Que o SIM seja sim e o NÃO seja não. Será muito difícil?

SIM

E as coisas que nos aparecem, seguem a ordem do mais do mesmo, não é? Pouca coisa muda no cenário do País do Absurdo, poucas alterações, sendo que as vezes mudam os artistas do palco e as vezes mudam os temas, mas o futeboltem sido algo recorrente e alucina uma parte grande de seguidores, sim. Seja por seus apelos midiáticos, pela catarse que proporciona (ou tenta proporcionar), pelo apelo midiático a que se presta (e se favorece) e pela ilusória possibilidade da mudança na escala social.

Terminamos campeões do Campeonato Mundial Sub 20. As entrevistas apresentadas nos canais de TV abertas e por assinatura foram das grotescas. Até infames, sempre explorando a origem humilde do atleta e sua crescente escalada, no mundo esportivo. Neste território, as cifras em dólares eram sempre bem pontuadas e as propostas, como num banco de ofertas, faziam projeções futuras.

Indagados, todos, sem exceções, diziam de suas felicidades pelo rendimento atlético e em sua alegria por poder ajudar a família. Todos apontavam um membro da família merecedor de uma casa ou de uma ajuda substanciosa, devido a ajuda oferecida na carreira inicial e promissora. Tal qual a “galinha dos ovos de ouro”. São jovens sem orientação futura, que se escravizam para levar a família a um patamar mais elevado, conforme constatado por Gama, em sua tese de doutorado.

Qual problema há nisso? Nenhum, desde que não se deixe de apontar que estes jovens são semiescolarizados, que abandonaram seus lares ainda crianças (a maioria deles) para morar em locais insalubres e com refeições incompletas, sem orientações de adultos que pudessem acompanhar e planejar seu desenvolvimento com calma e retidão, mas que têm o compromisso de sustentar a família, porque são promissores.

Talvez não percebamos o mal escondido neste trajeto, mas a falta de uma companhia idônea deixa-os expostos às mais variadas formas de exploração, que vai do serviço escravo, à especialização esportiva precoce e à exploração sexual, sempre em troca de um lugar para apresentar seu futebol. Sempre disposto a galgar o estrelato e se transformar num Neymar (oh, my God!!!) ou num astro do futebol europeu, sem ao menos perceber a distância existente entre as realidades tupiniquins e do primeiro mundo.

Não se trata de uma crítica social, mas de uma constatação, exaustivamente analisada e discutida e desvelada em estudos acadêmicos divulgados e analisados à exaustão, mas que ainda causa ondas de glamour entre os poucos cautelosos. Óbvio está que os atletas, pouco cultos, não percebam que são a moeda de troca; óbvio está que seus empresários pouco se preocupem com isso (pois levam maior parte do lucro) mas pensar que toda uma população aplauda esta situação nos deixa perplexo: ou são ingênuos ou igualmente safados.

E os jovens atletas, felizes com seus desempenhos justos, realizam suas projeções de mudarem para grandes equipes, serem convocados para Jogos Olímpicos e pertencerem à elite da modalidade que rouba o fôlego da nação brasileira, que está imersa na anestesia do título de campeão. Não percebe nem as questões mais óbvias de desordem social ou de aumento de feminicídio, ou de mudanças previdenciárias ou coisas que atormentam a vida do cidadão. É hora de curtir o título.

No mesmo sentido segue a vitória do time carioca, que tão bem representou o Brasil. Com um joguinho fraco, levou a sorte de um Gabigol marcar dois gols em momentos finais da partida. Sim, mérito dele, mas o nível do jogo era ruim, o adversário estava dando suador na equipe brasileira, sejamos francos. E então? Então ganhamos um campeonato de vulto, esquecemos nossos problemas internos e vamos para a rua festejar.

Soa semelhante ao circo romano. Soa igual ao toque de músicas clássicas tocadas enquanto os judeus caminhavam para as salas de extermínio. Ou soa igual a um período histórico, de um país da América do Sul, que enquanto o povo apanhava no DEOPS a multidão assistia aos jogos de futebol. Não é crítica, é análise; é constatação. E a TV, com sua potência de imprimir situações, passa o dia a repetir a notícia, dando a imagem de um país grande, vencedor, de grande poder. Só não diz poder de quê.

Outra questão muito explorada nesta semana foi a morte do artista Gugu Liberato. Fui atrás de reportagens antiquíssimas, caminhando no tempo até coisa de uns cinco ou oito anos atrás, porque fiquei surpreso com tudo o que ouvi. De repente, aquele apresentador que fora tido como alguém que desdenhou seu criador (Sílvio Santos) se tornou o maior apresentador da TV brasileira (após a morte, é claro). E, ainda de repente, grandes nomes do cenário artístico brasileiro passam a confessar sua amizade e sua homenagem ao mais completo homem do palco.

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Estranho. Ou somos desmemoriados ou somos idiotizados. O que leva alguém a tomar esta atitude? Por que é necessário ressaltar, na morte, aquilo que era desqualificado em Vida? Por que precisamos beatificar o morto, se em vida não demos o devido valor? Penso em várias questões que possam responder: no “minuto de fama” advindo na fala cristã; na ingenuidade da fala diante de meio de comunicação tão poderoso quanto a TV; na necessidade de manter a hipocrisia e a falsa postura de amigo de todos; na certeza de que isso tudo é um circo. Não vejo outras possibilidades.

Pego-me pensando nos motivos de o sim ser tão difícil e o não tão implacável? Justamente porque eles indicam uma retidão de procedimentos e de caráter. E, assim sendo, não é fácil manter tal equilíbrio, na vida pública, regada por benesses e interesses escusos, em que podemos cair em ciladas difíceis de serem contornadas. Esta situação, da morte do Gugu Liberato, levou-me a pensar sobre as relações tóxicas, já citadas em uma de minhas crônicas: o poder do dominador e a exploração deste sobre os demais. Afinal, os minutos de fama precisam ser aproveitados, vai que são os últimos momentos. Como é difícil garantir integridade, em momentos bicudos.(Foto: poddtoppen.se)


Afonso Antonio Machado é docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.


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