Sem ESCAMOTEAR

escamotear

Ainda amadurecendo a questão da tatuagem, muito há que se falar. Não se trata de uma marca física, corporal. Não se trata de um colorido no corpo: é algo que traz uma forte expressão afetiva, sempre remetendo à significados pessoais e intransferíveis. Uns dizem que ela surge no momento de grandes mudanças na vida do tatuado. Outros já dizem que elas se aplicam em momentos de perdas. Eu já prefiro dizer que elas são feitas quando o tatuado está preparado para ostentá-la, sem precisar explicar ou escamotear absolutamente nada.

Sim, o significado é pessoal. Chega a ser ímpar. Posso ter uma tatoo exatamente igual a de um amigo, porém o significado dela em mim é um e nele é outro. Somos diferentes e sentimos diferente. A expressão da afetividade não poderia ser a mesma; tampouco a mensagem nela contida seria semelhante. Essa é a riqueza da tatuagem e esse é o fascínio exercido por ela, no tatuado.

Questões de uma profundidade sem explicação, mas totalmente cabível, quando se trata de manifestação afetiva. Sempre seremos detentores de nossas percepções e de nossos afetos, de modo a seguirmos adiante com nossas particularidades e intenções: quem sabe de meu corpo e dos meus desejos sou eu. E somente eu.

A tatuagem me diferencia e me torna uma pessoa única, como já é de conhecimento de todos, em suas particularidades. Com ela sedimentei um pacto gravado em minha pele. Estendi um pedaço de minhas lembranças e emoções para minha pele, registrando aquilo que me remete a expressividades e emocionalidades: um espaço onde entendo poder “escrever” aquilo que me faz bem.

Podemos ir mais adiante: a tatuagem registra uma imagem que acredito representar parte de minha vida, período de minha vida. Com isso, a eternização deste momento se concretiza num pedaço de corpo delimitado e demarcado, com toda a emoção possível de ser expressa e facilita a identificação com demais pessoas que agem e pensam como o tatuado. Não se trata de um grupo de revoltados, nem ao menos de desestruturados: trata-se de um conjunto de pessoas que buscam expressar sua emoção no grafismo corporal.

Sempre me questiono sobre os olhares. Estranhos olhares cercam o tatuado: os que gostam, os que não gostam, os que aceitam, os que não aceitam, os que elogiam e os que criticam. Entretanto, sempre me revejo e lembro que aquele corpo é meu e dele eu sou o senhor. Nele eu escrevo, eu desenho, eu pinto, eu sonho. E cabe a mim dar o destino que sentir vontade e coragem.

Foi assim que sai de casa para a primeira tatuagem. E para a segunda. Dai em diante, para as duas outras, foi apenas sair. Já tinha todas em mente, já havia traçado o rascunho, já sondara com meus amigos e já tinha motivos suficientes para fazê-la; então, carro, estúdio, realização. E muito sonho pela frente.

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Isso aponta para uma diretriz que não se decifra: tatuar é desenhar no coração. Ela sempre trará uma mensagem e sempre representará um símbolo que apenas o tatuador terá a senha da compreensão. Nada nem ninguém precisa entender sua escolha nem o seu gosto, em especial porque estética é algo discutível e pessoal.

Você gostou? Você está seguro da sua escolha? Encontrou um bom profissional? Sentiu-se conectado e a vontade para riscar seu corpo?Abrace a ideia, encoraje-se e siga. O que faz bem para o corpo fará bem para a emoção e vice versa. Embeleze seus sentimentos e sinta-se mais representado. Fortalece sua auto estima e dê-se ao direito de tatuar. A autoestima e a autoconfiança agradecem.(Foto: Pikist)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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