Então vamos. Vamos porque as coisas estão apenas se desenrolando, de uma maneira vertiginosa e estranha, dependendo sempre do olhar do espectador. No entanto, diante de alguns fatos, são poucas as possibilidades de interpretações equivocadas. É cansativo e chato conversar com pessoas que não querem compreender um fato ou que já chegam para a discussão com suas conclusões estabelecidas. Isto dificulta o diálogo e impede o crescimento do grupo, pois a leitura monofocada apenas apresenta um rito, um histórico e um matiz cromático. Enfim, farei o registro da minha Vida nesta semana. Lembrando sempre que eu sou feito dos meus retalhos.

1. Fui ao lançamento de um empreendimento, da cidade. Sou avesso a estes eventos porque me entediam com facilidade: muita ostentação, muito glamour, muito mimimi, por pouca coisa. Mas fui, como uma maneira de sair da ostra e estar com pessoas que talvez tivessem algo novo a compartilhar. Recepção impecável, carta de vinho fantástica, bufê de muito bom gosto, elegância a toda prova.

De repente, entra no salão, um casal seguido de seus filhos já adultos. Muito elegantes os quatro, ele à frente, ela atrás, sorridente como uma Miss Universo recém-coroada (faltou apenas aquele aceno conhecido, mas o jogo de cabelos fez a parte) e os filhos atrás, fechando o cortejo. Andaram aqui e ali, distribuindo sorrisos e cumprimentos, garimpando espaço e pessoas conhecidas, até que ela me avistou.

Veio em minha direção e me apresentou o esposo, pela enésima vez, pois já o conhecia da época do casamento, e os filhos, de algumas outras vezes em que nos encontramos. E eu, erroneamente, fiz a pergunta infeliz: Como vai fulana? O que tem feito de sua vida? Sempre fora uma garota tão elétrica e dinâmica. Por quê? Por que fiz esta pergunta desagradável?

Ela desandou a falar do que tem feito em sua vida: meu marido me manda de três a quatro vezes para Miami, fazer minhas comprinhas básicas (e mostrou as roupas e a maquiagem), meus filhos são ótimos. Ele fez arquitetura no Mackenzie e faz estágio com Tal Pessoa, o papa do designer interior. Ela fez administração na USP e estagia no escritório daquele famoso, em casos de tributação. Eles são magníficos, não me causam aborrecimentos, são fantásticos.

Sem contar que estão namorando. Ele namora faz três anos com sicrana, filha de tal e qual, o diretor da multinacional Y e ela vai noivar com beltrano, filho de J de T de L de M, nome pomposo, de Belo Horizonte. Vou convidá-lo para o noivado (Deus me livre disso) porque será uma recepção íntima mas você é meu professor, meu mestre, meu guru, meu avatar, meu tudo. E eu, que não sabia nem que era tudo isso, estava assustado, diante destes fatos iniciais. Sim, era apenas o início.

Depois disto veio: onde você está morando? Eu respondi, dei meu endereço e quando pensei que era o final da conversa, já entabulando um “bem, então…foi um prazer…” recebo uma das pás de cal, na conversa: nós moramos no condomínio Y, conhece, né? Aquele de alto nível que fica para os lados do Caxambu. As “crianças” têm suas dependências separadas da casa principal, mas as refeições fazemos todos juntos, né amor? E o “amor” acenou com a cabeça. Somos muito felizes. Vivo num mundo de sonho.
Apertei as mãos dos quatro Polianos e balbuciei alguma coisa que não sei o que foi. A ideia que tive foi que toda a felicidade do mundo, toda a prosperidade do Universo estava reunida naquela bela família. Algo a ser cultuado e visitado como peças de museu, visto a tremenda insensatez e descompromisso com a realidade do ser humano normal.

Pergunto-me e não acho resposta. Onde e como vivem pessoas que não conseguem se centrar no mundo dos normais? Será que o sonho não acaba nunca? Nem os filhos (ou serão filhotes?) não desenvolveram senso crítico em suas vidas de estudantes universitários? O “amor” é sempre afirmativo ou em alguns momentos há discórdia entre eles? Que vida infeliz levam aqueles que andam numa linha estendida sem oscilações.

Daí, as lembranças (ah, as lembranças) me levaram ao tempo de professor desta jovem senhora, no ensino médio, quando ela era representante de turma, sentava com as pernas cruzadas sobre a carteira, instigava suas parceiras à lutas, questionava padrões e valores da época. Acreditava que ela seria um expoente na sociedade que a tivesse como membro, mas…o que aconteceu com aquele protótipo de mulher livre e apimentada? Onde ele se perdeu, ou se vendeu, ou se modificou a troca de algo, ou morreu?

Esta falsa felicidade cansa. Eu cheguei a pensar que estava vivendo uma filmagem de Facebook, onde só tem gente feliz e rica e bem-amada. Ao me desvencilhar da Família Feliz, depositei meu cálice de vinho num canto e fui ser feliz com minha realidade, em casa. Que noite horrível e mentirosa.

2. Questionaram-me muito sobre o silêncio. Sim, temos mais coisas a dizer sobre ele e muito mais ainda a exemplificar, no entanto, se tivermos o critério da Homeopatia, podemos diluir as verdades sem chocar e nem dessensibilizar os silenciosos e seus próximos mais próximos. Dicas para ouvir estes silêncios? Tem sim, mas sou contra fórmulas de autoajuda.

Basta, no entanto, saber ouvir seu silêncio interior e fazer uso das informações que ele traz, observar todas as facetas dele, possibilitar que ele seja manifestado em sua integridade e conferir seriedade a ele: o silêncio é serio, sim. Mais do que tudo, ele nos conta algo de nossa intimidade e sempre nos revela detalhes que pouco valorizamos. Diria que é, inclusive, uma das oportunidades de nos conhecermos.

