Escolas de Samba desfilarão. Mas, Prefeitura não queira…

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Estamos a apenas um mês do Carnaval, data tão valiosa para nós, brasileiros. Seja pelo feriado prolongado, pelas escolas de samba ou pelos bloquinhos, este é um dos momentos mais esperados do ano. É inegável que o Carnaval é uma das características culturais mais importantes de nossa nação e, para nós, residentes do interior paulista, não é diferente. Contudo, para a nova administração de Jundiaí, o nível de importância parece ser outro – ou, ao menos, não o mesmo de forma espontânea.

Em meados de janeiro, fomos surpreendidos pela Unidade de Gestão de Cultura de Jundiaí com a notícia de que os desfiles das escolas de samba em 2025 seriam cancelados. Segundo o órgão, por questões de falta de recursos financeiros e de tempo hábil para elaborar um planejamento viável, não seria possível realizar o nosso tão tradicional Carnaval.

Sim, enfatizo o quão tradicional é, visto que há registros de bailes no Clube Jundiaiense desde os anos 50 e de blocos de rua desde 1979, quando surgiu a escola de samba Cai-Cai, a mais antiga da cidade. A partir dos anos 80, a cultura do Carnaval expandiu-se ainda mais, com a criação de outras organizações, como União da Vila Rio Branco, Arco-Íris Acadêmicos do Samba e Leões da Hortolândia e Unidos da Zona Leste.

Ao me aprofundar nesse tema – com a intenção de desenvolver esta crônica com a nuance de um ensaio jornalístico – encontrei anos de informações, nomes de instituições e de pessoas. Refleti sobre todo o planejamento e as ações que certamente estão em andamento há meses, muito antes de termos esse posicionamento da Unidade de Gestão. Percebi como as pessoas atribuem níveis tão distintos de importância às coisas. Mas então lembrei do óbvio: uma prefeitura não é um indivíduo e não opera com emoção, senso pessoal ou opinião – pelo menos, não deveria. A Prefeitura de Jundiaí precisa agir com base em fatos e dados, dos quais há muitos para evidenciar o valor do Carnaval em nossa cidade. Inclusive, muitas dessas informações foram extraídas do próprio site da Prefeitura.

Ainda sobre essa discrepância de importância, comparo o tratamento dado à execução da Festa da Uva deste ano. Mesmo sendo um evento gigantesco e complexo, em nenhum momento se cogitou a possibilidade de cancelamento devido à “falta de tempo para elaboração de um plano de trabalho viável pela Prefeitura”. A sensação é de que se aplicam dois pesos e duas medidas. Enquanto entidade pública, o governo deveria priorizar todas as comunidades de forma igualitária – o que não ocorre na prática, e me aborrece perceber como, além da inequidade, parece não haver interesse espontâneo em evitar a priorização do conveniente.

A Liga de Escolas de Samba de Jundiaí (Lijunes) só foi convocada ao diálogo para elaborar planos de ação com a Prefeitura após pressionar o prefeito por meio de um e-mail – que pode ser consultado no Instagram da Lijunes – e emitir uma nota oficial enfatizando o despreparo unilateral, visto que toda a documentação já havia sido enviada com antecedência.

Unindo esforços a figuras importantes da política, como Henrique Parra e Mariana Janeiro, a Lijunes enfrentou momentos de grande tensão para chegar a um consenso. Até o momento dessa publicação, apenas os blocos de Carnaval da cidade figuram no cronograma do site da Prefeitura, enquanto os desfiles “serão divulgados em breve”, conforme consta. Segundo o Jundiaí Agora, os desfiles não serão unificados como de costume. Eles ocorrerão nos bairros respectivos de cada escola de forma separada, e a Lijunes ainda analisa as definições finais.

Independentemente do desfecho, as escolas de samba não deveriam ter passado por momentos tão conflituosos. É absurdo pensar em todo o preparo, organização e suor que uma escola de samba demanda ao longo do ano. São centenas de pessoas que costuram, administram, tocam, dançam, organizam – tantas tarefas e funções que seria impossível listá-las em um único parágrafo. Além do esforço físico e mental, há todo o planejamento financeiro e a expectativa de mostrar a toda a cidade o que foi construído ao longo de meses! É um trabalho gigantesco que é desenvolvido e entregue para a nossa comunidade, nos tendo como a figura que planta e que também colhe. E como dá frutos! Entregam lazer de qualidade e de forma gratuita, gera-se trabalhos antes e durante os desfiles, além de agregar imensamente para nossa identidade local. A forma com que a Prefeitura tratou o Carnaval representa uma afronta à cultura brasileira.

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Em um aparente consenso, a Prefeitura decidiu realizar o Carnaval das escolas de samba, mas esse acordo não apaga o desrespeito manifestado contra essas instituições, suas horas de trabalho – e, por extensão, contra a vivência do samba. É inegável que parte da magia, tanto para o público para quem vai se apresentar, está também na centralização das escolas no mesmo local, desfilando juntos e exibindo a força que só coletivos artísticos unidos podem ter. Não realizar desfile seria de fato pior, mas não existe espaço para contentamento quando percebemos que até mesmo um dos maiores eventos culturais do ano corre riscos de não acontecer e que, só foi contornado o cancelamento após pressão social.

Peço que a população de Jundiaí se mantenha vigilante e ativa ao longo do novo mandato da cidade. Só assim poderemos defender e preservar nossa rica herança cultural contra qualquer forma de negligência ou desvalorização. Afinal, a cultura é a alma de um povo – e não deixaremos por aqui o samba morrer.

ANNA CLARA BUENO

De nome artístico Anubis Blackwood, é drag queen, artista performática e visual, professora de inglês, palestrante e produtora cultural. É membro do coletivo Tô de Drag, o primeiro de arte drag de Jundiaí e região. Colabora com o ‘Grafia Drag’, da UFRGS. Produz o festival Drag Vibes em colaboração com o coletivo, para democratizar a arte drag, mostrar sua versatilidade e levá-la a espaços e públicos novos por meio de performances plurais e muito diálogo.

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