Diante de tantas propostas, a Vida faz com que nos coloquemos diante daquela que parece ser a mais adequada, para o momento. Diríamos, na Psicologia Bioecológica, que é a verdadeira interação do homem com seu contexto que permite este ajuste ou reajuste. Claro está que a motivação e o desejo compõe o quadro e lá vamos nós para mais uma etapa da caminhada.
Como já disse anteriormente, isto não é uma tarefa fácil e nem sempre é prazerosa, pois envolve desistências de outras propostas e mais: desgasta e traz sofrimentos causados pela perda ou incerteza. Mas não existe outra forma de participarmos da Vida, sendo o ator de nossas escolhas e funções, construindo nossa caminhada como melhor nos convier.
Estas etapas carregam em si o gosto de decisão incomoda visto que parece-nos acontecer em momentos inoportunos ou em épocas em que preferiríamos o sossego da zona de conforto. Porém, no jogo de xadrez que a Vida apresente, o momento e a forma são escolhidos por Ela. Então vamos.
Acredito que todos meus amigos, ao menos uma vez por semana, assistem jornais ou noticiários pela televisão. Aberta ou fechada, sempre temos as entrevistas em programações exclusivas ou furos de reportagens, o que nos deixa sempre à mira de pérolas que nos causam transtornos mentais. Refiro-me aos jargões empregados em situações específicas.
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Como não sou muito afeito aos meandros nem aos jargões, sinto estranheza e me pego indagando sobre seus usos: seria uma obrigatoriedade naquela profissão? Seria um cacoete utilizado naquela confraria? É algo próprio e específico daquele acontecimento?
Claro que percebo, também, que nestas falas televisivas ou impressas vai muito dos filtros do “socialmente correto”, outra indústria do absurdo! Se pensarmos no mais elementar, criou-se o hábito “moderno e politicamente correto” de anunciar “os senhores e as senhoras”, quando as melhores das nomenclaturas da língua portuguesa apontam que num grupamento de pessoas, se tivermos uma pessoa do sexo/gênero masculino, a concordância segue no masculino.
Daí que vemos em discursos políticos, em aberturas de congressos, em palestras e até em aulas a fala para os “senhores e senhoras” ou para os “meninas e meninas”, trazendo a alegria de muitos e certo olhar de distanciamento ou escamoteamento das regras da Língua Mãe. Será que usar este tipo de tratamento é o suficiente para demonstrar respeito aos senhores e às senhoras? Estará consolidado que, ao me dirigir assim, todo o público estará acolhido e confirmado, em seu lugar de conforto e segurança, com seus direitos garantidos? Não é o que vejo, infelizmente.
Inclusive, a fala “politicamente correta” como já disse em artigo anterior, me preocupa, porque geralmente aparece em bocas pouco politicamente corretas e adequadas, mas populacionistas e cheias de saídas pouco convencionais. Cansa aos atentos notar que a linguagem passa a ser manipulada e tratada como moeda de impregnação ideológica.
Entretanto, aos mais atentos, Althusser já havia dito isto, em seu tão bem elaborado “Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado”. A situação avança mais e já temos outra manifestação de expressão, para diminuir ou anular a proposta de especificar gêneros: o final em x….meninix, garotx, alunex e ai se segue, para que os militantes ou adeptos da multiplicidade de gêneros sintam-se contemplados e não firam suscetibilidades.
Analisando: se eu colocar o “x” no final das palavras, estarei sendo politicamente correto, mas estarei respeitando e tratando com urbanismo e civilidade a toda a população? Ou estarei sendo moderno e atendendo aos olhares dos “antenados” e das várias tribos que constituem nossa diversidade sexual, apenas? Será que a fala supera a ação? Para analisar.
Durante um dos incêndios ocorridos no inicio desta semana, em São Paulo, a cobertura jornalística fez excelente trabalho e apresentou entrevistas e imagens que por si só demonstravam o perigo a que estamos expostos, em situações onde não haja um cuidado com fiação elétrica ou galões de combustíveis em nossas residências ou locais de trabalho. Chamou a atenção, no entanto, uma entrevista em que o oficial de uma das fontes de segurança mencionou o fato de que as labaredas foram coibidas (represadas, refreadas, controladas, moderadas, reprimidas, paradas) e que os meliantes que “imputaram” fogo estavam sendo procurados.
Analisando: se fosse dito que o fogo estava controlado e que as autoridades estavam procurando pelos possíveis responsáveis, a notícia seria menos crédula? Não seria possível entender o que era transmitido? A busca por palavras distante da linguagem popular imprimem respeito ou credibilidade? Ou ficam apenas estranhas, cômicas e motivo de vários comentários, como este? Tais falas fogem da língua usualmente conhecida e a estranheza causa risadas e repetições.
