Se você, assim como eu, costuma ler, curtir e compartilhar notícias no Facebook ou outras mídias sociais, sugiro que continue a ler este texto. Utilizamos a internet para nos conectar com as outras pessoas e o mundo. A informação está ali, pensamos, à nossa disposição e apenas a um clique de distância. Que grande ferramenta para a sociedade e democracia, não é mesmo?

O que a maioria não sabe é que grande parte destas informações nos são praticamente invisíveis. O que chega ou não até nós é decidido por algoritmos (programas de computadores) que separam aquelas informações tidas como relevantes. Até aí, sem problemas, afinal ninguém quer ver seu feed de notícias lotado de posts dispensáveis. Mas afinal, qual exatamente é a definição de “relevância” assumida por estes algoritmos?

Ao modificar o Facebook em 2011, Mark Zuckerberg afirmou que “um esquilo morrendo em frente à sua casa pode ser mais relevante aos seus interesses neste momento do que pessoas morrendo na África”. Isso parece cruel, talvez por que de fato seja, mas apenas reflete a realidade. O algoritmo é simples: o Facebook mostra coisas iguais a que você pensa e gosta pois é aquilo que você clica e interage mais. A mesma ideia de relevância baseada em seus cliques é usada em ferramentas de pesquisa como o Google, porém estas também utilizam outros dados como o local de seu acesso, sua língua, o sistema operacional de seu computador… ou seja, o Google não é o mesmo para todos. Esta personalização exagerada é o que costuma ser chamado de filtros bolha.

A ideia é exatamente aquilo que diz: vivemos em bolhas onde o que nos atinge são apenas as informações parecidas com aquilo que já pensamos. Ou pior, informações que foram pagas para estarem ali. A internet criou um ecossistema que dá destaque às notícias virais, anúncios e, grosso modo, o dinheiro a despeito da qualidade da informação. Como consequência, as informações que sobrevivem aos filtros normalmente são aquelas radicais, polarizadoras e, para piorar, geralmente falsas.

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O que podemos fazer a este respeito? Pesquise, informe-se, procure sempre diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto. Nunca pare sua leitura apenas nos primeiros links sugeridos pelo Google. Não se deixe privar do convívio com notícias desconfortáveis porém relevantes e verdadeiras, desafiadoras e, principalmente, com diferentes visões de mundo. (Foto: q.intel.com.br)


RAFAEL TESTA

Doutor em Filosofia pela Unicamp e Pesquisador na Universidade da Madeira(Portugal)