Memória e REPARAÇÃO

memória

Será que se o mundo fosse quadrado, a gente sobreviveria ao cubismo? Não tá fácil, se acostumar com o entorno das redondezas. Não dá para acertar as arestas, por que simplesmente elas não existem e no movimento de rotação as coisas permanecem agitadas, como pipocas (em pipoqueiras dos cinemas antigos) que pulavam circularmente, até terminar a quantidade de milho e elas se manterem assentadas. E o ser humano não se assenta porque não tem sossego, não tem memória.

Gente sem identidade específica. São genéricos. No mistério humano do convívio não aceitam a imperfeição do outro. Tem ilusão de maturidade e vivem fugindo da vida. Atualmente, o humano que não está com o celular, está com o fone de ouvido. São solitários que preferem a interação com IA. A tecnologia ocupa espaço. Não tem vida, não tem sangue na veia, não tem sentimento. 

A pupila do homem de lata dilata, mas não delata, nem deleta o sentimento que enferruja. A memória negra e a reparação histórica são a respiração que o povo preto espera e precisa, de um tempo sem poluição de cortinas de fumaça, sem nublarem a nossa visão do afrofuturismo, já que o passado é documento ou documentário. 

Existe o horizonte perdido e sem memória os que tentaram nos impedir de enxergar. Contudo, de tanto taparem o sol com a peneira, deixaram muitos rastros de raios de sol a serem seguidos. Sobraram provas que coletamos agora. São materiais de fatos concretos, surreais com visão futurista, que ninguém sabe, ninguém estraga. Sobrevivemos com obstinação, paciência e resignação. Somos a própria personificação da resistência e liberdade!

Muitos negros foram presos sob acusação de desacato e desobediência. Sempre estiveram sob a proteção do animus e a filosofia analítica da realidade. Nunca se curvaram! Sigo a sina com dignidade, que me resta. Não a sina que tentaram o tempo todo impor. Confissão de delito não aliviava.

A gente ia em busca da felicidade. Não queríamos só o dia que todos seríamos iguais. Queríamos a liberdade e os direitos fossem iguais para todos. Todos os que disseram “não” deverão ser reverenciados eternamente. Não concordaram com os desmandos, nem com as imposições descabidas e atos bizarros e desnecessários.

Comentário no Facebook na postagem de Jonas Di Andrade: “Entendam, pessoas negras, jovens negros, galera que está ascendendo através do esporte, da música e do rap, trap, funk, enfim, da arte: independentemente da conta bancária, do lugar que você morar. O racismo vai te lembrar sempre a sua identidade. O Brasil é um país racista, portanto o racismo vai te atingir em todos os espaços. Por isso a luta antirrábica é fundamental. O capitalismo “te possibilita ganhar dinheiro” mas o racismo diz “qual é o seu lugar na sociedade de classes” pela cor da sua pele. A carne mais barata do mercado, como dizia Elza Soares, é a carne negra”

Discordo da última frase. A carne não é negra. Negra é a raça. A pele é preta. As carnes são todas vermelhas. Vejam o gado Nelore, que tem duas cores distintas, o branco e a preta. A carne de ambos tem a mesma cor vermelha, a mesma qualidade e a mesma preferência dos apreciadores. Sem nenhum preconceito ou distinção. O mesmo acontecendo com os pombos brancos e pretos, galinhas brancas e pretas até o urubu rei e o corvo comum, também brancos e pretos. Sem preconceitos nenhum. Vivem e se respeitam, harmoniosamente.

LEIA OUTROS ARTIGOS DE LUIZ ALBERTO CARLOS

MÚSICA POPULAR PRETA

RACISMO NO FUTEBOL

PALMITAGEM

FEIJOADA OU CASSOULET

A Terra não nos pertence, só nos cede o solo por um pequeno período de tempo, enquanto aqui estivermos. E o fim do mundo não é o fim dos tempos. Para o passado, a memória volta às origens que não tem fila de espera. A mesma água que faz flutuar, seja ela pura ou turva, é a mesma que faz afundar. Fatos mapeados parecem mais piadas(risos). Como é que fica? Em que pé está? Com certeza, não está em pé de igualdade. Mas, nunca se pode olvidar das voltas que o mundo dá!(Foto: Ralph Rabago/Pexels)

LUIZ ALBERTO CARLOS

Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.

VEJA TAMBÉM

PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES