Raul Seixas é tão importante, mas tão importante, que a obra dele já é tema de teses de doutorado. A informação é de Eduardo Vicente(foto ao lado), professor do Departamento de Cinema, Rádio e TV (CTR) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, a USP.
Eduardo é de Jundiaí e deixa claro que Raulzito foi e é importante para ele. A entrevista com o professor:
Na sua opinião, como estudioso da música, qual a importância de Raul Seixas?
O Raul chegou faz algum tempo na academia. Há teses de doutorado e dissertações de mestrado falando sobre a obra dele. Acho que só isso já mostra que o trabalho dele teve muita importância e profundidade e toca em muitas coisas.
E para você, em particular?
Para mim, Raul foi muito importante por vários motivos. Em primeiro lugar, num momento de grande repressão política, os chamados anos de chumbo da ditadura, ele ousou questionar os comportamentos e a moral estabelecida, além dos valores materiais da sociedade. Em 1972, por exemplo, com o clima de agora vai e milagre econômico, ele lança Ouro de Tolo, louva a sociedade alternativa que ele planejava criar…. Em outro momento afirma – apenas para provocar o conservadorismo religiosos – que o Diabo é o pai do rock… Assim, à sua maneira, diria que a obra dele foi bastante política e acho que ainda é muito atual pelas provocações que faz. Infelizmente o mundo não evoluiu tanto assim.
Além disso, acho que ele buscava transpor questões complexas para uma linguagem simples e trazer para a canção popular referências filosóficas (especialmente da tradição hindu), a obras como a o ocultista britânico Aleister Crowley, passagens da história universal, o movimento estudantil francês de 1968…
Qual o segredo dele?
Raul não tinha nenhum problema em usar estruturas musicais e líricas simples e diretas, ao contrário do que acontecia normalmente na MPB, muito mais ligada à tradição da bossa-nova e à busca por uma expressão musical mais complexa. Acho que o segredo do sucesso de Raul foi não ter aberto mão da simplicidade sem perder de vista, em muitos de seus trabalhos, a ideia de que queria passar uma mensagem mais complexa e profunda, que ia além do mero entretenimento. Isso era fácil para Raul porque, além do talento como compositor, ele trabalhou durante alguns anos, antes de se tornar uma estrela da música, como produtor musical. Assim, ele conhecia muito bem as engrenagens da indústria, as estratégias de promoção e as receitas do sucesso (ele produziu música romântica, jovem guarda, música brega…). Eu cantei muito duas músicas de Raul que marcaram minha vida: Metamorfose Ambulante e Cachorro Urubu. A primeira, além de ser uma grande música, fala da eterna mudança e dos muitos eus que existem em cada um de nós. Cachorro Urubu fala em enfrentar as lutas e dilemas da vida, enfim, em resistir.
Afinal, Raul fazia MPB ou rock?
Raul amava suas influências norte-americanas e inglesas, mas fez um rock autenticamente brasileiro, misturando muitas vezes influências do brega, da música nordestina e também não se rendeu à temática romântica (como Rita Lee, Erasmo Carlos…). Com isso tudo, acho que ele ocupou um lugar único em sua época e, em certa medida, foi um punk antes do punk. Não é à toa que a banda Camisa de Vênus sempre lhe fez tantas homenagens. Claro que ele era filho de seu tempo e algumas de suas músicas eram bastante machistas. Rock das Aranhas nem é a única. Mas outras são sensacionais e trazem grandes temas e mensagens. (Foto: www.letras.mus.br)
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