No entanto, é preciso que não caiamos em ciladas: há momentos para o silencio mas há momentos para interagir. Crescemos no silencio e edificamos na interação; certamente.

3. Quem diria que a Psicologia viria a ocupar minha Vida, nesta fase. Quem diria que eu faria esta transição com tanto afinco e seriedade. Abraçar o voluntariado na UTI da Oncologia Pediátrica fez-me rever princípios, vontades e sentidos da Vida, porque trabalhar no limite da existência não é fácil nem confortável, porém fazer o que se sabe e o que se sente tem me dado treinamento ao meu processo pessoal de resiliência, tornando-me mais forte.

Sinto, sim, medo, aflição diante do impacto e força da morte, mas sinto, também, que é possível humanizar a notícia, a passagem. Estar ao lado do leito, afagar e ser gentil, ouvir e olhar nos olhos é tarefa para poucos. Enquadro-me neste grupo. A formação teórica e a experiência de Vida fizeram-me candidato ao atendimento nesta etapa de Vida, por escolha.

OUTROS ARTIGOS DE AFONSO MACHADO

O SEU ESPAÇO. O MEU ESPAÇO. O NOSSO ESPAÇO

SILÊNCIO, QUE COISA É ESSA?

NADA MAIS DO QUE O BÁSICO

O QUE HÁ POR TRÁS DAS NUVENS?

A DOR QUE CORRÓI MINHA ALMA TEM NOME

ANDAR EM CÍRCULOS E CHEGAR A LUGAR NENHUM

CILADAS E DECISÕES

…TENHO MUITO ORGULHO DESTA HISTÓRIA!

A ANATOMIA DE UMA SOCIEDADE

AMENIDADES PARA UM DIA DE OUTONO

O MUNDO É UM MOINHO

Uma vez por semana, em jornada dupla, me assegura uma semana inteira para me re-significar e transformar-me para a próxima jornada; dias de muitas perdas, dias sem perdas, dias de muita correria, dias de muita calmaria, pais envolvidos, pais pouco presentes, luta clínica contra o tempo e contra a senhora Morte; quem diria que eu me envolveria assim, com este detalhe na profissão? Não me digam: é uma missão. Não há missões; há escolhas. Agradeço, a cada dia, a presença de Telma Marques em minha formação; foi ela quem me contagiou, com sua firmeza, sua sabedoria e sua prontidão. Noites frias, aulas longas, cansaço, mas na prática a coisa tem sabor: sabor de luta constante.

Sabor de zelo pela vida e pelo próximo. Suficiente.

4. E nova aliança que se fortalece, com grupos de pessoas que participam de eventos sobre o envelhecimento. Estão, inclusive me sugerindo vídeos no Youtube, coisa que estou pensando, analisando prós e contras, mas se for para ajudar e para compartilhar, talvez, abrace a ideia. Estranho, porque quando se vai a uma palestra sobre envelhecimento, só se houve doença, tristezas e solidão. Mentira! A vida é bela e pode ser bela até o último capítulo.

Basta apenas ser prudente e ter claro as condutas que pretende assumir na trajetória. Tenho acertado na dose porque tenho recebido consultas e palavras de incentivo para continuar com as palestras, mas sempre me questiono: e a família do idoso? Onde anda que não percebo a participação deles? Então, nesta etapa da vida, no envelhecimento, a pele perde o viço mas o espirito é grandemente visível e fortalecido; prefiro o espírito.(Foto: ajufest.com.br)


Afonso Antonio Machado é docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.


VEJA VÍDEOS

GINECOLOGISTA LUCIANE WOOD FALA SOBRE AS NOVIDADES ESTÉTICAS E COSMÉTICAS PARA OS GENITAIS

CORRETOR CAMPOS SALLES TEM DICA PARA QUEM QUER SAIR DO ALUGUEL

PRECISANDO DE BOLSA DE ESTUDOS? O JUNDIAÍ AGORA VAI AJUDAR VOCÊ. É SÓ CLICAR AQUI

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES

ESCOLA PROFESSOR LUIZ ROSA, 102 ANOS

FOTÓGRAFO MÁRIO SÉRGIO ESTEVES APRENDEU LINGUAGEM DA PUBLICIDADE NO ROSA

UM TERÇO DA VIDA DE DANIEL FOI NO ROSA

“O ROSA FOI A BASE PARA MINHA PROFISSÃO”, AFIRMA RENAN

PROJETO INTEGRADOR AJUDA AMANI NA FACULDADE

KAUÊ FEZ PUBLICIDADE NO ROSA E AGORA TRABALHA NA NESCAU

UMA FAMÍLIA QUE COMEÇOU E CONTINUA LIGADA À ESCOLA LUIZ ROSA

JÚLIA, DO CURSO DE PUBLICIDADE PARA O MACKENZIE

CONJUNTO DE CIRCUNSTÂNCIAS RESULTAM EM INOVAÇÕES NA ESCOLA PROFESSOR LUIZ ROSA

TEATRO ESTUDANTIL ROSA, O INÍCIO DA CARREIRA DO ATOR CARLOS MARIANO

CONHEÇA A HISTÓRIA DA ESCOLA MAIS TRADICIONAL E – AO MESMO TEMPO – MAIS INOVADORA DE JUNDIAÍ!

JOSÉ MAURO LORENCINI FOI ALUNO, PROFESSOR E PRESTADOR DE SERVIÇO

FERNANDO COSTA E SILVA, O EX-PROFESSOR QUE APRENDEU A SUPERAR LIMITES