como será seu relacionamento com as duas casas?

Embora não existam deputados vinculados a Jundiaí, nós temos mandatos vinculados ao PSOL que estão em sintonia com as demandas da cidade. Com relação a eles, é possível construir diálogo permanente e frutífero para projetos conjuntos. Para além disso, Jundiaí é uma cidade estratégica no estado. Sendo assim, trabalharemos baseados no diálogo para trazer recursos e projetos que tenham em vista a dinamização das nossas propostas que visam a construção de uma Jundiaí mais democrática e justa.

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