O historiador Felipe Pinheiro é pré-candidato a prefeito pela Rede Sustentabilidade. O partido tem federação formada com o PSOL, que por sua vez optou pelo professor Higor Codarin como pré-candidato. A decisão só deverá ser tomada na convenção entre julho e agosto. Nesta entrevista, Felipe conta suas experiências políticas e afirma que Marina Silva deverá participar o processo eleitoral de Jundiaí. Ele ratificou que manterá distância da candidatura de Ricardo Bocalon, do PSB, e que conta com apoio do PT, PCdoB, PV e PDT. Felipe também afirma que irá desmascarar o racha da direita que resultou nas pré-candidaturas de José Antônio Parimoschi(PL) e Gustavo Martinelli(União Brasil). “Não há diferença nas agendas de governança dos dois”, diz . Confira:
Você é jundiaiense, Felipe?
Sou jundiaiense de escolha e coração. Fui adotado pela cidade em 2009 quando tive minha primeira oportunidade profissional. Era estagiário da faculdade de História no Museu Solar do Barão. Desde então fui mantendo vínculo com Jundiaí. Mesmo mudando de profissão continuei trabalhando aqui. Em 2014 mudei em definitivo para cá e venho trabalhando, ajudando a criar empregos diretos e indiretos, atuando nos movimentos sociais, principalmente moradias populares, educação, transporte urbano, além da pauta de direitos humanos.
Por quais partidos passou até chegar na Rede?
Aos 16 anos, meu primeiro partido foi o PSOL. Lá trabalhei no movimento estudantil secundarista, pelo passe livre e também na Puccamp. Em 2017, fazendo uma releitura da conjuntura política da época, decidi me filiar ao PDT, onde tive uma atuação bastante forte na cidade e Estado, na luta pelos direitos humanos e da população LGBTQIA+. Em março de 2023, migrei para a Rede Sustentabilidade, partido do qual sou o atual porta-voz masculino.
E por que decidiu pela Rede, Felipe?
Acredito que seja o partido mais coerente com as agendas e demandas que o século 21 exigem. A Rede é um partido preocupado com as questões do meio ambiente, justiça social, da mudança do modelo econômico. A sustentabilidade precisa ser o eixo central do debate político daqui para frente. Jundiaí precisa ser adaptada à realidade dos eventos climáticos extremos. É preciso também mudar a matriz energética do país. Além disso, a forma de fazer política deve ser alterada. A Rede é um partido democrático, onde não há caciques, onde os parlamentares não mandam nas siglas e os filiados são ouvidos plenamente. As decisões não são tomadas em gabinetes ou hotéis de luxo. Estes fatores foram fundamentais para minha filiação junto à Rede…

Se seu nome for referendado como o candidato da federação formada pela Rede/PSOL, Marina Silva participará efetivamente da sua campanha? Ela virá a Jundiaí?
Vamos buscar o apoio da ministra Marina independentemente da escolha da federação. Temos a campanha para vereadores também. Ela é um patrimônio da política nacional. A Marina(foto ao lado) é muito requisitada no país todo e tem suas próprias agendas e demandas do Ministério. Hoje existem várias emergências no Brasil que precisam dela. Certamente teremos o envolvimento da ministra durante o período eleitoral.
Felipe, você é conhecido na cidade por defender as causas LGBTQIA+. Isto lhe dá a certeza de que terá os votos desses eleitores?
Certamente haverá um bom apoio. Não só na causa LGBTQIA+. Esta comunidade já esteve comigo em várias outras frentes de luta. É claro que espero o apoio deste movimento. Mas tenho também o trabalho referente às casas populares, direito à educação pública de qualidade e contra fechamento de escolas, além do transporte público.
Você já disse em entrevista ao Jundiaí Agora que não há a mínima possibilidade de apoiar Bocalon. Por quê?
Não é uma questão pessoal com a candidatura do Ricardo Bocalon. Ele tem histórico de gestor público, faz parte de um partido muito importante e progressista. Porém, entendo que neste momento não caberia apoiar uma candidatura que nos parece ser um movimento que tem mais a ver com Brasília do que com Jundiaí. As próprias afirmações dele e dos apoiadores dão sinais de que foram acordos costurados por cima através do vice-presidente Geraldo Alckmin, com o presidente Lula, do PT. Entendemos que era necessário buscar pessoas com históricos de atuação pelas causas de Jundiaí, que não fosse lançada uma pré-candidatura artificial. Esta pré-candidatura deveria representar os anseios e costuras políticas pensadas na cidade, construída pelas pessoas e não nos gabinetes com as portas fechadas. Acredito que a candidatura do Bocalon representa alguns dos velhos vícios de uma velha esquerda incapaz de dialogar com setores da sociedade na hora de construir nomes, programas e acordos políticos, fazendo tudo isto de costas para as pessoas. A Rede e o PSOL têm o compromisso de fazer política de uma forma diferente, com o olho no olho, construindo democraticamente os processos…
E se Bocalon for para o segundo turno? Mesmo assim não o apoiaria, Felipe?
No segundo turno espero que o Ricardo Bocalon declare apoio à minha candidatura. Nós iremos ao segundo turno, junto com o PSOL. Vamos batalhar muito para que nosso projeto coletivo chegue a este espaço da disputa. Quando isto ocorrer vamos disputar com os reais adversários que é a extrema direita, a força que está atualmente na Prefeitura tocando projeto de cidade como se fosse um balcão de negócios. O segundo turno será debatido no segundo turno.
O PSOL lançou pré-candidato também. Vocês formam uma federação. Quando definirão quem será o candidato a prefeito?