Como se ouve nas falas de jogadores: “E o time está bem preparado, agora é ir em cima dos três pontos”. Quando não trazem palavras do Evangelho ou de ordem religiosa, como se o Mundo fosse uma imensa comunidade evangélica, onde todos temos que exaltar e repetir salmos e trechos bíblicos; quanto ao estilo de vida…bem, isto é outro departamento.
Nesta situação o que mais fica saliente é que nem sempre os exemplos são os melhores: muita bebedeira, muita proximidade com drogas (conforme fotos e informações jornalísticas), noitadas e gastos excessivos e nenhuma proposta social ou beneficente de efeito são informadas ou realizadas. O discurso fica vazio de propósito.
Daí, como disse no artigo anterior, fico pensando no que meus amados professores Paulo Vieira, Jezabel Camargo e Beni Marchi fariam caso um de seus alunos tivessem um comportamento tão peculiar com a Língua Mãe. Em nossas aulas de leitura, escrita e gramática éramos ensinados e cobrados pelo oficial e, se fossemos pelo popular, ao menos uma fala sem afetações e impropriedades. Uma fala de pessoas normais que se comunicam com normais, no dia a dia.
Sugiro analisar. Apenas analisar.
Ontem li um encarte da Folha de São Paulo, a respeito de cursos online. O tão propagado ensino a distância que faz sucesso fora do Brasil, pela eficiência e pela seriedade. Uma série de artigos que tratavam da questão, sempre indicando os pontos favoráveis e poucos detalhes que poderiam dificultar o andamento de um curso, seja do nível que for.
O interessante é que as faculdades se colocam como usuárias do ensino a distância; o EAD já é uma realidade no Brasil, apesar de seu serviço ser muito aquém do esperado. Temos problemas de logística que primam pelo primitivo: programas antigos, telas fixas, sem movimentação e sem dinamismo, pouco interatividade. E, com isto, as desistências ficam grandes, superior a cinquenta por cento dos ingressantes, segundo as reportagens.
Pensar que as melhores universidades do mundo, as mais conceituadas e mais procuradas oferecem cursos em EAD, inclusive já em nível de Mestrado e alguns Doutorados; enquanto isso, nós estamos buscando uma saída para cursos de atualização e especialização e algumas disciplinas no ensino superior, ainda que não estejamos assim tão prontos para tal investimento. Realmente não é fato que tudo corre bem: temos grandes lacunas, pouca interação e menor adesão ainda, quando se pensa em ingressar num curso de mensalidades altas e uma grade de muitas disciplinas á distância.
Pior fica ler que os tutores estarão sempre prontos para respostas e consultas e, como sabem, estou cursando uma faculdade com disciplinas em EAD, além de uma especialização que realizei junto a uma universidade de outro estado e não é o que vivo: meus tutores me respondem depois de tudo resolvido ou respondem B quando eu questiono A. Esta forma de tutoria não agrada e não favorece aos alunos, nem a instituição que fica desacreditada.
Mas, e o conteúdo? Sou obrigado a dizer que o conteúdo é fundamental e que minhas experiências são as melhores possíveis, neste item. Tanto na graduação como na especialização fui impactado pelo teor do conteúdo, muito em escolhido e apresentado, valendo a pena se arquivado e utilizado no decorrer da vida profissional.
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Acredito que um bom curso se faça por um conjunto de elementos e a programação de uma grade de disciplinas a distância merece cuidados básicos da mantenedora; se creio nisso, imagino o que deva ser necessário para toda uma graduação ser a distancia. Professores, conteúdos, tutores, matérias áudio e visuais muito bem sintonizados e disponíveis a todo instante, pois este é o mote do ensino à distancia.
Analisando esta questão, sempre me pergunto: haverá acreditação neste tipo de ensino, em nosso país, diante de tantas coisas muambas que vemos no ensino presencial? E já me antecipo: poucas coisas dão certo em nosso país, porque queremos sempre uma maneira de escamotear ou burlar seguranças, buscando vantagens além das já oferecidas. Uma pena.
Para que tenhamos efeito nestes avanços é necessário que todo o núcleo educacional esteja envolvido em ações pró-ativas e de adequação ao universo online. Alunos e professores predispostos a interagir num ambiente presencial ou à distancia com objetivos comuns; instituições preocupadas em oferecer um conhecimento de nível, muito mais do que ampliar numero de alunos e aumentar seus impérios. Desculpem, acho que viajei nesta utopia.
Isso não existe. Existe sim o valor que significa cada nova matrícula. Saber? Saber para que se nem os alunos estão assim tão habilitados e tão pouco interessados pelo saber…utopia….utopia….viajei. (foto acima: ritaoleastro.blogspot.com.br)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.