JUNDIAHY tem antheróis

JUNDIAHY

Jundiahy tem Antheróis, segunda parte, narra os desenganos do universitário pobre Henrique Vitarelli de Moura ao sair da cidade provinciana e conhecer os abismos do mundo. Ele fracassou, mas é um fracasso bem sucedido.

Parte 2


O currículo tem que ser curto
mesmo que a vida seja longa.
Wislawa Szymborska

Em Jundiahy um jovem de origem pobre, com ensino médio em escola pública, só consegue encontrar emprego de ajudante geral, em chão de fábricas. Se for um pouco mais esperto, ágil, pode aposentar-se manobrando empilhadeiras ao longo da vida, desde que tenha o mínimo de competência e, claro, a habilitação específica para isso.

Nunca tive esse tipo competência. Jamais manobrei empilhadeiras.
Fui um desses jovens deslocados, que, ao duelar com a cidade, percebeu que não era nem grande nem pequeno demais para ela. Mas acreditei, eu juro que acreditei mesmo, que se fosse para uma universidade pública algo novo iria ocorrer e eu não seria mais operário. Foi o que fiz, foi o que apareceu. Deixei o lar, fui estudar e mudei.

O ano é 2013, tenho 28 anos e nenhuma expectativa de futuro, salvo meu sonho ingênuo de ser um acadêmico concursado, um professor catedrático do ensino universitário, pois cursara Filosofia na distante Universidade Federal de São Paulo, em Guarulhos. Fiz mestrado pela mesma instituição.

Eu me via às voltas com dois caminhos a minha frente: ser pesquisador e fazer, como muitos amigos e amigas fizeram, um doutorado tedioso, padrão, logo em seguida ao mestrado; ou ir para o ensino. No que diz respeito ao ensino há ao menos dois caminhos imediatos, duas vias, ambas dolorosas: concurso no ensino público para ganhar salário sofrível ou entrada em uma escola particular, mas isso de dar aulas em colégio privado, em uma cidade onde a classe média é pura anedota, exige que se recorra ao famoso QI, Quem Indica.

Eu não tinha ninguém para me indicar a cargo nenhum, também não havia concurso à vista, nem para o ensino público, nem para a entrada nos programas de doutorado, quase todos estrangulados pelo exército de reserva de gente diplomada ou com sérios cortes de orçamento. Tudo foi se estagnando. Após o mestrado eu via que tudo aquilo de universidade se tornara postiço dentro de mim: conversas postiças, acadêmicos postiços, eu postiço, mas,agora, com a sutil etiqueta de nível superior. Para mim o mundo acadêmico se transformava em um berçário de bebês choramingas que falavam três ou quatro idiomas, conheciam todos os melhores pontos culturais alternativos de Sampa, mas, na verdade, eram cria do sentimento de melancolia e movidos pelo desânimo.

Adotei o recurso dos desesperados. Coloquei novamente a pastinha debaixo do braço, sim, aquela cheia de envelopinhos de papel pardo, cada uma com a réplica de expectativa provável e mil nãos presumíveis. Eu me coloquei, novamente, “disponível para início imediato”, qualquer emprego.

Mas agora eu tinha diploma, era mestre, tinha estudado e acumulado muito conhecimento. Grande merda. Sentia-me como o conquistador do inútil. Experimentei na carne a inflação nacional de diplomas, bati em quase todas as escolas particulares da cidade e da região.Apenas gastei sola. Certo dia, nos idos de março, eu recebi a ligação no meu celular. Uma moça com voz temperada pelas horas de escritório e maus ares condicionados dizendo: “Alô, senhor Henrique Vitarelli, aqui é da Multigrão Brazil S.A., estamos com seu currículo e…”

A vaga caída do céu ou subida dos infernos era da mesma empresa onde eu havia trabalhado no almoxarifado 10 anos antes. A mesma vaga, os mesmos horários, o salário com poucos reajustes, o mesmo confinamento em fábrica feito para moer meu tempo. Meu pai, já aposentado, me disse dias depois que ele havia pegado um currículo meu e levado à porta da fábrica. Todos os meus esforços acadêmicos iriam redundar em um retorno frustrado para o interior; eu ocuparia a mesma vaga de uma década atrás.

Não sei se por orgulho ou desencanto, não importa, mas recusei a vaga e todo o peso que ela representava pra mim. Tudo é recomeço. O filósofo Heráclito diz muito sobre como a vida é uma luta constante e desvairada entre opostos: bem e mal, fim e começo, morte e vida, juventude e velhice. Ele também dizia que mudamos sempre e nunca entramos duas vezes num mesmo rio – as águas do rio mudam constantemente, num eterno fluir das coisas, nossa essência é escapável de qualquer tentativa de análise porque ela simplesmente muda.

OUTRO ARTIGO DE HILDON VITAL DE MELO

ANTEHRÓIS(PARTE 1)

MENÓHGRAFIA

Depois de muito tempo de vida universitária eu já não me sentia o mesmo, mas não via mudanças em minha expectativa de vida e muito menos um emprego adequado ao alcance.Só conseguia pensar no fato de que teria que sair novamente com a pasta, procurando empregos em escolas particulares. Meus currículos diziam que eu era o mais novo fracasso bem sucedido e revelavam o meu deslocamento no mercado de trabalho: o típico universitário pobre remediado que tentou escapar dos pisos de fábricas e multinacionais tornando-se o típico intelectual do lumpesinato-acadêmico do país. O currículo tinha encorpado, mas os empregos minguavam. Enfim:

Henrique Vitarelli de Moura

  • Brasileiro, solteiro, 28 anos.
  • Rua Itamar Mazallo, número 30,Jundiahy, São Paulo – CEP 13.214.801.
  • Celular: 11 – 9704 – 2936.
  • E-mail: vitarellidemaistre@unifesp.com

Objetivos

  • Vaga para professor de Filosofia em ensino médio, superior e/ou cursinho pré-vestibular.
  • Disponível para início imediato

Formação

  • Doutorando em História Social (em curso) pela USP
  • Mestre em Filosofia, 2011 – 2013, pela UNIFESP – Campus Guarulhos.
  • Graduado em Filosofia: Licenciatura e Bacharelado, 2007 – 2010, pela UNIFESP – Campus Guarulhos.

Experiência

  • 2007 – 2009.
  • Professor de História Geral no Cursinho Popular Consciência
  • Trabalho voluntário

Qualificações e atividades extracurriculares

Programa de Acompanhamento de Estágio – PAE – USP (em curso)
Curso Livre de Iniciação à Poesia – CLIPE,2013, Casa das Rosas, São Paulo.

  • Alemão, nível B 2. 2. – Instituto Goethe São Paulo
  • Francês, nível A 2 – ETEC Professor Camargo Aranha, Mooca São Paulo.

Informações adicionais

  • Organização e coordenação das quatro primeiras edições, 2007 – 2010 do evento acadêmico e multicultural SOFIA – UNIFESP.
  • Elaboração e participação no desenvolvimento do Cine Clube Consciência Jundiaí, 2007.
  • Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7869372811611398(Foto principal: Mikha Visceralista)

HILDON VITAL DE MELO

‘Jundialmente’ conhecido. Escritor e pesquisador à deriva, mas professor de filosofia, por motivos de sobrevivência.
E-mail: vitaldemelo@yahoo.com.br – Instagram: @camaleao_albino

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