A pergunta que deveria vir num tom de admiração por respeito e gerar satisfação, na maioria das vezes vem totalmente contrária, produzindo clima e sentimento desagradável. Nós, formados na área, constatamos que cada vez mais ela é feita num tom de ironia, como se fôssemos profissionais fora da realidade, sonhadores, que lutam por uma causa utópica, que vai contra o progresso… além de associarem-nos a uma ideologia política. Essa distorção vem favorecendo a degradação do planeta. E não é somente um lado culpado. Se a moeda tem dois lados, os dois lados têm sua parcela de responsabilidade. É isto que vou descrever neste texto, a partir dessa pergunta que muitas vezes recebo: “você é ambientalista?”
Em todo início de palestra, elimino essa ligação que muitos fazem com ativismo político, como se toda a área profissional relacionada ao meio ambiente estivesse atrelada a uma determinada ideologia. Meio ambiente está acima de ideologias, acima de “lados”. E nem está desassociado ao projeto de Deus, como podemos constatar em Gênesis: “E chamou Deus a porção seca terra, e ao ajuntamento das águas chamou mares; e viu Deus que era bom. E disse Deus: produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi. E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom”. Portanto, o meio ambiente é parte fundamental do projeto de Deus para os humanos, ao contrário do que alguns dizem: “assunto que não tem nada a ver com a igreja”… Tem e muito!
Essas distorções a respeito do assunto Meio Ambiente acabam levando milhares, milhões de pessoas a ficarem omissas diante da destruição contínua, ou com aquele pensamento retrógrado, irreal, que tudo o que é explorado, retirado nasce novamente ou se adapta. Em vez do homem se adaptar à natureza, invertem; para estes é a natureza que deve se adaptar aos caprichos e abusos do homem. Um conceito paternalista, ou muito mais, conceito de homem-deus. Aqui mais uma distorção, da própria Palavra em Gênesis, onde diz a Escritura “E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”. Este domínio significa administrar tudo isto que Deus criou no reino animal e vegetal. Administrar o planeta, compreendendo suas limitações, seus ciclos, para que nenhuma espécie seja extinta e sempre tenhamos o equilíbrio no clima, na fauna, na flora. No entanto, muitos não entendem que se trata de administrar, pensam que é somente retirar, retirar, modificar, modificar conforme suas vontades, para seu conforto e impulso de dominação irracional, em outras palavras, o erro de se interpretar ao pé da letra. O projeto de Deus corresponde à administração e não à exploração, ao uso inconsequente dos bens naturais.
Se o “lado B” levantou a bandeira ambiental, é porque o “lado A” não levantou quando precisava. Por exemplo, após a tragédia ambiental para a formação do Lago de Tucuruí, durante o governo militar. Imaginem falar em meio ambiente naquela época! Era ser discriminado ou até vigiado, suspeito de ser “subversivo”. Mas tivemos o período “entressafras”, metade da década de 80 até os anos 90. Quando os grupos políticos mais moderados poderiam e deveriam abraçar com força a causa, inclusive investindo maciçamente no aperfeiçoamento profissional, científico. Dormiram no ponto! E exemplo para seguir não faltou. Muitos viajaram, inclusive viagens justificadas como seminários, congressos, conferências… eventos sérios (a maioria, penso), mas não aplicaram o aprendizado. Muitos políticos foram mesmo para turismo e acrescentar o evento no currículo. Agora, aplicar o que aprenderam… quem viu resultado prático em sua cidade? Congressos ambientais foram muitos, principalmente na década de 90, sendo que países europeus, tardiamente, investiram na recuperação ambiental nas áreas urbanas e rurais. Estados Unidos idem. Depois de séculos de destruição, começaram a recuperar o prejuízo ambiental. Claro, não santificarei isto, é sabido que existem determinados interesses nesses projetos, não dão ponto sem nó. Na proliferação de organizações não governamentais, existem as sérias, comprometidas realmente com a qualidade de vida no planeta, e outras que são meras fachadas. Ignorância generalizar, como alguns afirmam que todas são “picaretas”. Aqui em nossa região mesmo temos ONGs que exercem um trabalho exemplar há anos e tem a credibilidade da população.
A polarização política que presenciamos hoje no país só macula o trabalho ambiental sério. Um lado cria nas pessoas um sentimentalismo piegas, que não ajuda em nada. Isso pode ser percebido nas expressões exageradas de comiseração postadas por internautas nas notícias de crimes ambientais. Ou na “humanização” de animais. Sim, animais têm sentimentos. Mas são sentimentos de animais e não de humanos, por mais que consigamos estabelecer determinada comunicação, com gestos e sinais. A fidelidade do cão a nós humanos é impressionante. Os animais trazem mensagens. Mas não podemos criar excessos, conduzir a eles sentimentalismos que são danosos aos nossos próprios relacionamentos. Compreender o estado emocional do sofredor ou vítima, e fazer algo por essa pessoa ou por um animal, é um ato nobre e espiritual, que deve ficar somente entre aquelas pessoas, e não ser alardeado. Corresponde, de certa forma, à compaixão. Diferente das expressões orais ou escritas de “dó”. “Que dó”. Isso é terrível. Só atrapalha. E se trata de um engano da própria pessoa que assim se manifesta. Na mesma linha, a expressão que tanto vemos na internet: “coitadinhos dos animais”. Este tipo de manifestação não corresponde aos verdadeiros ensinamentos ambientais. Do outro lado da moeda, a militância que vai ao extremo oposto: “quem gosta de mato é bicho ou índio”. Expressões que costumamos ver também na internet. E onde o sentimento humano (que é diferente do sentimentalismo, da pieguice) está quase que ausente. Sim, quase, porque o sentimento destes é só pelos seus próximos e não pelo coletivo e pelo planeta.
Diante deste cenário, o técnico ambiental (prefiro este termo e não “ambientalista”) fica entre a cruz e a espada. A causa ambiental é apunhalada de ambos os lados pelos seus excessos, pela visão distorcida e inclusive pela omissão. Enquanto travam uma guerra de palavras nos canais virtuais, os crimes ambientais se alastram país afora. E o pior, são expressões e assuntos que já viraram clichê. Um lado aponta o desmatamento para construção de condomínios. O outro rebate com o desmatamento provocado por invasores ou por aquele grupo que circula pelo país (que dispensa maiores apresentações). E a verdade é que ambos, de alguma forma, pelas brechas das leis e costas quentes, faz o estrago. Maior exemplo está na região das represas de São Paulo. Ali, nos últimos trinta anos, foram feitas invasões populares (que depois o próprio poder público regularizou) e foram construídos também condomínios para as camadas A e B. Mas cada lado só fala do quintal do vizinho! Outro assunto desgastado e que não conduz a lugar algum nos debates entre os dois lados da moeda, é o “aquecimento global”. Assunto que guarda muito segredo nos bastidores. E população e até nós, técnicos, estamos distantes.
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Toleramos a expressão ambientalista, porém o negócio é técnico. Apoiamos a defesa ambiental. Mas o assunto é extremamente sério. E a situação é sim crítica, mesmo com todos os avanços trazidos pelas leis, pelo Código Florestal… mesmo com tantas prefeituras investindo em parques, em recuperação de áreas degradadas, mananciais, recuperação de matas ciliares.E o primeiro passo a dar se quisermos abraçar a causa com seriedade e não por “modinha”, é sairmos dessa amarração feita pela polarização política.(Ilustração: eduglobal.cl)

GEORGE ANDRÉ SAVY
Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.
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