As férias são um suspiro após meses de trabalho ou estudo. Com o calendário finalmente livre de compromissos e responsabilidades, a promessa de dias relaxantes e cheios de aventuras paira no ar. Mas, ironicamente, é também durante as férias que muitas pessoas ficam presas em um ciclo de monotonia ou estresse, vivendo um paradoxo que parece desafiar o próprio conceito de descanso. Como, então, aproveitar esse tempo sem cair nesses extremos?
A resposta talvez comece em um detalhe que é frequentemente ignorado: a gestão das expectativas. É fácil fantasiar que as férias precisam ser um “grande evento” – uma viagem dos sonhos, uma sequência de dias perfeitos ou a realização de projetos engavetados. Mas, ao colocar tanta pressão no tempo livre, é possível acabar com a sensação de que nada será suficiente.
Descansar também é permitir-se ser e fazer o que a rotina normalmente não deixa: ler um livro sem pressa, caminhar sem rumo, ou até mesmo não fazer nada por algumas horas. A monotonia muitas vezes não é fruto do que se faz, mas do olhar que se lança sobre o momento presente.
Outro ponto é a diversidade. Planejar atividades variadas é uma estratégia eficaz para afastar o tédio. Imagine as férias como um prato equilibrado: uma pitada de aventura, uma porção de descanso e um toque de aprendizado. Para os que amam movimento, pode ser o momento de explorar trilhas, fazer um passeio de bicicleta ou aprender um novo esporte.
Já para os mais introspectivos, oficinas de arte, um curso de culinária ou tardes dedicadas à escrita podem ser revigorantes. Há, ainda, os prazeres simples e acessíveis: visitas a parques, tardes no cinema ou explorar cantinhos esquecidos da própria cidade. Uma experiência gastronômica, seja em um restaurante sofisticado ou preparando uma receita diferente em casa, também pode ser um momento de pura diversão e sabor.
Porém, nem tudo precisa ser meticulosamente planejado. Há uma magia especial no improviso, na abertura para o inesperado. Talvez um passeio despretensioso ao mercado termine em um encontro com amigos ou uma descoberta culinária inusitada. Talvez um dia sem planos seja a deixa para encontrar um novo hobby ou perceber o encanto de pequenos gestos cotidianos. A rigidez em buscar o perfeito pode transformar as férias em um segundo turno de trabalho, mas a espontaneidade traz leveza.
Permitir-se mudar de opinião no último momento, como trocar uma tarde na praia por um filme em casa com pipoca, pode ser a chave para surpreender-se com a simplicidade. E, por falar em leveza, é essencial lembrar que as férias são também um momento para cuidar de si. Para muitas pessoas, o estresse das férias vem do excesso de interações sociais ou da pressão por agradar aos outros – sejam amigos, familiares ou até seguidores nas redes sociais.
A necessidade de postar cada passo da viagem ou registrar cada momento de diversão pode transformar o lazer em uma performance que tira o prazer autêntico. Assim, desligar-se um pouco do mundo virtual e focar no que realmente traz alegria é um ato de resistência ao estresse. Desconectar-se da internet para conectar-se ao momento presente é uma forma poderosa de restabelecer o equilíbrio emocional.
Também vale ressaltar a importância de um equilíbrio entre socializar e ter momentos de solitude. Embora compartilhar experiências com amigos ou familiares seja enriquecedor, é na tranquilidade da própria companhia que se encontra espaço para reflexão e autoconhecimento. As férias podem ser uma oportunidade para pensar nos objetivos pessoais, redefinir prioridades e renovar energias para os desafios que vão surgir após o período de descanso.
Uma caminhada matinal em silêncio ou uma sessão de meditação são exemplos simples de como cultivar esse espaço interno. Outro aspecto que merece atenção é o cuidado com a saúde física. Durante as férias, é comum negligenciar hábitos saudáveis em favor de momentos de indulgência. Embora isso seja parte do prazer do descanso, manter uma rotina moderada de exercícios e uma alimentação balanceada contribui para o bem-estar geral.
Afinal, corpo e mente estão interligados, visto serem partes indissociáveis e cuidar de um reflete positivamente no outro. Finalmente, é essencial cultivar a gratidão. Em vez de lamentar por aquilo que não foi possível fazer ou pelo tempo que parece passar rápido demais, é importante valorizar as pequenas conquistas do dia.
Um pôr do sol visto da varanda, uma conversa leve com alguém querido ou até mesmo a delícia de uma refeição caseira preparada com calma ou um cafezinho passado à pouco são momentos preciosos que, muitas vezes, só são percebidos quando o ritmo desacelera. Manter um diário de gratidão ou fotografar detalhes simples que trazem felicidade pode ajudar a ampliar essa percepção positiva.
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Portanto, viver férias sem monotonia e estresse não exige grandiosidade ou perfeição. Trata-se de um convite a abraçar o presente, equilibrar atividades, respeitar o próprio ritmo e cultivar a alegria nas pequenas coisas. Afinal, o verdadeiro descanso está mais na qualidade do que no tamanho dos dias, e as melhores memórias são aquelas que nos fazem sorrir muito tempo depois de terem acontecido.
Mais do que isso, as férias nos ensinam que a felicidade pode ser encontrada tanto em grandes aventuras quanto em instantes de simplicidade, desde que sejamos capazes de enxergá-los com o coração leve e a mente aberta.(Foto: Toa Heftiba Şinca/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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