Legalmente, as convenções partidárias começarão no dia 21 do próximo mês e irão até o dia 5 de agosto. A direção da federação Rede/PSOL foi recentemente constituída e é presidida pela Cíntia Vanessa(PSOL). A vice é a Rosemeire Moreira, da Rede. São elas que conduzirão o processo da convenção, quando serão definidos os nomes que disputarão a Prefeitura e a Câmara. Será na convenção também que será definido o nome do vice.
Felipe, a maioria do eleitorado de Jundiaí é de direita e apoia o ex-presidente Bolsonaro(conforme os resultados das duas últimas eleições presidenciais). O candidato da situação é do PL, partido de Bolsonaro. Como pretende se mostrar como uma opção viável?
Não concordo com esta leitura. Para mim, os eleitores de Jundiaí manifestaram descontentamento com as velhas lideranças dos velhos partidos de esquerda da cidade. Isto se manifesta pela incapacidade de fazer uma autocrítica sobre nomes que pretendem lançar para disputar o Executivo, papel dos vereadores, as práticas e formas de fazer política, os acordos firmados em restaurantes de luxo. Sempre esquecendo de fazer o debate pela base, andando nas ruas, construindo projetos pautados na realidade e com intervenção permanente. São figuras que só aparecem nos anos eleitorais e depois somem no dia seguinte. Acho que nas eleições passadas o eleitorado recusou este tipo de liderança, que é totalmente o oposto do que prega a Rede. Pretendemos colocar em prática um projeto de renovação política total. O meu nome e os das seis pessoas à Câmara Municipal representam este projeto, pensado por quem não é político de carreira. Todos nós temos profissões,. Contudo, queremos atuar na política para ajudar a mudar a vida da população. Estas políticas são pensadas em evidências e não em caixinhas ideológicas. Usaremos os bons exemplos de gestões que deram certo no país. Queremos todas as crianças nas escolas, a tarifa zero no transporte coletivo, melhora dos índices de desenvolvimento humano e sustentabilidade com políticas ambientais concretas.
Nesta equação tem o Gustavo Martinelli, vice-prefeito que também é pré-candidato. As coisas ficam ainda mais complicadas para você, Felipe?
Um dos nossos papéis neste processo eleitoral é mostrar que não existe nenhuma diferença política nas agendas de governança do José Antônio Parimoschi(PL) e do Gustavo Martinelli(União Brasil). Inclusive, é bom lembrar que um foi, até recentemente, gestor de Governo e Finanças da Prefeitura. O outro é vice-prefeito. O Gustavo não rompeu politicamente com o atual governo. Não faz uma única crítica aos oito anos de gestão do Luiz Fernando Machado, mesmo dos quatro primeiros quando ele não era vice. Não entendo os motivos que o levaram a ser candidato numa suposta oposição ao escolhido do prefeito. Até o momento não foi capaz de apresentar uma justificativa para explicar a própria pré-candidatura. O silêncio dele dá entender que tudo caminha bem e sabemos que é exatamente o contrário. Temos quase mil crianças fora das escolas. Temos milhares de pessoas em filas na UBS. Temos UPAs há 10 anos em obras e que não foram entregues até o momento. Durante os últimos oito anos não tivemos nenhuma unidade habitacional entregue. Nos índices do Governo do Estado para política de sustentabilidade e meio ambiente, Jundiaí caiu. O crescimento é desordenado. E, apesar de tudo isto, não vemos o Gustavo Martinelli fazendo um debate sobre o futuro da cidade. Vamos desmascarar esta farsa que é a suposta divisão da mesma agenda e o mesmo projeto político para Jundiaí.
Como está sendo a pré-campanha? Já está preparando um plano de governo? Quais os principais tópicos?
A pré-campanha tem sido de muito diálogo interno, com a militância. Estamos fortalecendo o partido, construindo as candidaturas a vereadores que é tão importante quanto a eleição para prefeito. Queremos eleger vereadores e vereadores comprometidos, de verdade, com a legalidade, com respeito ao dinheiro público, com alto nível de debates na Câmara, coisa que não ocorre atualmente. A Rede tem 16 pré-candidaturas dentro da chapa da federação com o PSOL. Estes pré-candidatos discutem pautas como saúde, mobilidade urbana, proteção animal, maternidade atípica, segurança hídrica e moradia popular. Estamos debatendo com as lideranças dos bairros. Neste mês e também em julho, intensificaremos as agendas com as entidades sociais que prestam serviços relevantes para que possamos ouvi-las. Este processo está servindo de base para a elaboração do plano de governo. O programa de governo não pode ser feito por um escritório de Brasília, com técnicos fechados em seus gabinetes. Escutar as pessoas é muito importante para nosso projeto…
BOCALON: “EU SOU O PRÉ-CANDIDATO DE LULA E ALCKMIN”
MARTINELLI: SEM RESSENTIMENTOS E COM ORGULHO DA ATUAL ADMINISTRAÇÃO
PARIMOSCHI: GRANDES PROJETOS PRECISAM TER CONTINUIDADE
Jundiaí não tem representante na Alesp e na Câmara dos Deputados. Os parlamentares raramente fazem projetos para a cidade. Como será seu relacionamento com as duas casas?
Queremos manter relações republicanas e transparentes com todos que possam ajudar Jundiaí, seja o governador do Estado, o presidente da República, os deputados estaduais e federais. Não faremos diferenciação por partido. Existem vários projetos que dependem de viabilização através de emendas parlamentares. Certamente teremos a humildade de ter os diálogos necessários para que recursos chegam à cidade e compartilhar protagonismos do que foi entregue.
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