Estava pensando nos efeitos que alguns grupos sociais exercem sobre nós e as consequências destes efeitos. Não sou daqueles que enaltecem alguns feitos sem a comprovação necessária, porque fui talhado a ser desconfiado e a acreditar nas evidências (a vida acadêmica me fez assim!!!) porém tenho repensado em algumas partes dos meus dias e nas transformações que venho sofrendo: a convivência em fisioterapia e em academia de atividades físicas me garantem um grupo de indivíduos fraternos, embora desconhecidos…
Sim, sou o mais velho do grupo. Vejo sempre antes do meu horário (porque sou impertinente e não me atraso, mesmo) e já chego brincando com todos, dos profissionais aos colegas de horários, dos quais nem sempre sei o nome e tão pouco a necessidade física e fisiológica para estarem ali. Mas brinco, cumprimento, sorrio até nos meus dias mais sombrios, por acreditar que o sombreado está em mim e eles não têm que sofrer por isso. Sou um verdadeiro velhinho popular do grupo…
E assim sigo em minhas tarefas, faço minhas atividades, reclamo muito, escuto demais o que é dito ao meu redor (sou curioso como a peste!) e questiono as atividades que me são sugeridas, pois quero saber a finalidade delas. Dou meu apoio aos que estão chegando e começarão a trilhar os caminhos que eu já percorri, incentivo-os a persistirem, apesar das dores físicas e do estresse pós-traumático (no caso de lesões por acidente ou cirurgia), enfim, sou o senhorzinho simpático que incentiva os desconhecidos fraternos.
Noto que faço isso sem esforço nem ensaio prévio: sou assim. Acolho, mesmo sem ser acolhido e sem ser conhecido da pessoa. Acolho porque gosto de ser acolhido e ser bem recebido; gostaria que comigo tivesse sido assim e, desta forma, meu horário fica gostoso, fica uma irmandade, uma fraternidade, já que o nome sororidade não cabe no masculino. Rimos muito, falamos entre os dentes, quando os exercícios estão difíceis, damos apoio a quem está com dificuldades em realiza-los, criamos um círculo de apoio tal qual as redes de apoio que tanto se fala na Psicologia Clínica.
Saímos para café, às vezes almoços e jantares, formamos um círculo de pessoas que não se conhecem, não são íntimas mas que se respeitam, se incentivam e são fraternos: cada um com sua profissão, cada um com seu estilo de Vida, cada um com seu guarda-roupa peculiar (aliás, caberia uma crônica somente sobre isso…mas prefiro não dar “spoiler”), entretanto, com funções muito semelhantes a partir do momento em que pisamos no ambiente de cura.
Aí entra a questão séria a ser desenvolvida: de qual cura? Um operou o joelho; outro, a coluna; outro, o quadril; outro, o ombro; outro, a mão; outro tem uma luxação na coxa; outra tem contratura muscular na panturrilha e por aí afora. Será desta cura que me baseio? Ou será da questão interna, íntima, pessoal? É óbvio que me coloco no mesmo barco, no mesmo esquema e na mesma propositura: também busco minha cura (a física, a mecânica e a psicológica, evidentemente).
Percebi que, quando estamos em grupo, a dor é mais fácil de ser controlada e vencida, porque todos incentivam. Notei que quando estamos em grupo, as manobras da fisioterapia são terríveis, mas suportáveis porque recebemos apoio e carinho dos demais colegas que sabem o que estamos passando: isto basta! Isto conforta, isto une, isto irmana, isto fortalece. Talvez se alguém me perguntasse se eu gosto da academia ou da fisioterapia eu respondesse se titubear: odeio.
Mas não se trata do lugar e, sim, da sensação sentida e percebida no grupo de pessoas que estão no espaço, naquele horário, com uma finalidade semelhante, submetendo-se aos tratamentos clínicos e físico-fisiológicos, que resultarão num progresso integral. Caso a pergunta fosse outra: você gosta dos profissionais que trabalham com você? De pronto a resposta seria que sim: adoro o Matheus, a Mayara, o Léo e o Luca, o Bruno e não duvido das capacidades profissionais de cada um, porque sou suficientemente chato para ter noção se sou bem tratado ou se sou “levado” no meu tratamento.
A característica de ser bem tratado faz com que, mesmo não gostando de correr, de sentir dor em alguma manobra, de não gostar de tanto sacrifício para atingir um determinado resultado, eu compreenda a necessidade de cada atividade e me predisponha a fazer mais e melhor: com isto já vejo resultados bem aparentes e bem eficazes, o que devolvo aos profissionais como forma de gratidão e de reconhecimento. Sim, sou chato sim…
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E, neste espaço de tempo e de lugar surge outra vez a figura dos parceiros fraternos de horário: cada um observa atenta e criticamente o outro e, de repente, lança uma palavra de apoio, de estímulo, de elogio. Muitas são as vezes em que eu ouço: vai Afonso, você consegue! Força, Afonso, está no fim! Isso, Afonso, falta pouco! Estas frases isoladas não têm efeito algum, porém quando dita por alguém que sabe de sua luta, elas se tornam poderosas e, engenhosamente, transformam um pequeno ânimo numa potente fonte de energia vital. Digo por mim e pelos com que tive a ousadia de comentar sobre esta crônica.
Estes estímulos melhoram a saúde mental por possibilitar razões de criação de novos hábitos e de estimular as mudanças de comportamentos, sempre partidos dos fraternos. E dos profissionais que escolhemos e em quem confiamos. Assim, por nos sentirmos apoiados e acolhidos, damos o melhor de nós, em cada sessão, tal como numa terapia e por quê não tê-la como uma terapia, já que os benefícios são integrais e não apenas do corpo ou da mente? Ninguém entra numa fisioterapia para cuidar do corpo físico, nem numa terapia psicológica para cuidar da mente: entramos para cuidar de nós, integralmente, sempre fraternos uns com os outros…(Foto: Kampus Production/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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